quarta-feira, 4 de abril de 2018

Economia caminha devagar no primeiro trimestre: Editorial | Valor Econômico

A expectativa de um crescimento muito robusto da economia no ano, acima dos 3%, começa a ser calibrada para baixo depois de alguns números pouco alentadores de janeiro e fevereiro. A indústria, depois de recuar 2,4% em janeiro, ficou perto da estabilidade (0,2%) em fevereiro. O setor de serviços iniciou o ano com sua maior queda desde março de 2017, com queda de 1,9%. As projeções do Focus mostram discreta redução, de 2,9% há 4 semanas para 2,84%. O Banco Central estima que o ano feche em 2,6%. As estatísticas confirmam uma reação ainda lenta, com possibilidade de aceleração ainda no primeiro semestre.

Há amplos fatores favoráveis a maior dinamismo das atividades econômicas nos próximos meses. A massa salarial continua crescendo, com o aumento do emprego, ainda que ele se dê preponderantemente pelo aumento do trabalho informal. Mas a mão de obra formal que se manteve ocupada nos últimos meses teve aumentos reais proporcionados pela queda forte da inflação e por acordos salariais com reajustes (modestos) acima dos índices de preços.

Do lado da demanda, o consumo das famílias, cujo desempenho move dois terços do PIB, está sendo beneficiado em primeiro lugar pela queda dos juros, processo ainda em via de ajustes para baixo, cujos efeitos deverão ser sentidos com mais intensidade ao longo do ano, se os bancos não travarem suas margens e repassarem afinal o corte de 7,75 pontos percentuais da taxa Selic.

A capacidade para tomar crédito melhorou. Há mais confiança na manutenção do emprego e o nível de endividamento é agora menor do que no auge da recessão. Estudo do Banco Central sobre o destino da liberação do FGTS, contido no Relatório de Inflação de março, mostrou que uma expressiva parcela dos beneficiados (38,4%) optou por reduzir suas dívidas na ocasião.

O comportamento do setor de serviços, com maior peso no PIB pelo lado da oferta, encolheu em janeiro (1,9%), cifra que esconde promessas e desafios. Um ponto positivo é que com isso a inflação do setor, sempre muito acima do IPCA, caminha para a média de uma inflação já muito comportada, de 3,5% em 2018 (previsão do Banco Central). A desvantagem é que parte do setor se move ao sabor do salário mínimo, que teve reajuste por um índice de inflação muito baixo e demorará mais tempo a reagir. O outro lado dos serviços, ligados à indústria, teve bom desempenho no primeiro mês do ano.

Outro motor esperado do crescimento será o investimento, cujo comportamento está cercado de dúvidas diante do ambiente eleitoral. O BC espera uma expansão de 4%, comedida em relação a outros momentos em que a economia deixou um ciclo recessivo. De qualquer forma, tanto a produção doméstica quanto as importações de bens de capital, um dos termômetros, se saíram bem no primeiro trimestre. Não se espera uma grande corrida a novos projetos, mas a demanda por modernização parcial e reposição está acontecendo e em bom ritmo. A produção doméstica subiu 12,6% no primeiro bimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações de máquinas e equipamentos aumentaram 18,2% de janeiro a março.

Mais um sinal alentador para a produção industrial, não apenas de máquinas, foi o salto da importação de bens intermediários, que guarda estreita correlação com a produção doméstica - 24,2% em março e 9,8% no primeiro trimestre. As bases de comparação, nesse item como nos demais, são, porém, muito baixas.

Pode refrear o potencial de recuperação doméstica uma reversão no cenário externo, possível, mas ainda não muito provável. Os índices de gerentes de compras da zona do euro, China, Japão, Coreia do Sul e Taiwan em março caíram sincronizadamente. A demanda por exportações fraquejou, o que pode ser um primeiro sinal de inquietação com a guerra comercial abstrusa declarada pelo presidente Donald Trump. O IHS Markit relata que os gerentes apontaram "maiores sinais de restrições nas cadeias de suprimentos, freando o crescimento e elevando preços das matérias primas". Os mercados acionários americanos ensaiam correção baixista, enquanto que o Federal Reserve se mostra dividido sobre elevar os juros mais duas ou três vezes este ano.

Nenhum comentário: