O Estado de S. Paulo
A candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência vende um combo: 1) reage às insurreições regionais, reafirma a liderança de Jair (depois de haver prosperado a imagem do mito doente) e tenta amarrar, sob a gestão da família, o controle da direita; 2) dá recado à ação emancipadora – a do bolsonarismo sem Bolsonaro – puxada pelos donos do Centrão e governadores direitistas: não haverá solução que possa prescindir do bolsonarismo puro-sangue; 3) e, nesses termos, botando o preço lá no alto e se avocando como pauteiro da chapa, pretende deflagrar-condicionar a negociação.
Jair disparou uma ordem unida. Reação aos movimentos de independência acelerados neste pós-Bolsonaro. Ato que obriga os agentes políticos a se posicionar; que exige adesão dos que, ante a omissão do líder, armavam dissidências. Se o que lhe cobravam era a delegação sobre quem o representaria, aí está.
Ao apontar Flávio, Jair quer dificultar o
processo de superação a Bolsonaro. E responde à imagem constituída a partir de
sua prisão: a de homem frágil, que soluça sem parar, que alucina. Ele tomou uma
decisão. Exerceu o poder. Liderou, afinal. Natural que fosse por meio de um
filho, considerado o peso que o DNA tem no sistema de crenças bolsonarista.
No sistema de crenças bolsonarista, união da
direita significa direita sob controle da família. Nada é mais importante.
Embutida na indicação de Flávio a ideiavalor de sacrifício, de
candidatura-denúncia: admite-se perder a eleição, se para marcar posição e
manter a unidade. Essa é a razão por que não se pode descartar a hipótese,
ainda que menor, de o filho persistir e servir de cavalo para o pai em 2026,
assim como Haddad para Lula em 2018.
A decisão por Flávio foi tomada sem a
participação dos caciques do Centrão. Foram comunicados. Dessa forma, Jair informa
que nada mudou; que, sendo ele o dono dos votos, continuaria a ser quem dá as
cartas. Mais ou menos preso, não se aceita a reboque, numa condição passiva.
Não deixa de ser uma precificação. Nada avançará à revelia do bolsonarismo com
Bolsonaro. Nada avançará sem que a família esteja à frente. Trata-se de esforço
de rearrumação para negociar desde um lugar preferencial.
O negociador Flávio não é alguém que possa
ficar sem mandato. Exploraria esse período de exposição nacional como fato novo
fortalecedor de seu ameaçado favoritismo à reeleição para o Senado. Como o
candidato do grupo que se apregoa perseguido, inelegível Jair e com
inelegibilidade contratada para Eduardo, seria também modo de se proteger de
Xandão. E sempre negociando.
Colocou, para que não seja o candidato, preço
máximo: Jair Bolsonaro nas urnas – comércio que sabe impossível. Preço alto é
preço do mesmo jeito. Ponto de partida. O mundo real o fará baixar, se o nome
do 01 doravante não decolar até altura competitiva. Os rueda não têm pressa
para conversar. E ninguém reclamará da circunstância em que, pondo Flávio a
cara agora, poupado fique Tarcísio. Tem água a correr.

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