- O Estado de S.Paulo
Há rótulos que pegam e não saem. Esse de ‘machista, homofóbico e racista’ é um deles
A cômoda posição que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) desfruta na corrida presidencial desde a prisão de Lula começa a ser ameaçada por fantasmas criados no passado pelo próprio candidato. Quanto mais o tempo passa, quanto mais se afunila o processo eleitoral, mais parece grudar em Bolsonaro o rótulo de “machista, homofóbico e racista”. O deputado se defende, diz que na verdade é o único que procura proteger as mulheres da ameaça de estupro, que é a favor da castração química voluntária de estupradores, mas não adianta. É só verificar quão pequena é a aceitação dele pelo eleitorado feminino, conforme mostram as pesquisas sobre intenção de voto que medem também o eleitorado por sexo.
Bolsonaro sabe que não se livrará dessas questões nas entrevistas e nos debates. Está na cara que a ex-ministra Marina Silva (Rede) tem ganhado pontos e votos ao confrontar com Bolsonaro, como fez na RedeTV!. E se ele, na resposta, levantar a voz, responder com ironias, só vai perder votos no eleitorado feminino. Há rótulos que pegam e não saem mais. Esse que o tempo consolidou em Bolsonaro parece que foi pregado com cola-tudo.
O reflexo de tudo isso que está acontecendo com o deputado pode ser visto nas simulações para os confrontos do segundo turno. De acordo com o mais recente Datafolha, Bolsonaro só não seria derrotado por Fernando Haddad, o “plano B” do PT. O candidato do PSL estaria em desvantagem contra todos os outros do pelotão intermediário: Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva. Sem falar que de Lula ele tomaria uma surra. Só que Lula dificilmente vai concorrer.
Para piorar a situação, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), antecipou para a próxima terça-feira, 28, o julgamento para decidir se a Corte vai ou não acolher denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o deputado por crime de racismo. Há o risco de Bolsonaro virar réu no STF antes mesmo do início da propaganda eleitoral. Nesse caso, surge outro problema para o candidato, um problemão, diga-se. O STF já decidiu que réus não podem fazer parte da linha de substituição do presidente da República. Tal decisão impediu que Renan Calheiros (MDB-AL), réu na Corte, e então presidente do Senado, pudesse substituir Michel Temer quando este estivesse ausente do País.
Por analogia, um réu no STF poderá assumir a Presidência da República, caso Bolsonaro consiga chegar ao segundo turno, superar todos os obstáculos que tem e vencer a eleição? É uma questão que deve ser decidida pela Corte, opinou o ministro Celso de Mello. Portanto, nesse momento, há fantasmas sobrevoando Bolsonaro tanto nas urnas quanto no STF.
Alckmin e as redes sociais. Último do pelotão intermediário, Geraldo Alckmin resolveu mexer na sua equipe de campanha responsável pelas redes sociais. Não estaria a equipe de profissionais que trata do assunto encontrando um jeito de “desconstruir” Bolsonaro, que só no Facebook possui 5,5 milhões de seguidores, enquanto Lula tem 3,7 milhões. Alckmin ainda não chegou a 1 milhão. O tucano precisa ter calma, visto que se trata de algo novo.
Rede social é um fenômeno coletivo, mas também individual, por dar direito a voz e opinião a quem não o tinha. Mistura emoção e, às vezes, chega à paixão. À exceção dos que o fazem por motivo profissional, o seguidor de um líder político costuma ser um convertido. Quem acredita em Bolsonaro dificilmente vai ser desconstruído. Talvez Alckmin fizesse melhor se usasse a rede social para divulgar propostas de governo para o País, com detalhes que a TV e o rádio não têm espaço para dar.
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