O Estado de S. Paulo
Jair e Lula não querem os atuais limites de gastos, mas vai ficar como?
Jair Bolsonaro e Lula não querem briga com
elites. Especialmente as mais destacadas no mundo financeiro, empresarial e da
agroindústria. Esforçam-se por dizer a elas o que acham que gostariam de ouvir
– o que explica a inconsistência entre promessas e realidade.
A disputa eleitoral entre Jair e Lula traz
às mesmas elites uma grande certeza que é, porém, o sinal de uma grande
incerteza. A certeza é a de que dois personagens políticos decidiram pelo fim
do teto de gastos. Por razões distintas, mas convergentes.
Sob Bolsonaro a regra para limitar o crescimento de gastos foi desmoralizada. E enterrada pela sucessão de PECS para sustentar bondades sociais/eleitorais. O próprio Ministério da Economia reconhece a desmoralização ao discutir mecanismo alternativo (a relação dívida/pib) para limitar gastos.
Lula repetiu na Fiesp nesta semana que não
precisa de teto de gastos pois ele, Lula, é a garantia pessoal de
responsabilidade fiscal. Trata-se de reinvenção do passado para atender a
imperativos eleitorais do presente, algo tão velho como a própria política.
Implícita está a noção de que a economia cresce com o Estado gastando.
O problema do teto de gastos não é a regra,
mas o motivo de ela ter sido inventada. Nas últimas décadas, não importa o
governo, estabeleceu-se como verdadeiro consenso social o crescimento constante
dos gastos públicos, sem que nosso espaço econômico tenha condições de
sustentar esse aumento.
Pode-se afirmar que a essência da disputa
política brasileira hoje é o fato de cofres públicos não conseguirem mais
acomodar interesses segmentados e regionais. Manobras das correntes políticas
se dão em torno de migalhas de um orçamento engessado e comprometido com
despesas obrigatórias. Situação agravada de maneira formidável pela instituição
do nosso paraíso das emendas parlamentares (e orçamento secreto).
Com o que chegamos à grande incerteza
gerada pela certeza de que Jair e Lula não querem mais teto de gastos. Qual
será a regra, então, para limitar o crescimento de gastos de um Estado que
notoriamente não cabe no PIB? Embora pareça questão técnica, sua natureza é
essencialmente política.
No cerne do problema dos gastos está a
“concertación” ampla jamais obtida para reforma administrativa (pagamento do
funcionalismo), tributária (pacto federativo) e de sistema de governo (grave
desequilíbrio entre os Poderes, com avanços do Legislativo e STF). Grupos
dirigentes e pensantes brasileiros no sentido mais amplo estão profundamente
divididos e demonstram notável incapacidade de atuação conjunta.
Não é surpresa que Jair e Lula tenham uma ideia apenas do que não querem.
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