terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O combo Flávio Bolsonaro, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

A candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência vende um combo: 1) reage às insurreições regionais, reafirma a liderança de Jair (depois de haver prosperado a imagem do mito doente) e tenta amarrar, sob a gestão da família, o controle da direita; 2) dá recado à ação emancipadora – a do bolsonarismo sem Bolsonaro – puxada pelos donos do Centrão e governadores direitistas: não haverá solução que possa prescindir do bolsonarismo puro-sangue; 3) e, nesses termos, botando o preço lá no alto e se avocando como pauteiro da chapa, pretende deflagrar-condicionar a negociação.

Jair disparou uma ordem unida. Reação aos movimentos de independência acelerados neste pós-Bolsonaro. Ato que obriga os agentes políticos a se posicionar; que exige adesão dos que, ante a omissão do líder, armavam dissidências. Se o que lhe cobravam era a delegação sobre quem o representaria, aí está.

Ao apontar Flávio, Jair quer dificultar o processo de superação a Bolsonaro. E responde à imagem constituída a partir de sua prisão: a de homem frágil, que soluça sem parar, que alucina. Ele tomou uma decisão. Exerceu o poder. Liderou, afinal. Natural que fosse por meio de um filho, considerado o peso que o DNA tem no sistema de crenças bolsonarista.

No sistema de crenças bolsonarista, união da direita significa direita sob controle da família. Nada é mais importante. Embutida na indicação de Flávio a ideiavalor de sacrifício, de candidatura-denúncia: admite-se perder a eleição, se para marcar posição e manter a unidade. Essa é a razão por que não se pode descartar a hipótese, ainda que menor, de o filho persistir e servir de cavalo para o pai em 2026, assim como Haddad para Lula em 2018.

A decisão por Flávio foi tomada sem a participação dos caciques do Centrão. Foram comunicados. Dessa forma, Jair informa que nada mudou; que, sendo ele o dono dos votos, continuaria a ser quem dá as cartas. Mais ou menos preso, não se aceita a reboque, numa condição passiva. Não deixa de ser uma precificação. Nada avançará à revelia do bolsonarismo com Bolsonaro. Nada avançará sem que a família esteja à frente. Trata-se de esforço de rearrumação para negociar desde um lugar preferencial.

O negociador Flávio não é alguém que possa ficar sem mandato. Exploraria esse período de exposição nacional como fato novo fortalecedor de seu ameaçado favoritismo à reeleição para o Senado. Como o candidato do grupo que se apregoa perseguido, inelegível Jair e com inelegibilidade contratada para Eduardo, seria também modo de se proteger de Xandão. E sempre negociando.

Colocou, para que não seja o candidato, preço máximo: Jair Bolsonaro nas urnas – comércio que sabe impossível. Preço alto é preço do mesmo jeito. Ponto de partida. O mundo real o fará baixar, se o nome do 01 doravante não decolar até altura competitiva. Os rueda não têm pressa para conversar. E ninguém reclamará da circunstância em que, pondo Flávio a cara agora, poupado fique Tarcísio. Tem água a correr.

 

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