Partido mantém sua longa hegemonia em São Paulo, mas corre o risco de ver desfeito um legado
Ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) elegeu-se governador com 51,75% dos votos válidos. Conquistou quase 11 milhões de sufrágios e derrotou Márcio França (PSB) no segundo turno do pleito.
Ao triunfar no estado mais populoso do país, Doria garantiu para o partido, juntamente com dois correligionários vitoriosos (em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul), o governo de quase 60 milhões de brasileiros.
Na sequência aparece o PT, com quatro eleitos no Nordeste (Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte), mas com apenas metade do número de governados.
Notável também se revela o predomínio tucano em território paulista. Com Doria, esta é a sétima eleição subsequente vencida pelo PSDB. Mas qual PSDB?
Soa inadequado qualificar de social-democrata um candidato que obteve a vitória após engatar sua imagem, em piruetas de oportunismo, à de um populista de direita —sem nem mesmo ter obtido o apoio resoluto do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
Em realidade, a triunfo de “Bolsodoria” representa a derrota do PSDB histórico. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos fundadores egressos do chamado MDB autêntico, não foi o único a ser abatido nas refregas do pleito.
Tornaram-se personagens secundários também Aécio Neves e José Serra, acossados por problemas judiciais na esteira da Lava Jato.
Aécio obteve vaga de deputado; Serra tem mais quatro anos no Senado. Deixaram, porém, de serem vozes relevantes na arena política.
O ex-governador Geraldo Alckmin, de seu lado, sai como grande perdedor: não só recebeu votação pífia na disputa presidencial como ainda viu o pupilo voltar-se contra ele e mandar para casa seu candidato preferido, França.
Alckmin, FHC e Serra abstiveram-se de cumprimentar Doria de pronto pela conquista do Palácio dos Bandeirantes, mais um sintoma da lenta agonia tucana. O eleito, não sem alguma ironia, afirmou não ver problema nisso: “Eu tenho grandeza, tenho altivez”.
Uma dose de humildade, igualmente, faria bem ao futuro governador. Ele já fala em “meu PSDB”, que doravante não ficaria mais em cima do muro. Parece mais empenhado em se desvencilhar de um legado do que em reunir o partido sob a própria liderança.
Convém recordar que o ex-prefeito perdeu por 58% a 42% para França na cidade que geriu por meros 15 meses. Em contraste, Bolsonaro derrotou o rival Fernando Haddad (PT) por 60% a 40% na capital.
A realidade dos atos de Doria como governante calou mais fundo, entre os paulistanos afetados, que a fantasia verde e amarela por ele envergada no segundo turno.
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