terça-feira, 19 de junho de 2018

Ex-tucano, Álvaro Dias é entrave para crescimento de Alckmin

Pré-candidato do PSDB ofereceu cargos em troca da desistência do adversário

Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- Companheiro de partido do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, durante mais de uma década, o presidenciável do Podemos, senador Álvaro Dias, tornou-se, nesta eleição, um dos principais obstáculos ao projeto de poder tucano. Com 4% das intenções de voto no último Datafolha, Dias virou uma barreira para o crescimento de Alckmin nos estados de Sul e Sudeste, onde o PSDB costuma ter um bom desempenho.

Estagnado nas pesquisas — registrou 7% no último Datafolha —, Alckmin decidiu intensificar agendas de campanha no Sul para reconquistar o território perdido. Ontem, ele disse que precisar ser “mais conhecido” no país. O tucano já esteve no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Ele deve voltar a Florianópolis hoje.

Integrantes da campanha do PSDB admitem que os votos perdidos pelo crescimento de Dias estão fazendo falta no Sul e em São Paulo. Para estancar a sangria, os tucanos tentaram, há alguns meses, demover o Podemos de manter a candidatura de Dias a presidente. Emissários de Alckmin ofereceram à direção do partido secretarias no governo de São Paulo, mas o plano de cooptação não deu certo.

A relação entre Dias e a campanha de Alckmin passou a ser tensa desde então. Embora tenha pregado a união de partidos em torno de um candidato de centro, o senador do Podemos não pensa em associar seu projeto eleitoral ao tucano. Parlamentares do PSDB do Paraná, como o deputado Luiz Carlos Hauly, já avisaram ao comando que farão campanha para Alckmin, mas que não podem sair criticando Dias nem fazer campanha contra ele. Alguns tucanos ainda sonham que, na convergência dos partidos de centro, Dias volte a se aliar ao PSDB — o próprio senador, no entanto, tem descartado essa possibilidade em conversas com aliados.

Álvaro Dias já foi líder do PSDB no Senado, mas deixou o partido, em 2016, depois de muito desgaste e de bater de frente com as posições da sigla, especialmente no processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele criticava a decisão do comando do partido de apoiar apenas a saída de Dilma, aceitando até mesmo a participação no governo de Michel Temer, que era vice e assumiu a Presidência com o afastamento da petista. Nas disputas internas, Álvaro também viu seus planos no Paraná serem preteridos pelo projeto do ex-governador Beto Richa (PSDB), aliado de Aécio.

ALCKMIN BUSCA OUTROS PARTIDOS
Ciente do estrago que está fazendo na base eleitoral do PSDB no Sul e Sudeste, Dias diz que “ninguém é dono dos votos” e, por isso, trabalha para crescer até mesmo em São Paulo, terra do pré-candidato tucano. Para superar o impacto da candidatura de Dias, além das viagens, Alckmin quer intensificar as alianças com os partidos de médio porte, como o PSD, de Gilberto Kassab. Na noite de domingo, ele jantou com a cúpula do PSD, em São Paulo, na residência de Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O encontro contou com as presenças do coordenador político da campanha de Alckmin, o exgovernador de Goiás Marconi Perillo, e do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, além do ex-senador Jorge Bornhausen, ex-DEM e ligado a Kassab.

Segundo Bornhausen, as conversas estão muito bem encaminhadas. No encontro, Alckmin repetiu ter o apoio de pelo menos quatro partidos, já incluindo aí o PSD e o PTB, de Roberto Jefferson. O PV e o PPS completariam a lista de apoios. Além disso, Alckmin teve uma reunião para definir os próximos passos com o seu núcleo de campanha, composto por Perillo e os tucanos José Aníbal, que foi senador e deputado, e Pimenta da Veiga, ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso.

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