Há uma rarefeita oposição à onda de conservadorismo que se espraia na campanha eleitoral
Até pouco tempo atrás, era raro encontrar políticos que se identificassem como conservadores. Quase todos, invariavelmente, se definiam como “de centro” ou de “centro-esquerda”. Agora, uma onda conservadora se espraia pelo Brasil. Assiste-se a um desfile de porta-vozes do conservadorismo em busca de votos. É fenômeno global. Essa temporada eleitoral brasileira alavanca algumas candidaturas ao Executivo e ao Legislativo nas sondagens de intenção de voto. Merece estudo, porque, aparentemente, essa súbita afluência de ideais conservadores decorre de um longo processo de crispação política, protagonizado pelo PT e partidos satélites durante a última década e meia.
Desde 2010, o Ibope retrata o perfil do brasileiro conservador. A metodologia de pesquisas dessa natureza, por óbvio, sempre será passível de arguições. No entanto, deve-se ponderar sobre a relevância das sondagens, porque lançam luz sobre a evolução da sociedade no debate de temas de interesse coletivo, ainda que polêmico. Pesquisadores do instituto percorreram ruas de 142 cidades e ouviram 2.002 pessoas no primeiro trimestre deste ano. Os resultados mostram a prevalência da fração mais conservadora da opinião pública em questões referenciais, tais como aborto, casamento de pessoas do mesmo sexo, redução da maioridade penal e prisão perpétua para crimes hediondos.
Num exemplo, metade dos entrevistados se declarou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo (eram 44% na sondagem de 2016, e 54% em 2010).
Na mesma linha, 80% se posicionaram contra o direito das mulheres de decidir nos casos de aborto, sem a interferência do Estado (não passavam de 78% em 2016 e 2010). Essa tendência ascendente ao conservadorismo foi percebida, especialmente, entre mais velhos, famílias com renda entre dois e cinco salários mínimos, mais escolarizados, habitantes das regiões Norte e Centro-Oeste, e entre aqueles que não são católicos ou evangélicos. O Ibope concluiu que a proporção da população aderente a fundamentos conservadores sobre a vida em sociedade avançou de 49%, em 2010, para 54%, em 2016, e se aproximou de 55% no início deste ano. Sintoma da força conservadora no país está na rarefeita oposição aos seus fundamentos na campanha eleitoral em curso.
É notável nos debates presidenciais a inibição dos candidatos liberais e progressistas na defesa dos ideais que norteiam uma parte da população, ativa na reivindicação das liberdades civis.
Esse embate é fundamental e necessário. O confronto de ideias conduz ao reconhecimento da legitimidade dos porta-vozes. Não existe democracia sem autêntica representação de conservadores e liberais na arena política.
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