- Valor Econômico
Fracasso econômico é o que tira Meirelles da sucessão
Alas do PSDB e do MDB retomaram as conversas sobre uma aliança na sucessão presidencial. Nem todos os tucanos querem a companhia do partido do governo, seja pelo envolvimento de seus principais líderes com a corrupção seja pela reprovação recorde do presidente Michel Temer nas pesquisas eleitorais.
A ala do PSDB que quer a aliança com o MDB acredita que o partido aceitará a composição e pedirá a Vice-Presidência para o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro nos governos FHC e Dilma Rousseff Nelson Jobim. É o nome que agradaria Geraldo Alckmin, o pré-candidato do PSDB.
O PSDB se movimenta de novo para juntar o centro político, e nessa investida trabalha com mais de uma alternativa. Jobim é o candidato que mais agrada a Alckmin, mas o MDB indicará quem achar melhor. Ter a simpatia do candidato, no entanto, ajuda.
Jobim faz parte do chamado grupo ético do MDB. Em princípio seria o escolhido só pela preferência de Alckmin. Pode ser. Mas não se deve esquecer que o político gaúcho é polivalente. Além de trânsito fácil nas três legendas - MDB, PSDB e PT -, o ex-ministro já presidiu a instância mais alta do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF).
Num momento de conflito entre os poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário -, seria preciosa a experiência e o conhecimento que Jobim tem do Congresso (foi deputado constituinte), do governo (foi ministro de dois governos) e dos tribunais superiores.
A opção no MDB poderia ser Henrique Meirelles, o pré-candidato oficial do partido. Mas o ex-ministro de Temer e de Luiz Inácio Lula da Silva perdeu terreno nos últimos dias. O motivo não é a impopularidade do governo nem seu fraco desempenho nas pesquisas eleitorais. É outro: não entregou o que prometeu na economia.
Meirelles dança não só por ser um candidato de 1%, mas porque a economia foi para o espaço, vai mal. Os economistas já reviram a projeção de crescimento para menos de 2%. O desemprego está quase tão alto quanto aquele recebido das mãos da ex-presidente Dilma Rousseff. Já seria difícil por conta da alta rejeição do governo, sem bons números na economia é impraticável.
Ninguém quer saber se a culpa do fracasso na economia é da política e de o presidente ter saído da festa de aniversário de um jornalista para ir conversar com o empresário Joesley Batista. É ociosa a discussão de que a situação seria outra. Naquele maio de 2017, antes da conversa entre o presidente e o empresário, o governo estava na ofensiva no Congresso, mas ninguém pode dizer com certeza que a reforma da Previdência seria aprovada.
Se o MDB não se deslocar em direção da candidatura do PSDB, a prioridade de Alckmin passa a ser o senador Alvaro Dias, pré-candidato do Podemos ao Palácio do Planalto. Dias é um dreno de votos do presidenciável tucano, especialmente na região Sul do país, onde aparece bem à frente de Alckmin nas pesquisas eleitorais. Por enquanto, o pré-candidato do Podemos permanece firme na intenção de disputar o primeiro turno e deixar para o segundo conversas sobre apoio e alianças.
Na hipótese de também a investida sobre Dias não dar certo, o vice de Alckmin tanto pode ser o executivo Flávio Rocha, recém-filiado ao PRB, como o empresário Josué Gomes, por indicação do PR. Mas aí estaria virtualmente configurada a incapacidade do candidato para armar a mega coligação de centro-direita.
Candidaturas como a do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), mal são consideradas entre os partidos que tentam recosturar o centro. A composição nacional passa pela eleição para o governo de São Paulo, onde o DEM desde há muito está fechado com Alckmin.
Por gestão de Alckmin o PP, em São Paulo, deve ir com Márcio França (PSB) na disputa estadual - e o DEM vai com João Doria (PSDB). A relação entre Alckmin e Doria é razoável, mas é considerado pule de dez que os dois terão dificuldades pela frente.
A possibilidade de Geraldo Alckmin ser substituído pelo PSDB hoje é igual a zero. Geraldo e João serão os candidatos do PSDB a presidente da República e ao governo de São Paulo, respectivamente. Ponto.
A candidatura a vice-governador na chapa de João Doria é do PSD. Seria do ministro das Comunicações, Ciência e Tecnologia e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mas este decidiu ficar no ministério e enviar um recado ao candidato a governador: pode liberar a vaga do PSD para o partido que melhor contribuir para a composição da aliança.
Entre os partidos que discutem a recomposição do centro em torno de Alckmin o desenho da sucessão tem no segundo turno o candidato a ser indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse candidato pode ser Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo, ou o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT. Ciro Gomes no segundo turno, sem o apoio de Lula, é mais difícil. No entanto, é uma hipótese avaliada.
No quadro atual, disputam a segunda vaga os pré-candidatos Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede Sustentabilidade), Geraldo Alckmin (PSDB) e Alvaro Dias (Podemos). Todo o resto é segunda divisão. O PR, o PRB e o Solidariedade - a turma do leilão vai com alguém. Só está esperando o pregão para bater o martelo.
O panorama visto do alto da ponte é o seguinte, hoje: Bolsonaro desidrata (o sonho de Alckmin) ou vai para o segundo turno. Não há meio termo. Se Bolsonaro for para o segundo turno, Marina Silva vai para a esquerda. Geraldo Alckmin e Alvaro Dias provavelmente não vão com ninguém. Este é um desenho que assusta os mais moderados e certamente deve ajudar na tentativa de reestruturação do centro.
Mais assustadora, ainda, é a constatação de que o PSDB e seus eventuais aliados praticamente jogaram a toalha no Nordeste, onde projetam que o candidato de Lula entra com cerca de 30% dos votos. Em princípio, o candidato a vice de Alckmin seria da região e o mais cotado era o ex-ministro da Educação Mendonça Filho, do DEM. O processo sempre pode levar a outro lugar, mas hoje o vice é do MDB.
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