Deltan e colega discutiram orientação de ex-juiz antes de audiência com Lula
- Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A força-tarefa do Ministério Público Federal discutiu a alteração da escala de procuradores em audiências da Lava Jato após crítica do então juiz Sergio Moro a uma das procuradoras do grupo, sugerem novos diálogos de autoridades da operação relevados nesta quinta-feira (20).
A troca de mensagens, obtida pelo site The Intercept Brasil, foi revelada no programa "O É da Coisa", de Reinaldo Azevedo, na rádio BandNews.
Em diálogo divulgado no último dia 9, o site havia mostrado que Moro enviou mensagem a Deltan Dallagnol, em 2017, orientando que aconselhasse a procuradora Laura Tessler a melhorar seu desempenho em interrogatórios da operação.
O novo trecho revelado nesta quinta indica que Deltan discutiu o assunto de maneira particular com Carlos Fernando dos Santos Lima, à época um dos integrantes mais experientes da força-tarefa, e hoje aposentado. O coordenador do grupo chegou a encaminhar ao colega a mensagem em que Moro critica a procuradora.
"Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela", disse Deltan, de acordo com a rádio BandNews.
Santos Lima responde: "Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No [depoimento] do Lula não podemos deixar acontecer".
A discussão ocorreu dois meses antes do primeiro depoimento de Lula como réu em Curitiba. Na audiência, ocorrida em maio, compareceram três procuradores: Santos Lima, Júlio Noronha e Roberson Pozzobon. Laura Tessler, criticada por Moro, não participou.
Antes dessa discussão, segundo informou a rádio, Deltan pediu precauções quanto à conversa ao colega. "Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo..." O coordenador da força-tarefa combinou com Santos Lima de apagar o conteúdo da mensagem.
Em audiência no Senado nesta quarta-feira (19), Moro foi questionado sobre a orientação relacionada a Laura Tessler. Disse que era um factoide e que não se lembrava da mensagem específica.
"Em nenhum momento no texto, há alguma orientação de substituição daquela pessoa [Tessler]. Tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais até hoje dentro da Operação Lava Jato. Um juiz eventualmente recomendar para um advogado na audiência ou para um procurador: Olha, profissionalmente, vou te dar um conselho, faça assim, não faça assado... Como isso pode ser considerado alguma coisa ilícita?"
OUTRO LADO
A força-tarefa da Lava Jato no Paraná não vai comentar o assunto.
O Ministério da Justiça, comandado pelo ex-juiz Sergio Moro, afirmou nesta quinta que não reconhece a autenticidade do diálogo e que, mesmo se for verdadeiro, não há nada de ilícito ou de antiético. Também afirma que Moro não pediu a troca da procuradora Tessler.
"Na suposta mensagem, não haveria nenhuma contradição com a fala do ministro do Senado Federal, como especulado", diz a nota.
Nas conversas publicadas até agora pelo site The Intercept Brasil, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas, antecipa ao menos uma decisão judicial e propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula.
Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.
As conversas entre Moro e a Lava Jato também provocaram reação no STF. Na semana que vem, dia 25 (terça-feira), um pedido dos advogados de Lula pela anulação do processo do tríplex em Guarujá (SP), que levou o petista à prisão em abril do ano passado, será analisado pela Segundo Turma da corte.
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