Governo mostrou pouca disposição para enfrentar a tarefa de passar a tesoura nos gastos para compensar despesas maiores com a transferência de renda aos mais pobres
Depois de tanto vaivém, o governo optou por duas medidas extremamente polêmicas para bancar o Renda Cidadã e pouca disposição para enfrentar a tarefa de passar a tesoura nos gastos para compensar despesas maiores com a transferência de renda aos mais pobres.
De um lado, o governo propõe criar um gasto
permanente, o novo programa social, usando recursos do
Fundeb, o fundo para educação que
está fora do teto de gastos,
a regra que proíbe que despesas cresçam em ritmo superior à inflação.
Essa tentativa já foi feita na votação do novo
Fundeb e rejeitada por razões diversas: retira recursos que foram ampliados por
votação estrondosa do Congresso e, na prática, “burla” o teto de gastos para
arrumar recursos para a vitrine do presidente Jair Bolsonaro,
o programa que vai substituir o auxílio emergencial dado na pandemia aos mais
vulneráveis e o Bolsa Família.
A proposta de adiar o pagamento de parte dos
precatórios é ainda mais crítica. Não à toa pouco depois do anúncio já está
sendo chamada de “calote temporário”. O governo simplesmente propõe financiar
um programa permanente com base em uma despesa judicial líquida e certa. A
dívida não deixa de existir. Esse é o ponto que participantes do mercado
financeiro já questionam.
A pergunta que foi feita à coluna: por que com
tanta despesa para remanejar vão em cima de uma pagamento de uma dívida
judicial líquida e certa?
Nas duas propostas, não há compromisso de ajuste, o
que na prática é o motivo por trás da ideia da equipe econômica de insistir com
a manutenção do teto.
Os líderes envolvidos chegaram a falar em medidas
duras para financiar o Renda Cidadã, em conversas internas e fechadas à
imprensa, promovidas por instituições financeiras. Por isso, a frustração com a
proposta é o temor de agravamento da crise fiscal.
Criou-se uma expectativa de algo melhor do lado das despesas, que não chegou. A resposta é tensão. Do mercado, que quer o teto vivinho. Para quem defende mais recursos para a transferência de renda, nova constatação da perda de rumo.
Depois do anúncio de hoje, aumenta a desconfiança de que o fracasso do Renda Cidadã pode abrir as portas da flexibilização do teto e saída do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Tem gente que até desconfia que essa é uma
estratégia já desenhada por líderes e não apenas resultado de falhas no
desenho das medidas.
Para piorar, o governo não conseguiu acordo para
emplacar o novo tributo sobre transações financeiras, a nova CPMF repaginada
pela equipe econômica para desonerar a folha Até então, a tentativa do
governo era fechar um acordo hoje para incluir a CPMF na proposta de reforma
tributária.
Os estudos do ministro da Economia, Paulo Guedes, não convenceram os líderes dos partidos que apoiam o governo porque a rejeição é grande ao novo tributo. A espera de mais respostas do governo e dos líderes que tomaram a dianteira do anúncio.
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