Folha de S. Paulo
Ao ungir Flávio como sucessor político,
Bolsonaro tenta prolongar relevância política
Cena foi mal coreografada e ninguém acreditou
que candidatura do filho é para valer
Eu até entendo o que Jair
Bolsonaro quis fazer ao ungir o filho
Flávio como seu substituto na disputa presidencial. O ainda
capitão deve ter imaginado que o gesto pacificaria a família, que está em pé de
guerra, e prolongaria por mais algum tempo o maior poder político que ainda lhe
resta, que é o de influir sobre o campo da direita no primeiro turno da eleição
do ano que vem.
O raciocínio se assenta sobre uma assimetria fundamental. Se Bolsonaro der sua bênção a algum candidato da direita sobre o qual não tenha controle total, como Tarcísio de Freitas ou a algum outro governador, ele na prática se condena à irrelevância, pois teria esgotado seu poder derradeiro.
E o quadro fica pior, pois o candidato
bolsonarista, para ter uma chance de triunfar no segundo turno, em algum
momento precisará afastar-se de Bolsonaro e da grande rejeição que vem com ele.
Com Flávio como indicado, o ex-presidente
seguiria no controle do processo, até abril, se for trabalhar para que a
direita tenha um candidato competitivo, ou até outubro, se opção for por manter
o sobrenome Bolsonaro em evidência.
O problema é que a cena foi tão mal
coreografada que ninguém acreditou que os Bolsonaros falavam a
sério. Com menos de 48 horas de ungido, o próprio Flávio já
anunciava que poderia desistir.
O último
Datafolha mostra que o bolsonarismo, embora ainda longe de
morto, é uma força em decadência. A maioria dos brasileiros (54%) acredita que
a condenação de Jair foi justa —é golpista!— e que ele tentou evadir-se —é
fujão!. Se o clã esticar demais a corda, poderá vê-la romper-se. O centrão,
embora prefira ver a vitória de um presidente de direita em 2026, sobrevive bem
em qualquer ambiente. O bloco não deixou de prosperar com Lula à frente do
Executivo.
Resta uma boa notícia para a parcela dos
brasileiros que acredita que criminosos condenados devem sofrer na cadeia. A
prisão acelera o ocaso da influência política do ex-presidente, e a perda de
status social acarreta intenso sofrimento psicológico.
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