Ainda
faltam 20 meses para a eleição presidencial do ano que vem. É preciso cautela
na análise de pesquisa eleitoral
Um
truísmo, mas vá lá. Pesquisa de opinião é um retrato do momento. Tendência, a
evolução de alguma coisa num sentido determinado. O que uma pesquisa revela só
vira uma tendência se confirmada por futuras e sucessivas pesquisas.
Os resultados da pesquisa Datafolha divulgada nas últimas
horas foram péssimos para o presidente
Jair Bolsonaro e ótimos para o ex-presidente Lula. Manda a prudência, contudo, que se
esperem novas pesquisas para conferir se isso configura uma tendência.
Pode
ser também o que pesquisadores chamam de “soluço”, algo ocasional que, mais
tarde, será naturalmente corrigido. De resto, faltam 20 meses para o primeiro
turno da eleição presidencial do ano que vem. Mesmo uma tendência pode ser
revertida.
Tais ressalvas não tiram a importância do que a pesquisa Datafolha registrou: se a eleição tivesse sido realizada nessa quarta-feira (12/5), Lula teria batido Bolsonaro com folga de votos no primeiro ou no segundo turno. Bolsonaro deve preocupar-se, e Lula comemorar.
Bolsonaro
atravessa seu pior momento. Embora em queda, a pandemia da Covid já matou quase 430 mil pessoas, em grande parte por incúria
dele mesmo. Uma CPI apura tudo. Há 14 milhões de desempregados, e a recuperação
da economia é lenta.
A
série histórica da pesquisa mostra que, de dezembro para cá, a popularidade de
Bolsonaro derreteu. A fatia de ótimo ou bom, que no último mês de 2020 atingia
o recorde de 37%, caiu até chegar ao atual patamar, de 24% (queda de 13 pontos
percentuais).
O
grupo dos que consideram o governo ruim ou péssimo, que em dezembro
correspondia a 32%, cresceu até atingir os atuais 45% (alta de 13 pontos).
Bolsonaro amarga ao mesmo tempo o maior percentual de rejeição e o menor de
aprovação.
Lula
vive o melhor momento de sua vida desde que foi preso, condenado e trancafiado
em Curitiba por 580 dias. A Justiça anulou suas condenações e declarou suspeito
o ex-juiz Sergio Moro, que conduziu os processos. Por ora, nada de ruim gruda
nele.
Tornou-se
de bom-tom adversários políticos responderem a acenos de Lula com afabilidade,
e se convidados, reunirem-se com ele. Sua passagem recente por Brasília foi um
sucesso. Quem não esteve com ele insinua em conversas que poderia ter estado.
Em
vista disso tudo, é compreensível que na simulação de primeiro turno feita pelo
Datafolha Lula apareça com 41% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro,
7% de Moro, 6% de Ciro, 4% de Luciano Huck, 3% de João Doria e 2% de Mandetta.
Num
eventual segundo turno contra Bolsonaro, Lula o derrotaria por 55% dos votos a
32%. Para o petista, migraria a maioria dos votos de Doria, Ciro e Huck.
Bolsonaro herdaria a maior fatia dos votos de Moro, seu ex-ministro da Justiça
e desafeto declarado.
Lula
venceria Moro no segundo turno por 53% a 33%, e Doria por 57% a 21%. Bolsonaro
empataria tecnicamente com Doria (39%, a contra 40%) e perderia para Ciro (36%,
a 48%). Os que disseram que jamais votariam em Bolsonaro são 54%, contra 36% de
Lula.
O
barco do PT navega, por enquanto, em mar de almirante. O céu não é de
brigadeiro para Bolsonaro.
Candidato
de centro a presidente ainda não deu o ar de sua graça
Quem
souber de um, favor informar aos partidos interessados em construir alternativa
a Lula e a Bolsonaro
Por
ora, a eleição presidencial daqui a 20 meses será travada por apenas dois nomes
com chances de vencer, segundo a pesquisa de intenções de voto do Datafolha, a primeira aplicada presencialmente: Lula e
Bolsonaro. Não tem para mais ninguém.
Ciro
Gomes, do PDT, que será pela quarta vez candidato? Foi rebaixado pela entrada
de Lula no páreo. Antes, apostava em atrair boa parte dos votos da esquerda.
Agora, ambiciona os votos do centro direita para tirar Bolsonaro do primeiro
turno.
João Doria, do PSDB, governador de São Paulo e pai da
vacina? Reúne míseros 3% das intenções de voto e enfrenta forte resistência dos
seus governados. Eles o rejeitam até quando reconhecem que, se não fosse Doria,
não se vacinariam tão cedo.
Sergio
Moro, o ex-juiz? É carta fora do baralho. Não só porque anunciou que não se
candidatará, mas porque os políticos em geral não o suportam. Moro criminalizou
a política, e os políticos querem vê-lo morto e enterrado. Não há acordo
possível entre eles.
Luciano
Huck, o apresentador do programa das tardes de sábado na Rede Globo de
Televisão? Seu destino é trocar de dia, sucedendo Faustão nos fins de tarde do domingo. É
jovem, pode esperar que a fila ande e trocar de palco mais adiante.
Luiz
Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde? Esse até quer ser candidato e deixa
boa impressão por onde passa. Mas seu partido, o DEM, está em liquidação e sem
cacife para alçar voo. Mandetta admite disputar o governo do Rio ou uma vaga no
Senado.
Faltou
algum nome na lista dos pretendentes a candidato do centro? O senador Tasso
Jereissati (PSDB-CE) e o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB)
foram lançados só para atrapalhar a vida de Doria, e estão atrapalhando.
O
deputado Aécio Neves (PSDB-MG) encabeça um movimento para que seu partido não
tenha candidato próprio a presidente. Ele e boa parte dos seus pares estão
interessados na grana do Fundo Partidário para se reeleger. Sobrará mais grana
para eles.
Em resumo: quem souber do paradeiro de um viável candidato de centro a presidente da República será regiamente gratificado.
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