segunda-feira, 17 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Rubens Bueno: a vaia

"As pessoas estão percebendo que o governo tem mais marketing do que ação de políticas (públicas). O que a população sente, ela leva para as urnas.

Rubens Bueno, deputado federal(PR) e líder do PPS/MD na Câmara. In “Vaias a Dilma fazem Planalto mudar estratégia”, Correio Braziliense, 17/6/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
Apenas 10% dos presos estudam
O Brasil e o mundo de olho em São Paulo
A força das mulheres cariocas
Vício corporativo

FOLHA DE S. PAULO
Governo de SP pede e terá reunião com manifestantes hoje
Dilma cortou discurso após receber vaias de torcedores
Ministro fez uso eleitoral de atos em SP, diz líder tucano

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma prepara 20º pacote, agora para mineração
Protesto ganha apoio e governo descarta Choque
Governo vai anunciar pacote para mineração
Senado amplia máquina de divulgação
Dilma deve ter participação discreta na final

VALOR ECONÔMICO
Fuga da bolsa faz Vale cair à menor cotação desde 1999
Royalties de mineração vão render R$ 4,2 bi
Não há limite para alta de juros, diz Tombini
Para a Pimco, Brasil não apresenta risco

BRASIL ECONÔMICO
O que trava o país é a infraestrutura"
O que pesa nas passagens de ônibus
Estudo mostra que Brasil é o quinto país mais atrativo para o setor de vestuário

ESTADO DE MINAS
Tribunal suspende licitações de R$ 1,2 bi

O TEMPO (MG)
Polícia do Rio usa bombas e spray de pimenta para conter manifestação
Manifestantes prometem protesto em BH e manual de orientação é divulgado
Juros mais altos tornam Tesouro mais atrativo
Dilma não se intimida com vaias e promete estar na final da Copa das Confederações

CORREIO BRAZILIENSE
Onda de protestos leva governos à negociação
Vaias a Dilma fazem Planalto mudar estratégia
Habitação: Casa própria mais longe da classe C

GAZETA DO POVO (PR)
Inflação alta faz com que as famílias cortem gastos e adiem compras
Problemático e eficiente, Balotelli decide para Azurra
Professores não recebem piso em 40% das cidades
Novos protestos estão marcados para hoje
Turquia terá greve contra o governo

ZERO HORA (RS)
Vaias à presidente - Planalto abafa; oposição vê sintoma de desgaste
Nove são indiciados por adoções suspeitas
Fundo de garantia: Perdas de R$ 127 bi para o assalariado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Entre o show e as críticas
Rio tem outro dia de protesto violento

O Que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Vaias à presidente - Planalto abafa; oposição vê sintoma de desgaste

Tradição no tratamento de autoridades em eventos esportivos, hostilidade contra Dilma ganhou força pelo ambiente de protestos nas ruas e arenas da Copa das Confederações.

Insatisfação refletida em protestos e vaias

Nos últimos cinco dias, o país foi tomado por manifestações nas ruas e em frente a estádios de futebol. A vaia à presidente Dilma Rousseff no jogo entre Brasil e Japão, no sábado, trouxe um ingrediente novo a esse cenário de descontentamento.

Os gritos de gol, na largada da Copa das Confederações, vieram acompanhados por ruídos de natureza nada festiva: palavras de ordem, estouros de bomba e vaias à presidente Dilma Rousseff na abertura do evento.

A ruidosa sonoplastia política tem origem em manifestações com públicos e propósitos diferentes, mas, segundo especialistas, refletem um sentimento de insatisfação nacional e tendem a reforçar umas às outras.

Estádios de futebol costumam ser ambientes cruéis para pernas-de-pau, mas também para líderes políticos. Assim foi na inauguração do Maracanã, na década de 1950, ou quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu ao mesmo local para a abertura dos Jogos Pan-Americanos, em 2007. Os apupos foram tão intensos que o petista desistiu de anunciar ao microfone o início das competições. As vaias enfrentadas por Dilma na tarde de sábado, porém, somam-se a uma série de protestos que vêm sacudindo o país.

Antes dos gritos contra a presidente, a música emitida pelos alto-falantes no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, já havia sido intensificada em alguns decibéis para abafar os estouros das bombas utilizadas pela polícia para controlar quem protestava do lado de fora contra os bilhões de reais aplicados para o país receber as competições da Fifa. Ontem, no entorno do Maracanã, novo confronto envolveu manifestantes contrários aos gastos e em defesa da redução nas tarifas de ônibus. Nas semanas anteriores, grupos se reuniram nas ruas das principais capitais do país para exigir passagens mais baratas e, mais recentemente, condenar a repressão policial em manifestações públicas.

Por que, então, protestava quem estava do lado de dentro do Mané Garrincha, e qual a relação com a recente onda de inconformidade que tomou as ruas de várias cidades? Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Izabel Noll é preciso lembrar que o público no interior do estádio pagou centenas de reais pelos ingressos e representa um estrato social mais abastado, com prioridades específicas.

– Essa classe média consolidada não teve ganhos tão significativos com a estabilidade econômica. Já tinha casa própria, carro. A vaia deixa claro que há uma insatisfação no ar – avalia Maria Izabel.

Inconformidade inclui várias bandeiras

Essa insatisfação inclui o desconforto com a corrupção, a ameaça da inflação, carências em saúde, educação e segurança pública, além da elevada carga tributária brasileira – tema bastante caro para as classes média e alta. Embora os protestos de dentro e de fora do estádio tenham diferenças, para Maria Izabel todos traduzem inconformidade popular e tendem a se reforçar mutuamente em um ambiente geral de contestação.

– Como há um descontentamento genérico em relação aos governos, não só ao governo Dilma, há um processo de retroalimentação entre esses protestos todos – analisa.

Para o cientista político e diretor do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (InPro), Benedito Tadeu César, os apupos a Dilma não devem ser superdimensionados.

– Lula também foi vaiado, e a aprovação da presidente ainda é superior à de Lula e à de FH nos mesmos períodos de governo. Há sempre uma parcela de descontentes – pondera o cientista político.

Para César, a insatisfação popular explica os fenômenos verificados dentro e fora dos estádios, mas o grau de descontentamento nas ruas é maior do que o vislumbrado no Mané Garrincha na tarde de sábado.

– As pessoas estão lá no estádio para um evento esportivo, não para ficar homenageando político. Em relação aos protestos nas capitais, são deflagrados por um somatório de coisas, como a inflação e o comportamento das polícias militares – avalia.

Os próximos dias deverão mostrar o que seguirá soando mais alto no país: os gritos de gol, as bombas ou as palavras de ordem.

Fonte: Zero Hora (RS)

Planalto minimiza vaia a Dilma; aliados fazem alerta

Episódio aconteceu menos de uma semana após Datafolha detectar queda de popularidade da presidente

BRASÍLIA - Interlocutores da presidente Dilma Rousseff e líderes da base aliada minimizaram ontem a sequência de vaias que a mandatária levou sábado na abertura da Copa das Confederações, no Estádio Nacional Mané Garrincha, na capital federal.

Apesar de o episódio ter ocorrido menos de uma semana após a pesquisa Datafolha apontar uma queda de oito pontos percentuais na popularidade da presidente, integrantes do Palácio do Planalto defendem que o episódio não representa a real percepção da população brasileira sobre ela. Eles ressaltam que a ampla maioria da população ainda avalia positivamente o governo federal.

- Não estamos dando a esse episódio o tamanho que os jornais estão dando. As pessoas que estavam ali não queriam ouvir discurso, teriam vaiado qualquer um. A popularidade dela (de Dilma) é a maior entre as de todos os presidentes da República. Ela saiu de uma situação excelente para uma ótima. Isso não nos preocupa - disse um interlocutor da presidente, que preferiu não se identificar.

Lula foi vaiado no Pan

Na base aliada, apesar da avaliação uníssona de que o episódio não reflete o "sentimento geral do país", o líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE), considera que o protesto tem relação com as recentes manifestações contra o aumento das passagens de ônibus que tomaram as ruas de várias capitais brasileiras. Guimarães destacou que vaias a políticos em estádios são comuns, lembrando o episódio com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos Jogos Pan-Americanos de 2007, mas acredita que a repressão violenta aos protestos na última semana pode ter piorado a situação.

- Claro que a gente tem de estar sempre avaliando conjuntura, mas isso (as vaias) é um sentimento pontual, não é assunto para a gente criar qualquer movimento para responder - justificou o petista, que estava no estádio. - Nossa preocupação é botar o país para funcionar. Agora, o país vive neste momento um clima, um processo aguçado de convivência democrática, e isso está dentro dessa onda de mobilização que está havendo em relação às passagens e aos gastos da Copa das Confederações. Qualquer político que fosse anunciado ontem no estádio receberia vaias.

De acordo com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), o cenário era especialmente delicado para a presidente, já que sua popularidade é maior entre as classes mais pobres, enquanto a capital federal apresenta a maior renda per capita do país. Para o peemedebista, o dever do governo agora é trabalhar para reduzir a inflação - considerada a principal responsável pela queda na avaliação nas pesquisas.

- Acho que tem um movimento acontecendo, sim, não resta dúvida. Agora, qual o tamanho e a extensão desse movimento, ainda não se sabe. O governo tem que governar. Não há o que fazer. É perceptível que estamos tendo um movimento de reação à inflação. O que o governo tem de fazer é trabalhar para combatê-la - defendeu Cunha.

Fonte: O Globo

Vaias a Dilma fazem Planalto mudar estratégia

A repercussão negativa dos apupos de torcedores Leva o governo a tomar cuidado com a exposição da presidente e a rever as prioridades. Políticos e especialistas divergem sobre o impacto da hostilidade.

Cautela na avaliação das vaias

Reação da torcida reflete, em parte, a insatisfação de uma parcela da população, mas não garante trunfos para 2014

"Para quem vaiou, o governo não demonstra bom desempenho. Mas é cedo para falar em eleições"
Ricardo Caldas, cientista político

"Não vejo significado político especial, mas ninguém deve fazer discurso em estádio de futebol"
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), senador

As vaias no Mané Garrincha à presidente Dilma Rousseff inflaram ainda mais o discurso oposicionista. Do lado governista, o episódio foi encarado com cautela e como indicador de que é preciso tomar cuidado para evitar tropeços nas urnas daqui a um ano. Na oposição e entre cientistas políticos, a maioria das análises também vai no caminho da prudência, mas há quem tire conclusões definitivas sobre o nível de insatisfação com o governo e suas consequências em 2014.

"Esse fato específico tem que ser analisado com dimensão especial. Ele mostra que, realmente, os erros do governo passaram a ser percebidos pela população. Foi um sinal de reprovação. Com os problemas se avolumando, a inflação e o risco de redução da taxa de emprego, o resultado será explosivo", previu o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO), para quem a disputa presidencial vai ao segundo turno em 2014, com "chances reais" de Dilma perder.

Em tom similar, o líder do MD na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse acreditar que o que ocorreu no último sábado reflete sentimentos de insatisfação e indignação. "As pessoas estão percebendo que o governo tem mais marketing do que ação de políticas (públicas). O que a população sente, ela leva para as urnas", avaliou Bueno, que também aposta em um desgaste da candidata do PT até 2014.

Mais ponderado, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), preferiu seguir a linha rodriguiana. Um dia após o constrangimento de Dilma na abertura da Copa das Confederações, o tucano relembrou episódio da adolescência, quando, ao distribuir panfletos com críticas à ditadura em um estádio de futebol, foi recebido com chuva de pipoca e gritos de "Cai fora, comuna". "Como disse Nelson Rodrigues, em campo se vaia até minuto de silêncio. Não vejo significado político especial nem relação com 2014. Nós políticos não estamos com esta bola toda. A lição que se tira é que ninguém deve fazer discurso em estádio de futebol", brincou.

Também adepto da escola do jornalista e escritor brasileiro, o cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo Carlos Mello defende que é preciso relativizar as vaias a Dilma. "O governo passa por um mau momento, isso é inegável. Houve uma queda na popularidade de Dilma, que ainda é alta, e uma semana de protestos. Eu não diria que a vaia pode significar qualquer tipo de indicador da chancela dela em 2014. A única conclusão objetiva que se tira disso é que é tradição das torcidas de futebol vaiar representantes, em particular quando estão em mau momento", disse.

Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Caldas entende as vaias como reflexo da frustração de expectativas da sociedade. Mas pondera a respeito de possíveis conclusões sobre 2014. "A inflação está voltando, o prometido crescimento econômico não vem, a produção industrial caiu e a taxa de desemprego, que se mantém boa, vai piorar em algum momento. Para quem vaiou, o governo não está demonstrando um bom desempenho. Mas ainda é cedo para se falar nas eleições", disse.

Fonte: Correio Braziliense

Dilma deve ter participação discreta na final

Depois das vaias que recebeu na abertura da Copa das Confederações, Dilma Rousseff deverá ter participação mais discreta na final da competição no Maracanã.

Dilma será discreta no Maracanã

Assessoria do Palácio do Planalto confirma que a presidente vai ao Maracanã na final da Copa das Confederações

A vaia recebida no Estádio Mané Garrincha, em Brasília antes da partida entre Brasil e Japão, não afastará a presidente Dilma Rousseff da final da Copa das Confederações, no Maracanã, no dia 30 de junho. A assessoria do Palácio do Planalto confirmou ontem que ela estará 00 Rio para acompanhar a decisão. Aliados e integrantes do governo avaliam que Dilma não deveria aceitar eventual convite para discurso ou até pedir para não aparecer 110 telão para evitar novos apupos. A manifestação do público foi avaliada por petistas e assessores como um ato desvinculado de motivações políticas. "É um jeito moleque do torcedor brasileiro. Qualquer político que fosse ao estádio e anunciassem o nome seria recebido da mesma forma, resumiu o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), A previsão já era de a presidente comparecer a apenas dois jogos, a abertura e a final Ela não deverá estar presente nesta semana nas partidas do Brasil em Fortaleza, na quarta-feira, e em Salvador, no sábado, nem nas semifinais. Dilma fará, inclusive, uma viagem ao Japão na próxima semana e chegará de volta ao País já 110 dia da decisão do torneio no Maracanã.

A vaia deverá apenas fazer com que o governo brasileiro aumente a preocupação com o protocolo. Aliados da presidente defendem que seja evitada nova situação que a exponha a manifestações negativas. “Estádio não é ambiente para discurso, é um público arredio a político e acostumado a vaiar porque já faz isso com os times”, observa o deputado Vicente Cândido (PT-SP), dirigente da Federação Paulista de Futebol

A intenção dos aliados é solicitar à Fifa que a presença seja tratada de forma discreta. Além de evitar o microfone, anúncios da presença e imagens dela no telão não deveriam ser mostradas, na visão de pessoas próximas a Dilma. O líder do PT na Câmara, porém, acredita não ser necessária tanta preocupação, não devemos perder o sono, foi algo contra a política em geral, não contra ela, avalia Guimarães.

O ex-capitão da seleção brasileira e hoje membro do Comitê Técnico da Fifa, Gafa, admite que a vaia que a presidente Dilma Rousseff recebeu “não repercutiu muito bem”, mas alertou que essa era aa voz do povo brasileiro”.

Em coletiva de imprensa, Gafa respondeu a uma questão do Estado sobre a situação vivida por Dilma 110 sábado, “Ela é a presidente do Brasil, é a autoridade máxima, que sem sombra de dúvida impõe respeito”, disse. "Mas é o povo brasileiro e não dá para conter a todos. É uma situação desagradável, é uma situação ruim e não repercutiu muito bem. Mas é a voz do povo brasileiro", declarou.

Durante a vaia, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, deu uma bronca na torcida, pedindo que o público respeitasse a presidente e que adotasse uma posição de “fair-play”. O cartola foi ignorado. A assessoria de imprensa da Fifa questionada sobre o motivo pelo qual Blatter teria dado a bronca na torcida, se recusou a fazer comentários.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Onda de protestos leva governos à negociação

A escalada de manifestações contra os aumentos das tarifas de ônibus e contra os gastos com a Copa do Mundo teve mais um capítulo violento ontem. Cerca de 300 pessoas foram contidas pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e tiros de bala de borracha, antes do jogo México e Itália, no Maracanã, no Rio de Janeiro.

Governos municipais, estaduais e o federal abrem a semana em busca de uma solução negociada para a crise. O ministro Gilberto Carvalho recebe, hoje, no Planalto, representantes dos grupos que participaram do movimento de sábado no Mané Garrincha. Em São Paulo, o governador, Geraldo Alckmin, aceitou dialogar. Os atos ganharam a solidariedade de brasileiros em Dublin, na Irlanda.

Negociação para evitar confrontos

Autoridades em São Paulo e em Brasília convocam reunião com os organizadores a fim de enfrentar a onda de passeatas e garantir atos pacíficos, sem prejudicar a população

Julia Chaib

A onda de protestos que começou há duas semanas em São Paulo, contra o aumento das tarifas de transporte público, se estendeu agora ao calendário de jogos da Copa das Confederações. Além da manifestação que ocorreu em Brasília, na estreia da Seleção Brasileira na competição, ontem foi a vez do Rio de Janeiro, no jogo da Itália contra o México. Ao atrelar os atos ao evento internacional, o movimento, que avançou por, pelo menos, 10 municípios e que já tem adesão de brasileiros em outros países, ganha ainda mais visibilidade. Pelo menos 30 cidades no Brasil e no exterior têm protestos marcados para esta semana. Para evitar que haja descontrole e uso da força policial, autoridades em São Paulo e em Brasília querem negociar com os participantes.

O objetivo é garantir que os protestos sejam de fato pacíficos, com a prévia definição dos trajetos, para evitar danos e prejuízos à população. Hoje, haverá protesto em São Paulo — o quinto pela redução das tarifas de transporte na capital — para o qual 180 mil pessoas haviam confirmado presença pelo Facebook até a noite de ontem. A Secretaria de Segurança Pública do Estado se encontra pela manhã com membros do movimento pela manhã para garantir que seja pacífico. Na capital federal, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também tem reunião marcada para hoje com manifestantes (leia mais na página 27).

"Queremos que os participantes exerçam o direito de manifestar. A Polícia Militar tem condições de planejar com algumas horas de antecedência a melhor forma de reduzir o encontro com o restante da população e de proteger os manifestantes. O fundamental é definirmos um trajeto que será percorrido. Com isso, faremos um bloqueio de rua, de modo que a população não saia prejudicada", disse o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella. Amanhã, a prefeitura de São Paulo fará uma reunião para discutir a questão do transporte público. O último protesto na capital paulista, na quinta-feira passada, foi marcado por violência policial e atos de vandalismo de alguns participantes. Dezenas de pessoas ficaram feridas e mais de 200 foram detidas.

Atos de apoio aos movimentos brasileiros aconteceram ontem em duas cidades estrangeiras, Dublin, na Irlanda, e em Berlim, na Alemanha. Em Porto Velho (RO), centenas de pessoas também fizeram passeata que disseram ser "a favor da democracia".

Em Dublin, na Irlanda, brasileiros fizeram ato de solidariedade

Maracanã

A exemplo da manifestação que ocorreu no sábado, em Brasília, nos arredores do Estádio Mané Garrincha, no Rio, a área próxima ao Maracanã, foi palco de protesto ontem. Para conter os cerca de 800 manifestantes que queriam se aproximar dos portões de entrada, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e tiros de bala de borracha contra o grupo. O ato no Rio começou pouco antes do início do jogo entre México e Itália, às 16h. Os manifestantes pediam a redução da tarifa da passagem de ônibus e criticavam os excessos de gastos com a competição.

O embate ocorreu na saída da estação de metrô São Cristóvão, a cerca de um quilômetro do Maracanã, onde cerca de 50 mil pagantes entravam para ver o jogo. Uma equipe da Força Nacional se uniu à tropa de choque para impedir que o grupo chegasse muito perto do estádio. Com a reação da polícia, os manifestantes foram em direção ao Parque Quinta da Boa Vista, que fica próximo à estação do metrô. Pais e crianças que estavam no local também foram atingidos pelo gás lacrimogêneo e pelo spray de pimenta, sem contar o pânico pelo qual passaram. Pelo menos cinco pessoas foram detidas.

O grupo foi disperso depois de uma negociação com a polícia, por volta das 17h. Os participantes relataram que ela foi bastante violenta. Quando terminou a partida, perto das 18h, porém, manifestantes voltaram a se aproximar do estádio. A PM formou um cordão para não deixar que eles chegassem perto da arena e atrapalhassem a saída das pessoas. Antes do início do jogo, vários torcedores tiveram de cobrir o rosto para evitar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo. A manifestação cessou de vez por volta das 19h.

Exterior

Na capital irlandesa, Dublin, cerca de 2 mil pessoas, número estimado pela polícia local, compareceram à manifestação pacífica pela manhã. Na Alemanha, em Berlim, cerca de 400 brasileiros participaram do ato contra o aumento de tarifas de transporte público e contra excessos da polícia brasileira. "Na sexta de manhã, depois da truculência da noite de quinta em São Paulo, a gente resolveu fazer a nossa parte por aqui também, para chamar a atenção da mídia internacional e dar apoio aos que estão apanhando no Brasil", disse uma das organizadoras do evento. Nenhum confronto ocorreu nas duas situações. Hoje, devem ocorrer protestos em outras 13 cidades brasileiras e em mais duas no exterior. Ao longo da semana, outras manifestações também estão sendo organizadas.

Fonte: Correio Braziliense

As manifestações populares: atacar os verdadeiros problemas da Nação ¬- Alberto Goldman

Para explicar os primeiros resultados do movimento é preciso constatar que algo mais está acontecendo. Vou chamar de movimento tectônico, como se fossem placas nas profundezas da sociedade, que se movimentam e produzem pequenos terremotos e vulcões, no caso manifestações quase espontâneas. É prova de que existe um descontentamento na alma profunda do povo que só se explica pelos anos e anos de desrespeito aos princípios republicanos de justiça e de democracia, pela corrupção e pela impunidade que permeiam a vida pública, agravado pela situação econômica que começa a mostrar que nem tudo é tão róseo quanto o governo propagandeia.

Tudo isso vem à tona. Parece fora de dúvida que após a euforia dos últimos anos começa a haver a percepção de que se vivia um momento de fantasia. É positivo o fato das pessoas verem que foram ludibriadas por uma propaganda enganosa que lhes prometia o paraíso terreno, pela eternidade, sob o argumento de que “nunca antes nesse país” se fizera algo de bom para o povo.

Como não se enfrentam grupos organizados, mas um sentimento difuso de indignação e revolta, é preciso que as ações policiais tenham o cuidado de buscar apenas aqueles que usam da violência em suas manifestações, sob pena de se atingir cidadãos inocentes que sequer participam dos atos ou são simples participantes entusiasmados com a perspectiva de modificar alguma situação que lhes causa descontentamento e repúdio.

E, o mais importante, é preciso dirigir esse potencial de vontade popular para atacar os verdadeiros problemas da Nação.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, In Blog do Goldman

O Brasil e o mundo de olho em São Paulo

Protestos contra o aumento das tarifas de ônibus estão marcados para hoje em quatro capitais. Em São Paulo, desta vez, o governo promete não usar a Tropa de Choque. Atos de apoio aconteceram ontem na Europa e nos EUA.

Nova onda de protesto

Polícia de São Paulo quer negociar trajeto e manifestantes resistem ; Rio, Minas e DF terão atos

SÃO PAULO - Manifestantes e policiais estarão hoje, mais uma vez, frente a frente em São Paulo e em pelo menos outras três capitais do país - Rio, Brasília e Belo Horizonte. A quinta jornada de protestos contra o aumento das passagens na capital paulista, anunciada pelos organizadores como a maior até aqui, terá inicio no fim da tarde, no Largo do Batata, em Pinheiros. O governo estadual, preocupado com as consequências, abriu negociações, mas os líderes do Movimento Passe Livre (MPL) não aceitam discutir com as autoridades o percurso do protesto. O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, garantiu que a polícia não usará a Tropa de Choque da PM, nem gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha.

O movimento espera a participação de 20 mil pessoas. Nas redes sociais, quase 190 mil haviam confirmado presença. Algumas sugeriam o uso de escudos e capacetes para se defender da polícia. Mas o governo, depois do desgaste sofrido pela atuação violenta da polícia nos últimos protestos, está agora agindo com cautela. O objetivo da reunião prevista para hoje com o MPL, explicou Grella, é permitir que a Polícia Militar possa planejar com antecedência a melhor forma de minimizar os transtornos à cidade. Na quinta-feira passada, foi o descumprimento de um acordo feito entre líderes do grupo e a PM sobre o percurso que provocou o confronto.

- O fundamental é definirmos o trajeto. É a melhor maneira de reduzir o incômodo para o restante da população e de proteger os próprios manifestantes. Com isso, faremos um ordenamento do trânsito, com bloqueio de ruas e adjacências - afirmou.

Mas os organizadores relutam em negociar o percurso:

- Estamos abertos ao diálogo, mas acreditamos que os manifestantes são os responsáveis por definir o trajeto. O papel da PM é garantir a liberdade do povo de se manifestar, e nós vamos ocupar vias importantes da cidade, sobretudo porque devemos reunir cerca de 20 mil pessoas - disse Mayara Vivian, integrante da linha de frente do MPL.

Para reunir o maior número de manifestantes em São Paulo, os organizadores contam com a adesão de entidades ligadas à Central Sindical e Popular-Conlutas. No perfil do movimento no Facebook, pessoas defendiam o direito de levar vinagre, usado para reduzir os efeitos do gás lacrimogêneo. O secretário de Segurança, contudo, garantiu que o produto não será necessário diante da expectativa de uma passeata pacífica, sem a Tropa de Choque. O número de policiais que estarão nas ruas para acompanhar o protesto não foi divulgado.

- Não vai precisar de vinagre porque não vai ter bomba - disse Grella.

Por precaução, a estação do metrô Pinheiros, ponto de partida da passeata, ontem já estava cercada por tapumes. A concessionária informou que o objetivo é "proteger o patrimônio público e resguardar a segurança de seus usuários". Ontem, jovens se reuniram para Praça Roosevelt para confeccionar cartazes.

Protesto na estreia de BH na Copa

Manifestações menores, em solidariedade ao ato de São Paulo, deverão ocorrer em mais três cidades. Em Brasília, o grupo pretende se reunir em frente ao Museu Nacional, na Esplanada, às 16h, e seguir para o Congresso. No Rio, o ato começará na Candelária, partindo provavelmente pela Avenida Rio Branco em direção à Cinelândia. Em Belo Horizonte, a mobilização acontecerá no dia da estreia da capital mineira na Copa das Confederações. A concentração está marcada para as 13h na Igreja São Francisco de Assis, próxima do Mineirão.

Os mineiros vão protestar apesar de uma proibição judicial. Na última quinta-feira, liminar do desembargador Carlos Augusto de Barros Levenhagen, do Tribunal de Justiça, a pedido do governo estadual, proibiu qualquer tipo de manifestação no estado durante o evento esportivo.

Fonte: O Globo

Declarações do ministro foram oportunistas, diz líder do PSDB

Catia Seabra

BRASÍLIA - O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), acusa o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo de "ultrajante e constrangedor oportunismo" ao, na sua opinião, explorar "com sofreguidão eleitoral" a crise provocada pelo aumento das passagens em São Paulo.

Na quinta, Cardozo disse o governo estava "à disposição" para cooperar "no que for necessário" na contenção dos protestos. Na sexta, condenou a "extrema violência policial" em São Paulo.

Oferta de ajuda

Cardozo mostra que não sabe discernir entre a função institucional e sua sofreguidão eleitoral de candidato a governador. Seu primeiro movimento foi de colocar-se à disposição do governo diante das câmeras. Ninguém oferece ajuda pela imprensa. Se quisesse ajudar a sério, teria telefonado para o governador. (...) Por que não se colocou também à disposição do Rio Grande do Sul, do Distrito Federal e de Estados do Nordeste? A solicitude dele é seletiva (...) porque ele é candidato ao governo e o Estado tem um governador do PSDB.

Cadáver do índio

Ele (Cardozo) está politizando e partidarizando esse assunto, coisa que não fizemos nos episódios em que houve violência, legítima ou não, da Polícia Federal. Não fomos colocar no colo dele o cadáver do índio que morreu na reintegração de posse da fazenda Buriti (o terena Oziel Gabriel, morto em 30 de maio em Sidrolândia, Mato Grosso do Sul).

Decoro e recato

Cardozo se vale do cargo em benefício eleitoral. Faz isso com oportunismo evidente e constrangedor. Ministro da Justiça deve se comportar com mais circunspecção, mais recato, mais decoro. É um oportunismo ultrajante. Quando ele quer usar o chapéu de ministro, colabora de forma eficaz, como na criação da agência de atuação integrada. O mal é quando se deixa arrastar pela sofreguidão eleitoral.

Fernando Haddad

Alckmin não chamou manifestação de rua, o PSDB não saiu quebrando ônibus e atacando policiais. Não fizemos nada para desgastar Haddad. Quem se desgastou foi ele mesmo, que ficou durante muito tempo em silêncio e depois deu declarações contraditórias. Vai para lá e para cá. Quando o PT dirige o foco das manifestações contra a atuação da polícia, tenta fazer com que as pessoas esqueçam que quem deu o aumento do ônibus foi o Haddad.

Se o ministro da Justiça não procurou o governador para oferecer ajuda, seguramente se concertou com o comando do PT e combinaram uma ação para tentar transformar esse num movimento contra a ação da polícia.

Geraldo Alckmin

O que governador (Alckmin) disse é o que todos nós sabemos: que o Brasil, na gestão PT, se transformou no maior consumidor de crack e no segundo maior mercado de cocaína do mundo, e que isso é responsabilidade do governo federal. É óbvio.

Excessos da polícia

Houve excessos na ação da polícia. O próprio secretário de segurança instaurou uma sindicância. A polícia de São Paulo é a mais bem preparada do Brasil. No entanto, comete excessos e para isso tem uma corregedoria. Mas Cardozo decreta que houve excessos da polícia sem se dirigir a quem está investigando, que é o secretário de Segurança.

Bala de borracha

O governo precisa fazer uma revisão de seu protocolo de ação, se possível banir as balas de borracha nessas circunstâncias. Mas a polícia não pode ficar de braço cruzado quando determinado grupo, qualquer que seja sua motivação, prejudica o direito dos demais.

PT

O PT participou disso no passado. Talvez agora tenham tirado o pé. Mas entrada do ministro no assunto é uma tentativa de surfar na onda dos protestos e proteger o Haddad.

Aécio Neves

[A participação do senador Aécio Neves (MG) no programa estadual do PSDB, na qual acusa o governo federal de omissão no combate à violência] não é oportunismo eleitoral. Estamos dizendo isso há muito tempo. Essa omissão se traduz em números, em corte de recursos e na falta de verbas, de pessoal, delegacias.

Fonte: Folha de S. Paulo

E eles saíram do Facebook - Ricardo Noblat

“Temos a melhor policia do Brasil”- Geraldo Alckmin, governador de S. Paulo

O que distingue a época em que eu corria dos PMs montados a cavalo nas ruas centrais do Recife desta, quando escrevo sobre os jovens vítimas da violência da PM de São Paulo, é que há 45 anos vivíamos sob o tacão da ditadura militar inaugurada em março de 1964 e só concluída formalmente em março de 1985. De resto, agora como antes, o que os jovens tentam fazer é somente política. E nada mais.

AQUELES OBRIGADOS a conviver com a ditadura eram chamados pelas autoridades de subversivos, comunistas e, mais tarde, terroristas. Assim também eram apresentados pela imprensa em geral. Enfrentavam a repressão com paus e pedras e derrubavam cavalarianos com bolas de gude. Até dezembro de 1968 apenas apanhavam e eram presos por pouco tempo. Dali para a frente passaram a ser torturados e mortos.

MUITOS ERAM "filhos órfãos de pais vivos — quem sabe... Mortos, talvez... Órfãos do talvez e do quem sabe"! Ou "viúvas de maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe e do talvez" como denunciou o cearense Alencar Furtado, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, em discurso que lhe custou o mandato, cassado em junho de 1977 pelo presidente-general Ernesto Geisel.

UM OBJETIVO unificava as diversas tendências e organizações que atraíam os jovens: a luta pela liberdade. Quando a ditadura tirou a máscara e exibiu sua carranca medonha, os jovens se dividiram entre duas formas de combatê-la: pela via legal do prudente exercício cotidiano da política e pela via armada. Quando a ditadura chegou ao fim, os que ainda eram jovens foram terminar seus estudos e cuidar da vida.

O AMBIENTE ESTUDANTIL, as entidades juvenis que restaram e os partidos que passaram a atuar livremente depois da redemocratização do país foram incapazes de seduzir as gerações que sucederam àquelas sacrificadas ou brutalizadas pela ditadura de 64. Quem se encarregou de fazê-lo foi a sociedade de consumo com todas as suas formidáveis invenções. Os jovens só se animaram a sair às ruas para derrubar Collor e eleger Lula.

AS REDES SOCIAIS começaram a funcionar como seu ponto de encontro e sua tribuna. O manifesto eletrônico tomou o lugar dos antigos abaixo-assinados. Nunca se produziu tanto manifesto como nos últimos dez anos. Basta colar ali o nome previamente digitado e sair para a balada. Ainda é assim. Talvez ainda seja assim por muito tempo. Talvez esteja deixando de ser assim. É cedo para saber. E, no entanto...

NO PERÍODO de apenas uma semana, alguns milhares de jovens marcharam pelas ruas de uma dezena de cidades protestando contra o aumento das passagens de ônibus, os milionários gastos públicos com a Copa do Mundo e o Estatuto do Nascituro. O epicentro dos protestos foi a capital de São Paulo. Ali, esta noite promete novos confrontos entre o novo e o velho, o aprendiz e o sabe-tudo.

POUCO IMPORTA que os jovens disparem suas exigências em todas as direções sem priorizar nenhuma, que careçam de líderes com os quais se possa dialogar e que acolham em seu meio uma minoria de baderneiros e de vândalos. Desde quando foi diferente no passado? Somente a experiência ensina. E não há porque imaginar que os jovens de hoje não aprenderão.

POR MAIS LEGÍTIMO que seja, o poder existe para ser contestado. Senão for pode virar tirania. A natureza do poder é conservadora. A natureza da rebeldia é destrutiva. O progresso social e humanístico é filho do confronto entre a rebeldia e o poder.

Fonte: O Globo

Rio tem outro dia de protesto violento

Manifestantes são agredidos no Rio

Assim como ocorreu em São Paulo, Polícia Militar carioca reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha multidão que protestava no Maracanã

RIO - A Polícia Militar atacou com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo e balas de borracha as cerca de 3 mil pessoas que protestavam nas imediações do Maracanã, no Rio, antes e durante o jogo entre México e Itália. A manifestação, que era pacífica, transformou-se em um tumulto que afetou até mesmo torcedores. Os participantes do protesto foram contidos a 700 metros da entrada principal. Eles bradavam contra os gastos para a Copa do Mundo, a corrupção, a má administração pública e a má qualidade do transporte público, inspirados na onda de levantes iniciada em São Paulo.A névoa enfumaçada que se formou no entorno do Maracanã fez com que centenas de pessoas passassem mal, com crises de tosse, lágrimas nos olhos e dificuldades para respirar. Asmática, uma jovem manifestante teve que ser socorrida pelos colegas. Até policiais reclamavam dos efeitos dos explosivos.

Os manifestantes começaram a se concentrar às 14h na estação de metrô São Cristóvão, uma das três que dão acesso ao estádio. Pouco antes das 15h, tentaram subir o viaduto Oduvaldo Cozzi, que dá acesso ao portão da estátua do Bellini. Eles foram impedidos pela PM, que só permitia a passagem de pessoas com ingressos ou credenciais para o jogo. O grupo tentou seguir pela vizinha Rua General Canabarro, mas foi mais uma vez barrado. Às 15h20, o Batalhão de Choque da PM apareceu, com profissionais da Força Nacional de Segurança na retaguarda. Foi quando um policial borrifou spray de pimenta na nuca de um manifestante. Em seguida, os PMs do Choque começaram a lançar as bombas.

Manifestantes, jornalistas e torcedores correram, na tentativa de se proteger. A manifestação se dispersou momentaneamente. O torcedor Dejair Freitas, 28 anos, saiu da estação no momento em que os manifestantes foram atacados pela PM. "Uma das bombas quase me atingiu. Foi por muito pouco. Ela caiu ao meu lado, mas ainda assim veja como estou", disse, apontando para os olhos vermelhos e lacrimejantes.

Na sequência dos acontecimentos, cerca de 500 manifestantes reagruparam-se, sentando no asfalto, no acesso à Quinta da Boavista. Eles cantavam o Hino Nacional quando foram novamente atacados pela PM, que atiraram mais bombas.

Os policiais alegaram que precisavam desocupar a via pública, parcialmente interditada pelos manifestantes. Na confusão, a estação do metrô foi fechada. Os insurgentes foram acuados pela PM, que não deixou ninguém sair do local.

A PM contabilizou oito manifestantes detidos para averiguação de antecedentes. Eles foram levados para a 18ª Delegacia, na Praça da Bandeira. A polícia não revelou o saldo de feridos.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Apertem os cintos - Valdo Cruz

Se a semana passada foi ruim para a presidente Dilma, com queda de popularidade, dólar em alta e vaias, esta pode reservar notícias piores na economia.

Amanhã e depois, o FED (banco central americano) pode fazer a tensão no mercado cambial subir ainda mais. Seu presidente, Ben Bernanke, dirá se e quando vai retirar os estímulos à economia americana.

Dependendo do que ele falar, vai aumentar a revoada de dólares dos países emergentes, Brasil incluído, para os Estados Unidos. Aí está o maior risco para a presidente.

Hoje, apesar da piora nos números da economia brasileira, explorada pela oposição, a petista tem razão em dizer que o Brasil não está uma tragédia, vai até, de certa forma, bem. O suficiente para mantê-la bem na foto. Por enquanto.

Afinal, o próprio governo reconhece que, como mostrou a última pesquisa Datafolha, a inflação é um dado-chave para Dilma se manter favorita na eleição presidencial.

Neste momento, quando a equipe econômica aposta no seu recuo, um dólar mais valorizado irá exercer pressão de alta sobre os preços e jogar contra o Planalto. Aí, o Banco Central terá de subir os juros bem mais do que o previsto.

Poderia até não pegar tão pesado, mas dependeria de uma mãozinha do Ministério da Fazenda, com um aperto maior na política fiscal. Mas isso, pelo visto, não virá, além do já prometido: cumprir um superávit primário de 2,3% do PIB.

O fato é que o governo segue, neste momento, confiante no seu receituário bastante desbalanceado. BC subindo juros sem grande ajuda na área fiscal. Planalto lançando programas para elevar o crédito quando o BC tenta contê-lo. É um para cá e outro bem para lá.

Enfim, as previsões indicam riscos de turbulências no ar. Recomenda-se apertar os cintos. Caso contrário, as vaias vindas "da classe média alta" no estádio de Brasília podem se alastrar para outros setores.

Fonte: Folha de S. Paulo

A falência dos políticos - José Roberto Toledo

Balas de chumbo e borracha tomaram o lugar da política na resolução de conflitos entre o Estado e segmentos da sociedade:, no Brasil. índios, manifestantes e jornalistas acabaram do lado errado dos canos das armas da polícia - enquanto autoridades se escudavam atrás de microfones na segurança de seus gabinetes»

A inapetência das lideranças políticas brasileiras não distingue partidos, Nem prefeito, nem governador, nem sequer um vereador deu a cara nas cenas de conflito para tentar mediar impasses. Passaram a responsabilidade para policiais. Deu no que deu.

Se os políticos profissionais se escalam para assistir jogo da seleçãoe, quiçá, vaiar os colegas mas evitam as esquinas onde seus eleitores aspiram gás lacrimogêneo, cabe perguntar: eles servem a quem?

O apagão de lideranças no Brasil é mais contundente do que os cassetetes da PM paulista. Não é coincidência que o movimento que pretende parar as maiores cidades do país se declare “horizontal, autônomo, independente e apartidário? A ausência de um líder tradicional parece confundir políticos e policiais.

Um comandante da PM de Brasília reclamou da falta de interlocutor à altura de sua patente do outro lado o lado dos manifestantes anti-Gopa que ele dispersou abalas e bombas. Os políticos também parecem aturdidos com a falta de hierarquia dos manifestantes.

Não há “cabeças” com quem barganhar, a quem cooptar nem para cortar. O apagão de lideranças no ‘ Brasil é mais contundente do que os cassetetes da PM.

Essa é, porém, a maior característica da pós-política. Organização em rede, voluntária, heterogênea e sem estrutura de comando. Só não confunda ausência de líderes com falta de liderança. É bagunça organizada. Começa no dia e hora marcados em locais previamente combinados.

No sumiço dos políticos, nota-se um cálculo marqueteiro de qual lado ficar para mais faturar? O prefeito Fernando Haddad (PT) ainda está calculando. Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB) achou que seria do lado da repressão. Tudo caminhava para ele se consagrar como quem pôs ordem na casa, até a crise tomar um atalho.

Na narrativa preponderante, a manifestação contra o aumento do ônibus metrô começou como uma curiosidade, virou um estorvo, evoluiu para baderna e tinha tudo para acabar com a glória da repressão policial na quinta-feira passada. No palco escolhido, a esquina da Consolação com Maria Antonia, havia espaço suficiente para acomodar helicópteros de todas as emissoras de televisão.

Mas aí a sede de vingança da tropa falou mais alto vingança pelo quase linchamento de um policial na manifestação anterior. O pelotão de choque começou a batalha atirando para onde estava virado. Bombardeou posto de gasolina, carro, idoso, apartamento.

Multidão dispersada, começou a caçada aleatória a transeuntes. Por ai falta de mira ou intenção, os policias acertaram 15 jornalistas. A narrativa muda quando o narrador vira parte da história. De vítima, a polícia virou algoz. E Alckmin teve que ouvir lição de moral ao vivo num programa televisivo,

Não que o governador não possa sair dessa ainda mais favorito ã reeleição, No interior paulista, quem não gasta quatro horas diárias para ir e voltar do trabalho em ônibus cada vez mais lotados talvez simpatize com sua posição a favor da ordem.

Já na capital, a pesquisa Datafolha, feita a quente, mostrou uma cidade dividida. “A molecada está certa”, resumiu um passageiro. Ele explica os 55% de apoio às manifestações: se o serviço é mim e só piora, aumento d a passagem é tapa 11a cara do usuário. As depredações e os engarrafamentos engordam os 40% que são contra.

Unanimidade, só a do vinagre. Sua posse, mesmo podendo levar à prisão, virou item de primeira necessidade.

E o único alívio contra a lacrimejante atmosfera paulistana. Vinagre é o novo tomate.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A pedra no lago - Denise Rothenburg

O problema da vaia não é o volume. É o despertar que provoca, fazendo com que várias notícias negativas para o governo sejam elencadas como motivos para aquele tipo de manifestação

Desde que virou candidata a presidente da República, foram poucas as vezes em que a presidente Dilma Rousseff esteve tão exposta quanto no último sábado, na abertura da Copa das Confederações. Até na campanha, onde estava muitas vezes acompanhada do presidente Lula, a liturgia do cargo do padrinho deixava Dilma longe do povo. Depois, já presidente, outras oportunidades, como nas ruas de Nova York, ela sempre foi aplaudida, elogiada, cercada de sorrisos, pedidos de autógrafos e fotografias. Agora, tem a certeza de que tudo está diferente. E, se o cenário não mudar, a campanha pela reeleição promete ser muito mais dura do que foi a vida de candidata e de presidente até aqui. Mas, nisso tudo, algo chama a atenção: a dificuldade de Dilma em criar para si própria uma personagem que faça "cara de paisagem" perante as adversidades.

O fato de o semblante presidencial não esconder o desconforto com as vaias destoa do que geralmente ocorre com os políticos. Em situações adversas, muitos deles fingem que não viram ou dão aquele minúsculo sorriso amarelo e seguem em frente, como se nada tivesse acontecido. Dilma, não. Ficou aborrecida e expressou isso no olhar, na fisionomia como um todo. Para alguns, esse comportamento pode soar como inapetência da presidente para o by Text-Enhance" href="http://imgsapp.impresso.correioweb.com.br/">exercício da política. Para uma ampla maioria, entretanto, é algo positivo, porque mostra uma faceta mais humana, que as pessoas geralmente esquecem quando se trata de autoridades.

Os aliados da presidente fazem dessa faceta algo a ser destacado daqui para frente e garantem que ela costuma crescer quando exposta ou acuada. Foi assim, por exemplo, em maio de 2008. Dilma era ministra da Casa Civil de Lula e foi chamada ao Congresso para dar explicações a respeito de um dossiê sobre os gastos da Presidência da República nos tempos de Fernando Henrique Cardoso. O senador José Agripino tentou fazer ilações sobre as mentiras que Dilma teria contado aos militares nos tempos da ditadura e ela respondeu com firmeza. A reação ali faria da ministra de óculos fundo de garrafa a candidata de Lula dois anos depois.

E no tempo presente...

Dilma hoje não usa mais aqueles óculos e, também, não pode ser tão dura em suas reações. Daí, a incógnita sobre que tipo de reação a presidente terá. A do semblante no momento da vaia no estádio foi considerada positiva, porque, com já dissemos acima, demonstrou sensibilidade. O que a presidente não pode, garantem seus fiéis escudeiros, é deixar que isso seja confundido com fraqueza. Até aqui, Dilma passou a imagem de mulher forte, capaz de enfrentar situações difíceis. Não pode sair desse script, mas, ao mesmo tempo, precisa evitar uma reação raivosa. Por isso, têm razão os palacianos quando dizem que o momento é de monitorar.

Há no meio político, de um modo geral, a avaliação de que o problema da vaia não é o seu volume. É o despertar que ela provoca. Para atentos observadores do cenário nacional, é sabido que a maioria das pessoas não costuma olhar a política todos os dias. Naquele momento, no estádio, todas as atenções estavam concentradas. E é nessa hora que quem não se liga em política passa a perguntar para o colega ao lado na cadeira, ou no bar, por que a vaia ocorreu; o que está acontecendo que o sujeito até ali não sabia. E é aí que mora o perigo para Dilma e para o projeto reeleitoral do PT. Ao responder, o vizinho fala da inflação, o outro reclama da saúde, o terceiro diz que o problema é a segurança, um fulano cita o aumento no preço da passagem de ônibus. Tome notícia negativa passando de boca em boca. É como uma pedra atirada num lago calmo que vai criando marola. Se isso será apenas uma "marolinha", o futuro dirá. Mas, no momento, todo o cuidado é pouco e a oposição certamente vai tentar surfar nessas ondas. Faz parte do jogo.

E no Congresso...

Na Câmara e no Senado, os políticos dos partidos aliados prometem gastar horas comentando a vaia. A avaliação, entretanto, é a de que não têm muito como ajudar. Afinal, se não participam da formatação dos programas de governo e não faturam politicamente com seus resultados, a presidente que recorra agora àqueles que chamou para participar. Pelo visto, aquela ideia de que governo, quando começa a ter problemas, muitos querem distância, ganha novo fôlego. Se será assim mesmo, as novas pesquisas dirão.

Fonte: Correio Braziliense

A violência faz a diferença - Renato Janine Ribeiro

Antes da violência policial da quinta-feira, li no Facebook posts sustentando que, para fazer mudanças sociais reais, é preciso usar da violência. Manifestações pacíficas, ao gosto da classe média, não levariam a nada. No mesmo dia, à noite, os autores dessa análise, a meu ver totalmente errada, foram desmentidos pelos fatos. Porque a simpatia da opinião pública tem seguido, em boa medida, a linha de repúdio à violência. Os manifestantes que destruíram ônibus ou vidraças só fizeram sua causa perder apoio. Mas tudo mudou na quinta-feira, quando e porque a violência mudou de autor. Dessa vez a polícia agrediu sem provocação, como li nos depoimentos dos jornalistas Ivan Marsiglia, Armando Antenore e Elio Gaspari, ou da escritora Angela Lago.

Na vida social, há fatos importantes que decorrem de uma longa série causal - e outros, que surgem de uma causa fortuita, repentina, que poderia muito bem não ter existido. O Brasil é um país unificado, em vez de ter-se retalhado em várias repúblicas, por quê? Porque a família real veio para cá, num caso único de metrópole que muda para a colônia. Mas, se dom João atrasasse um só dia, os franceses o prenderiam e não teríamos unidade nacional. Ou: o PT governa o Brasil e o PSDB, São Paulo, por quê? Nos dois casos uma série longa de ações e reações lentamente foi construindo a hegemonia política de um partido no país e de outro no Estado mais populoso. Mesmo as manifestações, decorrem do quê? De uma lenta e determinada degradação do transporte público, apesar de sua tarifa subir em valores reais (considerados os últimos vinte anos). Reportagem do "Estado de S. Paulo" mostra que o número de ônibus não cresce desde 2004, mesmo com um aumento de 80% na quantidade de viagens efetuadas por dia pelos passageiros. Já as viagens de ônibus se reduziram em 3,5%, o que praticamente dobra a lotação por veículo. O desconforto dos usuários só aumentou - e notem que o levantamento cobre um período de prosperidade no país, quando a vida do cidadão "da porta da rua para fora" poderia ter melhorado. Ante essa constante degradação do transporte público, era inevitável que os cidadãos se indignassem, exigindo melhoras na condução. (Eu, pessoalmente, embora defenda uma tarifa de transporte subsidiada, a exemplo do que sucede nas capitais importantes do mundo, inclusive para desestimular o uso do veículo privado no deslocamento para o trabalho, considero que as prioridades absolutas no assunto deveriam ser maior rapidez e conforto nas viagens de ônibus). O problema vem de longe, a resposta só demorou a surgir, e deve continuar até que o tema se resolva.

Mas a violência... Eis o tema em que a causa pode ser fortuita, imediata, o tipo de coisa que poderia não ter ocorrido. Até quinta-feira, a acusação de violência era dirigida sobretudo contra os manifestantes. Obviamente não eram violentos todos os manifestantes, mas entre eles havia quem usasse da violência - e a sociedade não simpatiza com quem desrespeita a integridade física dos demais. Ouvi afirmações irresponsáveis, como a famosa frase, atribuída a Lênin, sobre a omelete que não se faz sem quebrar ovos (o problema é que, se a omelete não sair, os ovos foram quebrados à toa; a violência, sem bons resultados, é apenas violência - gratuita, inútil). E tudo mudou quando mudou de lado a violência. O que aconteceu, aparentemente, porque um pelotão da tropa de choque de repente - após o próprio comandante da PM ter dado parabéns aos manifestantes - atacou um grupo de pessoas nos entornos da rua Maria Antônia. Isso poderia perfeitamente não ter acontecido (como, por outro lado, poderiam não ter acontecido as destruições de ônibus ou de vidraças).

Quem for violento perde o apoio da sociedade

Ou será que isso tinha que acontecer? Se as manifestações não têm liderança clara e distinta, é natural que possam ser transbordadas por criminosos infiltrados nelas. Se a PM não tem um treinamento impecável para manter o sangue frio e lidar democraticamente com manifestantes, é lógico que possa agredir, atuando muito além do que lhe facultam a lei e a decência. É mais fácil resolver o segundo problema do que o primeiro. Manifestações sem líderes são uma conquista - democrática - dos últimos anos. A Primavera Árabe assim foi. A praça Tahrir, no Cairo, e a praça Taksim, em Istambul, são dois emblemas desses movimentos altamente capilares que, para cada vez mais de nós, são a cara de um espirito democrático que desconfia da manipulação por líderes. Já as polícias militarizadas são organismos hierarquizados. Temos assim duas formas de sociabilidade totalmente opostas. Uma é fluida e livre, outra é organizada e rígida. Uma é a vida da sociedade buscando a liberdade, outra é ação do Estado para manter a ordem. As duas são necessárias, mas a segunda tem de levar em conta a primeira, porque Estado e polícia só existem para a sociedade.

Tudo agora depende do que vai acontecer esta segunda-feira. É bem provável que quem for mais violento perca a luta pela opinião pública. Se a polícia for novamente brutal, a manifestação terá vencido. Se manifestantes, ainda que minoritários, depredarem, e a polícia conseguir controlar a situação sem espancamentos e tiros, será outro o desfecho. Isso podem parecer detalhes, e de fato não afetam o mérito das visões sobre o transporte público que hoje temos. Mas detalhes significam muito na vida política. O regime democrático é a forma mais inteligente até hoje inventada para excluir, do enfrentamento político, a violência. Quem reintroduz a violência acima do estritamente necessário peca contra a democracia.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Os números da popularidade - Paulo Brossard

Decorrida mais de metade do mandato presidencial, aconteceu fenômeno que, na ausência da melhor conceituação, tento explicar como sendo uma espécie de corporificação de algo amorfo até ontem, à semelhança do estado gasoso que passa ao líquido e deste ao pastoso, a caminho da solidificação. Perdoe-me o leitor pela incerteza nas palavras, mas os fenômenos que se desdobram no âmbito da psicologia coletiva não são imunes ao caráter vago próprio das coisas que não se medem nem se pesam, dada a sua imaterialidade. A definição e o sentido da opinião pública é o que me parece estar ocorrendo em relação ao governo, personificado na pessoa da senhora presidente, cujos poderes ela exerce, auxiliada por colaboradores de sua escolha e confiança, o ministério.

É sabido que, desde o início do atual governo, sua chefe contou com a simpatia do país. No entanto, enquanto desfrutava dessa situação favorável, seu governo vegetava, insosso; o contraste é manifesto; de resto, o ministério é de sua escolha e dela dependente, pois com a mesma liberdade com que o compôs poderia dispensá-lo, sem sequer justificar a demissão, à sua exclusiva discrição. Nem a copiosa publicidade, principalmente pela TV, em pessoa conduzida pela própria presidente, não sei quantas vezes por dia, foi capaz de imprimir ao governo um fluxo de dinamismo ou um toque de salubridade; nascera indolente, continuava parado, lembrando peça de museu, situação tanto mais estranha quando o governo contava e conta com imensa maioria parlamentar, superior a 80% da Casa.

Ora, um governo que tem o apoio de mais de 80% da representação popular pode fazer tudo, salvo fazer de um homem uma mulher e de uma mulher um homem, para repetir a frase célebre de De Lolme a propósito da Câmara dos Comuns. No entanto, o governo não tem sido capaz de converter em lei projeto por ele considerado necessário. Impõe-se considerar agora que são 39 os ministérios, se não for considerado o quadragésimo, exercido pelo marqueteiro oficial. Quais são as relações funcionais com esse conjunto de notabilidades que recebeu da presidente áreas importantes e complexas da administração? Eles têm acesso à presidente, como seria normal? Ao que sei, isso não ocorre. Resultado é que a "base de sustentação", como agora se denomina a maioria parlamentar, vem se revelando cansada, senão indiferente, ao governo. Ao meu sentir, isso resulta da partilha do governo em dezenas de fatias, distribuídas em ministérios e a partidos.

O consórcio entre a presidente popular e um ministério sem fisionomia, a despeito de ser sua criatura, parece ter chegado a seu termo ou, pelo menos, com fissura perigosa, claramente mensurável, quando o prestígio da chefe do governo vem de sofrer queda de oito pontos, entre os que consideravam ótimo ou bom seu governo. Era de 65%, mermou para 57%. Dir-se-á que, ainda assim, a presidente detém a maioria, fato que é inegável. Mas igualmente ninguém pode negar que a queda não foi despicienda, nem acidental. É fácil especular a respeito, mas é preferível aguardar o resultado da próxima ou próximas medições de popularidade para que essas possam ser mais cerebrais e menos emocionais. Por ora, pode-se dizer que a redução de oito pontos na popularidade foi mais do que significativa. De 65% para 57%.

Essas considerações não dispensam que se lembre que o PIB está praticamente estacionário, e isso não acontece por acaso. Daí resultam as preocupações de quem pensa a respeito do futuro próximo da nação e, quiçá, também do futuro.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

A precipitação dos fatos e o ritmo real da vida - Marcus Pestana

Há um equívoco recorrente que contamina a análise política. É a falsa impressão de que a esmagadora maioria da população faz da política o centro de suas vidas. Nada mais distante da realidade. As pessoas, em geral, concentram suas energias na busca de melhoria na qualidade de vida de suas famílias, na educação e formação dos filhos, na busca de avanços no emprego, no lazer com amigos. Não que desvalorizem a política. Ao contrário, sabem que a qualidade dos governos, da representação política e das instituições é determinante para sua felicidade pessoal e para o sucesso do país. Mas o grau de mobilização social e o nível de informação são menores do que supõe nossa vã filosofia. A dinâmica da opinião pública e o envolvimento da sociedade obedecem a uma lógica pendular, alternando picos de mobilização e vales de calmaria, quase indiferença.

A maioria da população é extremamente pragmática. Não é escrava de rígidos modelos ideológicos. Preza alguns valores fundamentais, como a ética, a solidariedade e o trabalho. Decide as eleições nas semanas que as antecedem pela intuição sobre qual é o melhor caminho, a partir das informações concentradas recebidas no próprio processo eleitoral.

A ansiedade e a precipitação ficam a cargo dos políticos, dos articulistas e dos jornalistas, dos cientistas sociais e das discussões de bar entre palpiteiros e apaixonados.

Mas é preciso reconhecer que a sucessão presidencial de 2014 se precipitou. Foram Dilma, Lula e o PT, temerosos do desgaste acumulado de Dilma e do crescimento do “volta Lula”, que botaram o bloco na rua.

Isso num momento em que a inflação ameaça, o déficit comercial bate recorde, a taxa de juros sobe, o endividamento das famílias consome metade da renda, a indústria vai pelo ralo, a credibilidade da economia brasileira se abala e o PIB tem desempenho medíocre. Essa é a verdadeira agenda de 2013.

No entanto, vale analisar com lupa os resultados da última pesquisa Datafolha. A avaliação de Dilma teve sua maior queda, despencando 8%. As expectativas da população em relação à economia, à inflação e ao desemprego se deterioram.

Mesmo tendo ocupado todos os programas do PT e convocado abusivamente 13 cadeias nacionais de rádio e TV, nos últimos dois anos e meio, Dilma perdeu sete pontos nas intenções de voto. Aécio cresceu 4%.

Hoje, o que assistimos é quase um monólogo. É desproporcional a presença de Dilma na mídia. O jogo mal começou. O contraponto não é feito com a intensidade necessária. O diálogo ainda não se estabeleceu. Não há só uma forma de se ver o Brasil e o futuro.

Quando o tempo certo chegar, o debate se estabelecerá diante de uma opinião pública mais atenta e apta a comparar ideias e propostas. Aécio, Eduardo, Marina, Randolfe e quem mais chegar quebrarão o monólogo e conversarão com a população em bases mais democráticas.

E aí, é inevitável, as fragilidades de Dilma e seu governo virão à tona. Quem viver, verá.

Marcus Pestana, deputado Federal e presidente do PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Os velhos - Aécio Neves

Ao lembrar a figura do Velho do Restelo, personagem de Camões que simboliza o pessimismo diante dos novos tempos, a presidente Dilma Rousseff parece ter se esquecido da trajetória do próprio partido.

Quando a caravela do Plano Real estava pronta para zarpar, em 1994, o Velho do Restelo petista foi o primeiro a insistir: não vai dar certo. Assim também já havia acontecido com a Constituição de 1988, que o PT ameaçou não assinar.

Ou, ainda, quando expulsou dos seus quadros os deputados eleitores de Tancredo, desprezando o caminho mais curto para o reencontro do Brasil com a democracia.

Para decepção desse Velho do Restelo, o que deu errado foram suas previsões --a ditadura militar chegou ao seu fim, a Constituição inaugurou um novo tempo e o Plano Real trouxe estabilidade e prosperidade para o país. O Brasil pôde então singrar por mares nunca dantes navegados.

A queda da aprovação da presidente não deveria abalar o governo federal como o fez.

A chefe da nação precisa manter serenidade para encontrar um caminho consistente a fim de reverter o quadro de dificuldades que o país está enfrentando.

E, também, para enfrentar a perda de credibilidade internacional manifestada, agora, pela agência Standard & Poor's ao alertar para uma perspectiva negativa da economia brasileira.

Há um episódio exemplar que resume a facilidade com que governantes se entregam à avaliação rósea dos bajuladores. Dizem que, na época da ditadura, a dona do "Jornal do Brasil" compareceu a um almoço com o então presidente Costa e Silva. Ele teria se queixado da severidade dos editoriais em relação ao governo.

A interlocutora explicou que o veículo adotava uma postura de "crítica construtiva". "Agradeço, mas eu gosto mesmo é de elogio", teria dito Costa e Silva, em resposta que parece estranhamente atual.

A analogia literária do Velho do Restelo cedeu lugar à galhofa do ministro da Justiça, que comparou a oposição a um personagem de desenho animado de sucesso. Aquele que vive reclamando: "Ó céus, ó vida, ó azar, ó dia...".

A lembrança é boa porque, na verdade, o personagem combina com os próprios petistas, obrigados a receber quase todos os dias notícias ruins: o pibinho ("ó céus!"), a volta da inflação ("ó azar!"), o caos logístico ("ó dia!").

Tendo em vista o nervosismo e a intolerância manifestados pelo governo nos últimos tempos e a sua crescente tendência autoritária de desqualificar toda e qualquer crítica, não será surpresa se os mesmos que, irresponsavelmente, acusaram a oposição pelo episódio do Bolsa Família concluírem que foi a mesma oposição que arregimentou 70 mil torcedores para vaiar a presidente da República. Ó vida!

Aécio Neves, senador(MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Nem na Saúde governo e PT se entendem - Rubens Bueno

A polêmica sobre a importação de médicos - nascida desde que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em audiência no Congresso, atribuiu a medida como solução para o problema da falta desses profissionais no interior País - é mais um sintoma da confusão do governo diante de questões fundamentais para o Brasil e que vão, desta vez, além da inépcia demonstrada no controle da inflação e da incapacidade de promover o crescimento econômico.

O diagnóstico do governo e do PT para o problema é ambíguo. Se por um lado há um ministro querendo ampliar vagas em escolas médicas e trazer sem restrições médicos de Cuba, Portugal e Espanha, temos na Câmara um projeto pronto para ser votado que proíbe a criação de novos cursos de medicina e a ampliação de vagas naqueles já existentes. A proposta é do líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, do mesmo PT do ministro. Trata-se de uma ideia absolutamente conflitante com a expansão da rede de atendimento que se pretende, como anunciou Padilha. Na justificativa do projeto, aliás, o autor fala ainda em proteger o médico brasileiro "da invasão do mercado de trabalho por diplomados em Medicina sem a adequada condição de exercê-la".

O projeto petista é duplamente incoerente com o discurso do governo. Não prevê a criação de novas vagas e cursos, como agora preconiza o ministro da Saúde. Ao contrário, proíbe-os. Não apoia mecanismos de aferição do conhecimento médico, como o Revalida. Congela a importação de profissionais ao antevê-los incapazes, quando o que justamente o governo quer é atraí-los sem restrições. Vá entender.

Ademais, essa proposta de abrir o mercado para médicos estrangeiros é uma ação puramente de mídia. Mesmo que o ingresso de médicos fosse viabilizado sem a necessidade de revalidação de diplomas - em outra declaração, desta vez ao portal Terra, Padilha fez alusão a liberar os médicos de fora do exame de revalidação de seus diplomas -, estes profissionais precisariam de tempo para aprender o português e se adaptar ao uso de expressões regionais. Em alguns rincões do país, por exemplo, a hipertrofia da glândula tireoide é chamada de "estruma" ou "papeira". A panturrilha é a "batata da perna" ou "barriga da perna" e por aí em diante.

O PPS propõe a criação de uma carreira de profissional de Saúde para médicos, enfermeiros e odontólogos com atuação prioritária em áreas de baixa renda no interior do país. Além disso, defendemos a instituição de um piso nacional de salário para estes profissionais. Estas duas medidas são importantes para a fixação de médicos fora das grandes cidades.

Defendemos ainda a instalação de cursos médicos descentralizados com a implantação de novas escolas em cidades do interior. E, para evitar "a invasão" de maus profissionais, apoiamos o Revalida, uma prova nacional que afere as habilidades do estrangeiro interessado em trabalhar no País, implantada em 2011. O Revalida é bom porque é transparente e trata a todos com isonomia. Não é preciso ser contra a vinda de médicos estrangeiros, nem, num outro extremo, recebê-los sem testar seus conhecimentos. Bastam bom senso e propostas coerentes numa só direção: a de salvaguardar a qualidade do atendimento médico ao povo brasileiro, estejam as pessoas onde estiverem.

Rubens Bueno, deputado federal (PR) e líder do PPS na Câmara

Fonte: O Globo

Armênio Guedes e a valorização da política – Raimundo Santos

A partir de março de 1958, quando o PCB anunciou a nova política de reforma do capitalismo a partir da vigência da democracia política, Armênio Guedes sempre aparece como um dos seus formuladores.

A rigor, desde de 1956 ao publicar o texto seminal “Algumas ideias sobre a frente única no Brasil” (cf. Guedes, 1956), Armênio Guedes e Marco Antônio Coelho com seu texto de 1960 “A tática das soluções positivas” (no qual cita Enrico Berlinguer, dirigente do PCI do “caminho italiano ao socialismo”) são os quadros pecebistas concretizadores da nova política. Pensando na trajetória do seu PCB, o mesmo Marco Antônio Coelho registra que Armênio Guedes tornar-se-ia a figura que mais influiu durante várias décadas na orientação política do partido (Coelho, 2010).

Ao completar 95 anos, nesta 2ª. feira, dia 17/6, quando a editora Barcarola lançará a partir das 18.30h na Livraria da Vila da Alameda Lorena, em São Paulo, o livro Armênio Guedes – Sereno guerreiro da liberdade, de autoria Sandro Vaia, Armênio Guedes significa muito para o país, hoje sob pleno Estado democrático de direito.

Na Era Lula, mais nos últimos tempos, tem-se divulgado extensamente uma versão de sobre a derrota do regime de 1964 sem se realçar os grandes protagonistas, o MDB/PMDB, os pecebistas ativos neste campo democrático. Esquece-se o dado fundamental: a estratégia que derrota o regime de 1964 teve como seu centro a política.

Armênio Guedes emerge em meio a essa diluição justamente como um dos artífices daquela estratégia de resistência. E mais: ele continua a ser referência da esquerda democrática, como disse o deputado Roberto Freire no seu discurso na Câmara, 3ª. feira da semana passada, dia 11/6. Como expressão de um campo que está disponível à interpelação das atuais esquerdas (em particular do PT), não só pelo seu valor de cultura política, mas “por sua projeção futura para a política e a cultura em nosso país” (Freire, 2013) “Um campo formado, entre muitos outros, por Astrojildo Pereira (ele mesmo um dos mestres de Armênio), Graciliano Ramos, Jorge Amado, Mário Lago, Caio Prado Jr., Alberto Passos Guimarães, Nelson Werneck Sodré, Oduvaldo Viana Filho, Ferreira Gullar e Luiz Werneck Vianna” (idem). Assim terminou o presidente do novo partido Mobilização Democrática o seu pronunciamento parlamentar: “Armênio Guedes continua a ser uma das maiores referências da esquerda democrática do nosso país”.

Durante sua longa militância e em toda sua publicística, Armênio se idenfica com a valorização da política em si mesma. Ainda ontem, ele voltou ao tema no qual já insistira no Programa do Jô da semana passada, ao dizer ao Estado de São Paulo que sua postura no grande debate dos socialistas do último quartel do século XX (trazido pelo PCI e por Berlinguer) sobre o “caminho democrático ao socialismo”, ele o situava noutro plano, o do “caminho democrático para a democracia”. E precisava a O Estado de São Paulo esse ponto: “A democracia não é o fim da História”; a democracia traz novos problemas que se resolvem democraticamente” (Programa do Jô).

Referências bibliográficas

Guedes, Armênio Guedes, “Algumas ideias sobre a frente única no Brasil, in Novos Rumos, out.-nov. de 1956.
----------. “Uma ação positiva das forças nacionalistas”, Voz Operária, 28/6/57.
Coelho, Marco A. “A tática das soluções positivas”, in Novos Rumos, São Paulo, 19 de jul a a 4 de agosto 1960.
________. Entrevista a Ilustríssima, Fôlha de São Paulo, 19/12/2010.

Programa do Jô, dia 10/6/2013.

O pensamento político de Armênio Guedes

2013 – Eu fazia política sempre olhando para a realidade. "Eu entrei no Partido Comunista em 1935. Foi um ano de grande agitação no Brasil. Foi quando também prestei vestibular na Faculdade de Direito da Bahia. E ai... já tinha os grupos políticos bem definidos: tinham os integralistas e nós os comunistas, de outro; e os democratas com os quais os comunistas procuravam se aliar contra a ameaça fascista que pairava sobre o Brasil naquela tempo.

Eu fazia política sempre olhando para a realidade e inspirado na utopia da transformação socialista. Mas essa utopia não impedia que... Eu digo isso: é uma virtude do Partido Comunista, sua militância sempre era em prol da questão nacional, pela democratização do país, pelas liberdades".

Cf. O programa do Jô, do dia 12/6/2013

1956 - O dogmatismo impediu-nos de refletir, no pensamento político, a realidade do país. “E sem este fator – conhecimento da realidade – era impossível ter uma tática elaborada. A tática foi rebaixada à condição de mera agitação; partir das denuncias e, através apenas da propaganda, ganhar as massas para as lutas decisivas, para a mudança de regime. Nunca se levou em conta a importância de participar do movimento real.

Por desconhecer a realidade, inspirada tão só pelos objetivos finais, o PCB realizou sempre (tomando-se para exame do problema um longo período) uma política voluntarista, com ignorância ou desprezo das leis objetivas.

Nossa política, normalmente, desconhece que a “missão fundamental da tática do proletariado” deve ser determinada em “rigorosa conexão com todas as premissas de sua concepção materialista e dialética do mundo”.

Na tática dos comunistas brasileiros, em geral, não encontramos esta conexão. Ela decorre de uma concepção falsa do movimento (idealista, metafísica), concepção que desconhece a relação (unidade) entre as duas formas de que ele se reveste, a evolutiva e a revolucionária.

A separação dessas duas formas do movimento conduz sempre, em política, a uma tática oportunista ou a uma tática radicalista. Para a primeira, existe apenas a evolutiva; para a segunda, apenas a revolucionária.

Se se parte das premissas materialistas para determinar a “missão fundamental da tática proletária”, tem-se que considerar o movimento em suas duas formas, a evolutiva e a revolucionária, considerar a relação entre elas, ou melhor, reconhecer que as modificações lentas, quantitativas, são completadas pelos saltos, constituindo as duas formas um processo único do desenvolvimento.

Partindo dessas premissas, Lênin chegou a uma conclusão geral sobre a tática:

“A tática do proletariado deve levar em conta, em cada grau do seu desenvolvimento, em cada momento, esta dialética objetivamente inevitável da história humana: de uma parte, aproveitando as épocas de estancamento político ou de desenvolvimento a passo de tartaruga, chamado “pacífico”, para desenvolver a consciência, a força e a capacidade combativa da classe de vanguarda e, de outra parte, orientando todo este trabalho de aproveitamento para a “meta final” do movimento da referida classe, capacitando-a para resolver praticamente as grandes tarefas nos grandes dias “em que se condensam vinte anos”. (V. I. Lênin, Marx, Engels y el Marxismo, pág. 43).

Por desconhecer a realidade e abstrair os caminhos peculiares, o Partido tirava sempre os seus elementos táticos dessa premissa – uma estratégia a curto prazo. Daí não dar importância às formas de aproximação, transitória (lei de todas as revoluções), não procurar investigar o específico de nossa revolução, a relação entre a luta democrática geral e a luta pelas transformações radicais. Não resolvendo esta questão, não podia solucionar uma outra, derivada: a luta pela mudança de governo como forma, caminho para a mudança de regime”.

Assim chegamos até o momento presente. Esses erros refletem-se agora na concepção de frente única, atualmente predominante no PCB, isto é, frente única em torno de pequenas reivindicações, tendo como fito ganhar as massas para a luta pela derrubada do regime. Faz-se frente única (ex.: nas últimas eleições em São Paulo) a fim de obter determinadas vantagens para o movimento (melhores condições para sua agitação e propaganda, etc.) com vistas a um objetivo remoto e não para mudar o tipo de governo. A idéia central dessa política é a da relação entre a frente única limitada e a frente democrática de libertação nacional.

Creio, no entanto, que é preciso encarar a questão através do seguinte ângulo: o objetivo não deve ser apenas a frente única por reivindicações parciais; deve visar à ação política pela criação de um governo de frente única antiimperialista (ou nacional-democrática ou antientreguista ou que nome tenha). (...).

* * *

Em face de tudo isso, coloca-se agora concretamente o problema da frente única em ligação com a atual situação política. Trata-se de alcançar um governo dessa frente única antiimperialista, mas como? Diante de nós bifurca-se o caminho: 1) existe a possibilidade de transformar o atual governo, alterando sua composição em favor das posições nacionalistas; 2) existe a possibilidade menos imediata, porém mais provável, de formar um governo desse tipo como resultante das eleições de 1958 e 1960.

Cf. Algumas ideias sobre a frente no no Brasil, in Revista Novos Tempos, set. de 1957.

1957 - A atual instabilidade do governo (JK) prolongar-se-á até que uma das forças em pugna imponha uma decisão que lhe seja favorável

“A luta entre as forças interessadas no desenvolvimento do país e os grupos entreguistas é uma constante da situação política atual do Brasil. Trata-se de uma luta que tende a se prolongar ainda por algum tempo. Como em todo embate desse tipo, teremos sempre, no curso do seu desenvolvimento, períodos de calmaria e momentos de tensão. Nos momentos de tensão, as forças em choque adquirem contornos mais definidos e, o que é mais importante, ampliam ou restringem suas fileiras. Não há dúvidas que historicamente as possibilidades de avanço são das forças nacionalistas. Mas tais possibilidades só se tornarão algo real pela ação consciente das forças sociais de vanguarda. Daí a necessidade de destacar, do conjunto da ação política concreta, aquilo que é positivo e que representa, muitas vezes, o ponto de partida para uma direção política acertada ou que, pelo menos, constitui um importante elemento de uma tal direção.

A situação atual, condicionada pelas dificuldades financeiras do país e pela pressão dos imperialistas norte-americanos para quebrar a resistência nacional aos seus planos da escravização, deu lugar a um novo período de tensão. Não sabemos se este período terminará com a recomposição ministerial em curso. E é difícil, por isso, dizer quem saiu ou sairá fortalecido do atual choque, se os grupos entreguistas ou o movimento nacionalista. (...)

É sob a pressão do movimento nacionalista que os novos ministros ocuparão os seus cargos. Certamente alguns deles são nomeados por imposição dos setores entreguistas. Mas isso não é o bastante para que mudem os rumos da política governamental, no sentido de liquidar os elementos nacionalistas que ela encerra e fazer preponderar e vencer o seu lado entreguista e reacionário.

Os últimos acontecimentos não levam à dedução de que uma das forças em choque já esteja em condições de impor uma decisão definitiva, isto é, empolgar o governo e imprimir sua fisionomia à política interna e externa do país. A atual instabilidade do governo — responsável pelos seus constantes vaivens — prolongar-se-á por algum tempo, até que uma das forças em pugna imponha uma decisão que lhe seja favorável.

O movimento nacionalista dispõe dos fatores essenciais para impor essa decisão, batendo os elementos entreguistas e reacionários. Já existem as premissas políticas essenciais para a formação de um governo nacionalista no Brasil. Mas é necessário vencer grandes e fortes obstáculos que se opõem a isso. Um dos primeiros passos a ser dado nesse sentido é terminar com a dispersão política e organizativa nas fileiras do movimento nacionalista. As forças nacionalistas, dispersas por vários partidos e organizações, não atingiram um grau de consciência e unidade de vistas que possibilite sua unificação no plano programático ou organizativo.

Deve haver um esforço permanente no sentido de coordenar as ações em plano local e nacional das diferentes correntes nacionalistas. Não se trata de impor formas rígidas de organização, o que seria impossível e estancaria o movimento, mas de elaborar idéias claras, ter soluções concretas para enfrentar as grandes e as pequenas questões da luta antiimperialista e, nessa base, ir estruturando a frente única em bases sólidas. Uma medida que impulsionaria esse esforço organizativo seria talvez a realização de reuniões de contato, em que seriam debatidos problemas do movimento nacionalista e estabelecidas as respectivas soluções.

Vencida a dispersão de suas forças, o movimento nacionalista cresceria rapidamente. Os comunistas, que já têm elaborado alguns pontos de vista sobre o movimento nacionalista, precisam colocar toda a sua experiência política a serviço da organização do movimento nacionalista. Esta é a linha mestra que deve orientar nossa atividade no decorrer da atual campanha eleitoral”.

Cf. Um ação positiva das forças nacionalistas, in Voz operária, 28, jun. 1958

1970 - O exame da situação induz a um otimismo realista

"As crises políticas que culminaram na indicação do General Garrastazu Médici para a Presidência da República ganharam intensidade na segunda metade de 1969. Essas crises foram geradas por conflitos de naturezas diversas e se deram em diferentes planos da vida política.

As soluções encontradas, quer com as medidas tomadas pela Junta Militar, quer com a eleição do novo presidente militar, apenas atenuaram (ou adiaram) os seus efeitos. E justamente porque persistem tais conflitos é que é importante examiná-los. Antes de tudo, assinalemos que as últimas crises, ao lado de suas especificidades, apresentaram pontos comuns com as demais crises sofridas pelo regime atual.

Entre os fatores causadores de desgastes da ditadura, opondo-se a seus esforços para fazer avançar o processo de fascistização, encontramos sempre dois tipos de resistência: a do movimento nacionalista e a do movimento democrático. Certo, esses dois elementos do processo político brasileiro tendem, historicamente, à convergência: há entre eles um condicionamento mútuo muito estreito. Mas, em determinadas situações concretas, um deles pode assumir maior importância como acelerador do processo revolucionário brasileiro.

De qualquer forma, direta ou indiretamente, eles sempre estiveram no centro das crises que vêm abalando o regime. Ou se originando de um choque direto entre o governo e a oposição (AI-2, novembro de 1965), ou de um conflito no seio do sistema de forças do governo (afastamento de Costa e Silva, constituição da Junta Militar e indicação deMédici), os golpes sucessivos, a partir de 1964, foram sempre desencadeados para precaver o processo contra revolucionário contra o seu desgaste pela resistência nacionalista e democrática.

A maior ou menor instabilidade dos governos da ditadura (razão das crises) tem sido em função de sua maior ou menor permeabilidade às pressões oriundas daqueles dois movimentos. A contradição a que acabamos de nos referir dá origem a outras menores, secundárias e subordinadas, mas que nem por isso deixam de assumir importância decisiva em determinados momentos. É o caso, por exemplo, do conflito entre um poder de fato, constituído por um núcleo de oficiais superiores das Forças Armadas (ideologicamente afinados com as doutrinas político-militares da ESG, mas de difícil identificação física), e o governo do momento. Cabe esclarecer que os diferentes governos do regime de abril (Castelo, Costa, Junta e Garrastazu) surgiram sempre como frutos de acordos entre aquele Poder militar de fato e as velhas forças políticas integradas nos quadros da ditadura.

Produtos de tais acordos, sujeitos muitas vezes a pressões colidentes, vimos os vários governos do regime oscilar, pendularmente, entre as duas forças, até um momento em que o aumento das tensões desemboca em crises políticas, que geram novos pactos, já que as forças em choque não tiveram, até aqui, possibilidade de terminar com o impasse. Nesses pactos, os contendores disputam posições e vantagens que os coloquem em condições favoráveis para enfrentar a nova crise. É esse, precisamente, o panorama do governo do General Garrastazu Médici. Dele dizia recentemente o jornalista Carlos Castello Branco: 

“Chegamos aí a outra curiosidade da situação brasileira, que é o fato de não estar o Poder totalmente e, às vezes, substancialmente nas mãos dos seus titulares, que o representam, mas não o empolgam. A força invisível está por trás de tudo, definindo critérios, selecionando virtudes e impondo normas às quais devem obediência os que a representam ostensivamente”.

Já se desenha nitidamente a formação de focos de atrito no novo governo. Apesar das medidas que, em 1969, aumentaram ainda mais o autoritarismo e o arbítrio do regime, dos atos e leis que dificultaram em alto grau a atividade da oposição e a manifestação da vontade das massas, e talvez por tudo isso, a situação política do governo Garrastazu se apresenta instável. Ele se esforça para cobrir os claros deixados por certas forças afastadas do Poder, após a última crise, chamando técnicos para sua equipe, numa tentativa de dar ao seu governo uma imagem tecnocrática. Poderá, com isso, substituir uma parte da velha “classe política” alijada do poder, criando um novo elo de ligação com as classes dominantes, evitando o isolamento e prolongando o bonapartismo atual por mais tempo. O difícil é avaliar até onde irão as possibilidades desse bonapartismo sem um Bonaparte.

Ao lado das contradições já referidas, cabe, finalmente, assinalar mais uma. Em nível mais elevado que os seus antecessores, o governo de Garrastazu sofre as conseqüências da divisão do suporte militar da ditadura. À medida que passam os dias e que as Forças Armadas continuam como centro das decisões políticas importantes, maiores são os conflitos que as dilaceram. Grosso modo, a parte mais ativa da oficialidade, que participou do golpe de 1964, principalmente do Exército, divide-se hoje em dois grupos principais: um deles, englobando talvez a maioria, é formado pelos partidários de um nacionalismo autoritário, e o outro, que dispõe de maior parcela de poder, reúne os que se mantêm aferrados aos dogmas entreguistas e reacionários da ESG. O primeiro grupo tende a crescer e a romper, de dentro, a unidade do bloco militarista reacionário. Isto determinará, obviamente, uma convergência da ação dessa força com a do movimento nacionalista democrático da oposição. É necessário, no momento de uma apreciação mais concreta, não esquecer que, entre um grupo e outro, existem, nas Forças Armadas, correntes de várias nuances, além de uma enorme massa – possivelmente a maioria – de oficiais indecisos e indiferentes.

É dentro desse quadro que o General Garrastazu terá de enfrentar as próximas eleições de governadores, para o Congresso Nacional, Assembléias Estaduais e Câmaras Municipais. “A disputa eleitoral – diz o JB – não será evidentemente capaz, por si mesma, de aplainar as contradições; muito pelo contrário. Pode-se esperar que as dificuldades se criem”.

Em alguns dos Estados mais importantes – SP, GB, MG, BA – o partido oficial, a Arena, até agora não conseguiu unir suas forças, e o General-Presidente ameaça impor seus candidatos, vetando aqueles quenão lhe agradam, numa ação que já se convencionou chamar de “cassação branca”. O governo, que num arroubo demagógico prometeu fazer o “jogo da verdade”, age com cautela nesse terreno, a fim de não provocar desarranjos no precário sistema de forças políticas em que se apóia.

As correntes de oposição – e, claro, entre elas, o nosso Partido – têm, com as eleições, um grande campo para potencializar a resistência à ditadura. Nada nos leva a crer que as próximas eleições, cercadas como estão pelas medidas coercitivas da ditadura, possam ser decisivas para a liquidação do regime – é uma advertência que não podemos deixar de fazer.

Mas não tenhamos dúvidas de que elas vão concorrer, e muito, para a nova crise em gestação. Daí a sua importância para a oposição. Ninguém pode dizer, com segurança, o resultado de uma nova crise, se haverá alguma abertura (não entramos aqui na discussão sobre a extensão de tal abertura, mas consideramos apenas que o alargamento da faixa das liberdades, por menor que seja, ajuda a organizar a resistência ao avanço do fascismo), ou se serão ampliadas as medidas repressivas, com novas restrições às já quase inexistentes liberdades civis. O que não se pode é ficar à margem, acatar o desejo do General-Presidente. Isto é, participar das eleições sem contestar o regime. A oposição, particularmente as forças de esquerda e o nosso Partido, não pode, como quer o atual Presidente, permitir que a opinião pública, em hipótese alguma, seja confundida a ponto de admitir as medidas repressoras do regime como necessárias à defesa da democracia. O regime de abril, por sua essência de classe (serviçal das velhas classes dominantes, do imperialismo, etc.), por suas vinculações antinacionais e por sua ideologia reacionária, pode, tranqüilamente, ser classificado como de tipo fascista. (...)

É esse o quadro da oposição. Quadro que explica porque a ditadura, apesar de suas fraturas e instabilidade, ainda encontra meios e formas para avançar no processo de fascistização. Quadro que se modificará, com maior ou menor ritmo, a partir do momento em que o processo político, permitindo uma reflexão mais profunda da oposição sobre sua experiência, indique-lhe a maneira de usar sua imensa potencialidade para organizar os combates e a batalha final contra a ditadura. (....)

O exame até aqui feito sobre as forças presentes e em conflito na sociedade brasileira induz a um otimismo realista em relação à formação de uma frente antiditatorial”. (...)

CF. Resolução Política do CE da Guanabara do PCB (março de 1970), in O marxismo político de Armênio Guedes, Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira, dez. 2012.

1980/81 - Talvez a superação do autoritarismo e a conquista de um regime democrático possam ocorrer sem mudanças bruscas e violentas. Resultarão antes de uma guerra de posições — no bom sentido da tese gramsciana

“Chegamos assim em 1981, tanto pelo que ocorre no campo do governo como pelo que se passa no lado das oposições, a uma situação complicada. Uma situação de impasse político ou, quando menos, próxima disso. Além de tudo, seriamente agravada pela crise econômica em que vive o país.

É dentro desse quadro complexo e carregado de tensões sociais que as oposições e as correntes democráticas terão que atuar no ano que agora começa.

Antes de tudo, para evitar qualquer passo em falso, é preciso analisar e avaliar com precisão o caráter opressivo do regime. A resistência das forças democráticas, quando bem orientada, tem, em muitas ocasiões, atrapalhado a estratégia do regime, ajudando a avançar o processo de abertura.

De qualquer forma, os dados de que se dispõe indicam que o período de transição, longe de ser linear, tende a continuar em ziguezague e pode se prolongar por um tempo mais longo do que seria desejável. As forças democráticas, para avançarem, precisam estar bem conscientes das possibilidades de recuo -- de fechamento e de volta aos tempos do AI-5 -- que o momento e as tensões atuais encerram. É uma situação que exige firmeza, habilidade e prudência. E em que as convergências e a unidade das oposições são indispensáveis. Mas esse esforço de unidade e convergência não deve, na conjuntura presente, limitar-se ao universo das oposições. Tem que ir mais longe e, num trabalho paciente e prolongado, abarcar correntes, grupos e pessoas que, apesar de ainda permanecerem no sistema de forças do governo, começam a questionar o autoritarismo do regime e a exigir a ampliação das liberdades públicas.

Há uma outra observação que pode ser feita a partir da peculiaridade do momento político que atravessamos. É que, talvez no caso brasileiro, a superação do autoritarismo e a conquista de um regime democrático possam ocorrer sem mudanças bruscas e violentas. Resultarão antes de uma guerra de posições -- no bom sentido da tese gramsciana. Mas haverá, necessariamente, um momento de ruptura das instituições autoritárias e repressivas, que se dará pela pressão conjugada da opinião pública e de um amplo movimento de massas.

É com tal visão que hoje devemos trabalhar. E é por ela não estar presente, até aqui, no pensamento e na prática das forças democráticas e do movimento operário que os diferentes segmentos da oposição se perdem ou em propostas muito gerais, a médio e longo prazo, ou em reivindicações que se esgotam em questões particulares e corporativas.

Toda a reflexão até aqui desenvolvida induz a afirmar que os grandes problemas do país situam-se hoje nos termos concretos de um período de transição, ainda que ambíguo e pouco definido. E é neste contexto, portanto, que terão de ser resolvidos. Não seria fora de propósito que as forças democráticas — que não têm interesse nem na continuação do impasse nem no confronto — comecem a pensar na oportunidade ou não de se trabalhar com a idéia de um governo de transição, integrado pelas mais amplas forças e capaz, por isso mesmo, de dar começo à reorganização política do país”.

Cf. O impasse política e a saída democrática, in Voz da Unidade, 31 dez. de 1980.

1987 - Sempre considerei um pouco forçada a designação do PMDB como partido-frente

“Grosso modo pode-se dizer que a esquerda, mais do que qualquer outro grupo político no país, tem na sua memória, e como parte da sua herança, a crença na importância do funcionamento permanente dos partidos políticos. Isto se aplica, evidentemente, à esquerda do PMDB, que deve se esforçar para levar, ao conjunto da militância peemedebista, aquilo que ela (a esquerda) tem como memória histórica. Sua atuação será tão mais facilitada quanto mais claro estiver que esse esforço deve-se traduzir numa luta pela hegemonia dentro do partido, sem grandes rupturas ou radicalizações contra a ala direitista, até que o PMDB deixe de se reproduzir como uma frente e possa aprofundar as características de um partido auto-centrado que já se encontram presentes no seu interior.

Aliás essa caracterização do PMDB como um partido-frente é bastante problemática e me faz lembrar de uma das minhas divergências em relação à análise corrente no PCB, quando eu fazia parte de seus quadros. Porque o PMDB não foi formado numa reunião de partidos que se sentaram numa mesa e acordaram quanto à necessidade de constituição de uma frente, tal como ocorre no esquema clássico. Ao contrário, o PMDB foi uma convergência natural das forças políticas que não tinham outra maneira de se posicionar contra a ditadura. Por isso sempre considerei um pouco forçada a designação do PMDB como partido-frente,principalmente numa conjuntura em que já se havia dado a divisão orgânica dos partidos. Ao PCB faltou a percepção de que o PMDB tinha, como ainda tem, a possibilidade de ser um partido real, o mais importante partido da transição. Esgotada a transição, ou seja, uma vez estabelecida uma institucionalidade democrática no país, poderá haver uma decantação partidária no Brasil, mas ainda assim não estão claros, por ora, os limites da existência e atuação do PMDB. Considero, portanto, plenamente possível a sobrevivência do PMDB, ainda que concluído o processo da transição, dependendo da forma como ele encaminhar a luta pelas mudanças reclamadas pela sociedade brasileira e dependendo da forma como ele resolver suas divergências internas. Sem dúvida a hegemonia da esquerda no interior do partido representa o caminho mais seguro para a organização de um PMDB moderno, democrático e de massas. Só que a conquista da hegemonia, insisto, não significa uma luta de foices no interior do partido. (....)

É certo que a saída dos comunistas foi uma perda para o PMDB, tanto do ponto de vista da sua relação com os movimentos sociais, quanto do ponto de vista da sua reconhecida capacidade de organização da militância de base. Mas o importante, nesse momento, é discutir a forma como a esquerda que permaneceu no PMDB poderá contribuir para a organização do Partido em bases permanentes. Será que é através de uma explicitação programática daquele grupo dentro do partido? Mas de que esquerda estamos falando? Queiramos ou não o Fernando Henrique, o Serra, o Almino Afonso representam a esquerda do PMDB...

Por isso acredito que militantes como nós, que não temos um projeto pessoal de participação no poder, devemos levar o PMDB a ter uma visão crítica as sua política em relação às demais forças políticas do país, forçando-o a esboçar uma política de alianças que inclua o PT, o PDT e todos os que puderem ser agregados nessa tarefa de implantação de um regime democrático e antiautoritário no país. Acho que talvez seja a hora da esquerda peemedebista, olhar menos para o interior do partido e retornar à sua aspiração original, retomar o seu programa peemedebista forçando o partido a buscar a formação desse grande ajuntamento nacional para sustentar a democratização do país”.

Entrevista com Armênio Guedes, revista Presença, n. 9, fev. de 1987.

2000 - O papel desempenhado pela militância comunista no Brasil (1950-1970)

“O livro de memória de Marco Antônio Coelho é a história mais concisa e bem escrita que conheço sobre a militância comunista no Brasil. Pode-se agora avaliar com maior clareza o papel desempenhado por ela na educação e formação de uma boa parte dos quadros que estão hoje ocupando postos de direção na vida política do país. Por isso, e por sua qualidade literária, é uma leitura fascinante”.

Contra capa do livro Herança de um sonho – memória de um comunista. Marco Antônio Tavares Coelho. Editora Record, Rio de Janeiro, 2000,