sábado, 25 de agosto de 2018

Julianna Sofia: De pijama no Planalto

- Folha de S. Paulo

Temer é favorecido pela inércia para reduzir seu índice de reprovação

Sentado na principal cadeira da República e de posse da faixa presidencial, Michel Temer começa a ser esquecido ainda no cargo. Privado de uma agenda midiática devido às restrições da legislação eleitoral, o emedebista alcançou o feito de ver a reprovação popular a seu governo cair.

Segundo a última pesquisa Datafolha, depois de atingir o maior patamar da história política recente, o percentual dos brasileiros que classificam a gestão do presidente como ruim ou péssima recuou de 82% (junho) para 73%. Aqueles que consideram a administração regular passaram de 14% para 21%, enquanto a avaliação ótima ou boa teve pequena oscilação de 3% para 4%.

A mudança na percepção dos entrevistados, na opinião do diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, pode ser explicada pela dinâmica das eleições deste ano. “Ele perdeu protagonismo para o processo eleitoral e se poupou.” Num vocabulário menos cortês: em meio à corrida maluca em que se transformou a disputa à Presidência, ninguém mais liga para o que o atual mandatário pensa, diz ou faz.

E o candidato do legado temerista não se mostra competitivo tampouco governista. O programa de TV que a campanha de Henrique Meirelles (MDB) testa para levar ao ar oculta a figura de Temer. Na peça de propaganda, o cortejado é Lula.

O presidente não só é repelido abertamente por seus aliados, como sua perda de relevância exclui o político habilidoso de outros carnavais de decisões estratégicas. Foi sem o conhecimento dele, por exemplo, o ataque de Meirelles à coligação de Geraldo Alckmin (PSDB) no Tribunal Superior Eleitoral, questionando tecnicalidades.

Além do precoce ostracismo, a caneta presidencial já pouco lhe serve dadas a penúria das contas públicas e as artimanhas fiscais engendradas pelo Congresso Nacional.

De pijama no exílio do Palácio do Planalto, Temer é favorecido pela inércia para reduzir seu índice colossal de reprovação.

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Julianna Sofia, jornalista, secretária de Redação da Sucursal de Brasília.

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