- Folha de S. Paulo
Ao ofender vereador, presidenciável evidencia risco a sua viabilidade eleitoral
Ciro Gomes é um eterno penitente. Em 2002, quando concorreu ao Planalto pela segunda vez, lamentou ter chamado de burro um homem que o atacara durante um programa de rádio. “Para ser presidente da República, eu tenho que ter a capacidade de nunca mais me deixar levar por uma provocação dessa natureza. É uma lição que eu aprendi.”
Faltou fazer o dever de casa. Em entrevista à rádio Jovem Pan nesta segunda (18), o presidenciável pelo PDT disse que se arrependia de declarações feitas ao longo de sua vida pública. “O povo precisa saber que, sob estresse, o seu futuro presidente sabe se comportar”, afirmou.
Em menos de cinco minutos, Ciro desferiu seu mais novo insulto. Chamou de “capitãozinho do mato” o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM). “A pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar”, declarou.
Holiday é negro, crítico de ações afirmativas como cotas raciais e nem havia sido mencionado na entrevista. Foi usado gratuitamente como escada por Ciro para ressaltar suas divergências com o DEM.
Embora pareça uma discussão moralista, o comportamento dos candidatos é um ponto relevante da disputa. Primeiro, representa um risco à viabilidade eleitoral. Exploradas por rivais, declarações agressivas e besteiras em geral podem acabar com uma campanha. Ciro que o diga.
Além disso, um candidato que desrespeita opositores, grupos sociais ou instituições poderá ser um governante com essas mesmas características —péssimo prenúncio em um país já conflagrado politicamente.
A tentação verborrágica nasce para todos. Jair Bolsonaro (PSL), entre inúmeros absurdos, fez ofensas racistas a quilombolas, e Geraldo Alckmin (PSDB) ironizou o ataque a tiros feitos contra a caravana de Lula.
Ao lastimar as bobagens ditas em 2002, Ciro afirmou que deveria se segurar para evitar prejuízos. “Eu não poderia ter sido um ser humano normal”, declarou. Agora, ele tem quatro meses para conquistar o superpoder de controlar as próprias palavras.
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