Presidente do Senado concentra nas mãos diversos trunfos para
forçar sua reeleição
Um dispositivo da
Constituição Federal veda a reeleição para o mesmo cargo da Mesa Diretora, mas
Alcolumbre articula com seus pares uma revisão da norma constitucional mediante
a singela alteração do regimento interno.
O número sobe para
três, se o indicado para o Supremo for um ministro do Superior Tribunal de
Justiça. Na atual conjuntura, após a denúncia do Ministério Público do Rio que
transforma em réu o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), junto com
Fabrício Queiroz, uma vaga no STJ - colegiado que julgará os recursos dessa
ação - torna-se ainda mais estratégica, ou oportuna, do que uma cadeira no
Supremo.
Pela proximidade das
datas, as atenções voltam-se para o preenchimento da vaga no STF, porque o
decano Celso de Mello antecipou a aposentadoria para o próximo dia 13. Dois
meses depois, será a vez do presidente do TCU, José Múcio Monteiro, sair de
cena.
Um senador influente
do Centrão disse à coluna que a indicação do ministro da Controladoria-Geral da
União, Wagner Rosário, para a vaga do TCU em dezembro é pule de dez. Egresso da
Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), com mestrado em combate à corrupção
na Espanha, Rosário é próximo de Bolsonaro e dos ministros da Secretaria-Geral
da Presidência, Jorge Oliveira, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Por sua vez, cotado para o STF, Jorge Oliveira é o coringa de Bolsonaro, a
carta que o presidente usará para não errar a jogada. Se Jorge quiser, vai para
o STF. Mas se o “timing” político favorecer outra indicação, aguardará a vaga
do ministro Marco Aurélio. Em qualquer situação, será o homem da confiança de
Bolsonaro no Supremo.
Mas o “timing” agora
favorece a abertura de uma vaga no STJ. Além de ser o foro competente para os
recursos da ação contra Flávio Bolsonaro, é a instância responsável por julgar
os governadores - e a maioria dos mandatários estaduais é considerada
adversária pelo presidente.
É nessa conjuntura tão
sensível para o jogo político que Davi Alcolumbre, ganha mais protagonismo.
Caberá a ele liderar a articulação para viabilizar, junto à senadora Simone
Tebet (MDB-MS), a pauta na Comissão de Constituição e Justiça, e depois no
plenário, para que haja quórum e os 41 votos necessários para aprovar o
indicado de Bolsonaro para o STF. O mesmo ocorrerá, se depois houver nomeação
para o STJ.
Em dezembro, a pouco
mais de um mês para a eleição da Mesa, igualmente caberá a Alcolumbre liderar a
articulação para viabilizar a pauta na Comissão de Assuntos Econômicos, junto
ao senador Omar Aziz (PSD-AM), e depois no plenário, para que haja quórum e os
41 votos necessários para aprovar o indicado para o TCU.
Garantir quórum será
um desafio, porque a pandemia continuará intimidando os senadores do grupo de
risco, que ainda evitam Brasília. A votação no “drive thru” deverá ser
reeditada nesses casos.
Na semana passada,
ganhou corpo a articulação pela reeleição de Alcolumbre. O Valor mostrou que ele se
reuniu pessoalmente com quase 50 senadores, articulando acordos, divisões de
espaços na Mesa e presidência de comissões. Ele tem os apoios de grandes
bancadas, como PSD e PP, mas ainda não tem o aval do MDB, maior força da Casa.
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Mesmo que reedite o apoio do Planalto e conte com o respaldo de grupos que
estavam com Renan Calheiros (MDB-AL) em 2019, Davi terá de resolver o imbróglio
constitucional.
O parágrafo 4.º do
artigo 57 da Constituição diz que os mandatos dos membros da Mesa Diretora
serão de dois anos, “vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição
imediatamente subsequente”.
Para viabilizar pelo
menos uma reeleição, Câmara e Senado fizeram interpretações inconstitucionais
afirmando que o dirigente poderia ser reconduzido uma vez na eleição entre uma
legislatura e outra. Isso consta do Regimento Interno da Câmara e de um parecer
da CCJ do Senado de 1998.
O professor José
Afonso da Silva, um dos maiores juristas brasileiros, afirma que essa
interpretação sobre a reeleição é inconstitucional. “A Constituição quis
impedir o exercício continuo do cargo [da Mesa Diretora] por quatro anos”,
registrou o constitucionalista.
O senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE), delegado de carreira, esclarece que a vedação à
reeleição é constitucional. Ele afirma que se Alcolumbre reeleger-se baseado em
simples alteração do Regimento Interno, o grupo “Muda, Senado” vai propor
mandado de segurança contra o ato junto ao STF. “Não dá pra fugir disso”,
afirmou. Se o presidente da Corte, Luiz Fux, não pautar a ação do PTB que
questiona o fato, a eventual reeleição será questionada adiante.
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A ironia de todo esse processo é que a PEC da reeleição (PEC 101/2003), aprovada em comissão especial da Câmara em maio de 2004, que autorizaria expressamente a recondução dos presidentes das Casas para novo mandato, era de autoria do então deputado Benedito de Lira (PP-AL), pai do líder do PP, Arthur Lira (AL), forte candidato à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Se tivesse sido
aprovada, a PEC de Benedito de Lira iria sabotar o projeto político de seu
filho, Arthur, que 16 anos depois, teria de disputar a sucessão com Maia.
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