quinta-feira, 30 de agosto de 2018

William Waack: Enfrentar o ‘inevitável’

- O Estado de S.Paulo

Uma vitória de ‘reformistas’ é menos pior para nosso futuro; mas é pouco

O esforço de muitos analistas em traçar cenários pós-eleitorais tem trazido uma curiosa “mediana” de previsões, especialmente entre economistas que já viram de tudo (começando pelo Plano Cruzado). Cofres públicos vazios, dívida pública subindo e quebradeira geral dos Estados “inevitavelmente” levarão a reformas para lidar com a crise fiscal. Candidatos carimbados como “reformistas”, segundo essas previsões, farão mais rápido o necessário. Até mesmo os “populistas” agirão na direção “correta”, pois reconhecem a bomba fiscal.

A velocidade relativa com que uns e outros atacarão os gastos públicos permite até previsões numéricas. Assim, a eleição de um “reformista” sugere um dólar de R$ 3,40 no meio do ano que vem. Se for um populista, dólar de R$ 4,60. A taxa de inflação sob um “reformista” permaneceria em 4,5%; um “populista” a levaria para 8%. E assim por diante com juros e crescimento do PIB que, dependendo do otimismo quanto à recuperação do consumo das famílias, poderia até chegar a uns 3% já em 2019.

Não critico economistas por raramente acertarem previsões; com jornalistas acontece o mesmo. O que sempre me fascina no raciocínio deles é a pouca margem que atribuem à estupidez humana na tomada de decisões – no caso do Brasil, não fazer nada relevante frente à questão fiscal (uma “não decisão” a cargo de humanos) equivale a uma das posturas mais estúpidas possíveis. E, a julgar pelo andar da carruagem político-eleitoral, até mesmo bastante provável.

Da mesma maneira, não posso criticar quem, confrontado com o cenário difuso e nebuloso do momento atual da corrida eleitoral, se apega a “inevitabilidades”, a coisas que “terão” de acontecer. É uma forma de tornar a imprevisibilidade menos imprevisível. E, também, em confiar que decisões coletivas claramente prejudiciais aos interesses de um país (especialmente de prazo mais dilatado) acabam sendo evitadas. Mas é bom considerar Brexit, Trump e o apoio popular à greve dos caminhoneiros. Não era para acontecer, mas aconteceu.

Eugênio Bucci: A eleição totêmica

- O Estado de S.Paulo

Na nossa mitologia meio mequetrefe, meio rastaquera, o candidato que lidera as pesquisas, posto para fora do pleito por força da legalidade eleitora receberá votos mesmo assim

“O pai morto tornou-se mais forte do que o fora vivo” Sigmund Freud, em Totem e Tabu

Imaginemos a condenação de um adorado líder nacional que sofreu um processo administrado com celeridade atípica, a toque de caixa. Imaginemos que esse homem forje uma oportunidade espetacular para discursar em público, momentos antes de se entregar aos que farão cumprir a sentença. De posse da palavra, diz que seu crime não está no mal que causou, pois não causou nenhum. Sua eloquência comove os presentes. Se sofrerá punição, assegura, só a sofrerá por ter feito o bem ao povo. Ele se vê como um revolucionário. Está seguro de que a História reconhecerá seu valor. Acusa os juízes de estarem a serviço de ordens espúrias e inconfessáveis. Adverte que a imprensa deixou de cumprir o seu papel de relatar os fatos, pois foi silenciada pelo poder. Avisa a seus carrascos que podem tentar, mas não conseguirão apagá-lo da vida nacional, pois ele não é mais um homem comum. Diz que suplantou a condição humana e atingiu outra dimensão.

Estamos falando, como o improvável leitor já há de ter notado, do francês Georges Jacques Danton (1759-1794). Em termos menos vagos, falamos aqui do personagem Danton tal como foi retratado no filme que leva seu nome, Danton, o Processo da Revolução, uma produção de 1983 que envolveu três países, França, Polônia e Alemanha, sob a direção do polonês Andrzej Wajda. Baseado em fatos e pronunciamentos registrados pelos historiadores, o filme reconstitui os dias em que o tribunal revolucionário em Paris condenou à guilhotina o exuberante orador e expoente maior da Revolução Francesa. Numa cena especialmente dramática, Danton se encontra no tribunal. Sabe que não terá escapatória. A farsa judicial é flagrante. Ele protesta e ganha a palavra. No grito. Reclama dos policiais que impediram um jornalista de tomar notas. Começa a falar.

“Por que é preciso me matar? Só eu posso responder. Devo morrer porque sou sincero. Devo morrer porque digo a verdade. Devo morrer porque assusto. Eis as razões que levam ao assassinato de um homem honesto”.

Como não adianta mais recorrer aos fatos, apela para o sobrenatural, como alguém que se visse transfigurado em mito: “Eu não desaparecerei. Não! Eu falo! E falarei até o fim! Pois sou imortal! Sou imortal, porque sou o povo! O povo está comigo!”.

À beira de perder o pescoço, Georges Danton inventou a própria imortalidade. Era o que lhe restava. Apesar da retórica triunfalista, faleceu no dia 5 de abril de 1794, aos 34 anos de idade. Não consta que depois de morto se tenha manifestado magicamente para conduzir os cidadãos franceses. Mesmo assim, naqueles dias, e por muitos anos, o Danton morto teve quase o mesmo encanto que o Danton vivo.

Merval Pereira: O começo de tudo

- O Globo

Ao falar de Cuba, o ministro José Dirceu não fez nenhuma referência direta às restrições democráticas na ilha

O episódio em que o ex-ministro José Dirceu levou uma bronca do então presidente Lula, incluído no seu livro de memórias, que Ancelmo Gois revelou ontem, foi talvez o primeiro choque petista na burguesia brasileira, poucos meses depois de chegar ao poder.

No fim de 2003, no IV Foro Iberoamérica, reunião de empresários, intelectuais, acadêmicos e autoridades de países da América Latina, Portugal e Espanha, o chefe do Gabinete Civil do novo governo brasileiro disse que o Brasil pensava articular uma parceria militar entre os países da América do Sul para se contraporem aos Estados Unidos. No dia seguinte, foi desautorizado por Lula: “Não sabia que tinha lhe nomeado ministro da Defesa e das Relações Exteriores”.

Eu estava lá, e verifiquei pessoalmente o rebuliço que causou nos meios políticos e diplomáticos, e especialmente entre os empresários, brasileiros e estrangeiros, alguns dos principais investidores no Brasil, como o milionário Carlos Slim.

Dirceu, visivelmente encantado com o efeito de suas palavras, disse a empresários preocupados que eram apenas “reflexões”. Conforme relatei na ocasião, gerou reflexões mesmo, e algumas preocupações. “Parte da plateia era muito sensível a certos temas levantados pelo ministro, que misturou suas reflexões com histórias do tempo em que era clandestino e vagava pelos aeroportos do mundo armado e com passaportes falsos.”

Descrevi um almoço nos jardins da mansão do casal Ivo Rosset e Eleonora Mendes Caldeira, desenhada por Wesley Duke Lee em Campos de Jordão, que serviu de palco para o empresariado digerir, junto com uma perdiz, algumas percepções de Dirceu, que já não estava presente. “Difícil digestão, não apenas pelo aspecto militar levantado, mas especialmente pelo lado político de algumas observações”.

Cristian Klein: O alarido do PT e dos bolsonaristas

-Valor Econômico

Bolsonaro pode ser passaporte para vitória do PT

O político experiente, acostumado com humores e reveses do eleitorado, é assertivo: "Vão eleger o Haddad presidente da República". O interlocutor tem lá suas dúvidas. Afinal, o petista, a 40 dias do primeiro turno, registra 4% das intenções de voto. O tempo é curto para o ex-prefeito de São Paulo cair na boca do povo que põe seu padrinho preso com quase 40% das preferências.

No passeio público, na manhã seguinte à sabatina de Bolsonaro ao "Jornal Nacional", populares parecem ter finalmente despertado para a eleição. Sobre a caçamba de entulho, a peãozada fala de política. Entre os dois mais exaltados, um é lulista. A pedestre, classe média, passa ao lado e ouve o outro defender Bolsonaro em voz alta. Compartilha o entusiasmo. Sorri e dá joinha com o dedo enquanto aclama o nome do militar reformado. O assentimento da desconhecida é senha para o alarido dos operários bolsonaristas. Em cima dos escombros, parte entusiasmada do grupo ovaciona o deputado.

Na noite anterior, o presidenciável foi seguro e, como sempre, agressivo na entrevista aos apresentadores do telejornal. Em geral, Bolsonaro é melhor no pinga-fogo com jornalistas do que no debate com adversários. Entre uma e outra situação, há um abismo. Já anunciou que deixará de comparecer nos próximos encontros, para logo em seguida voltar atrás e afirmar que irá. É onde vai pior. No ringue, tem sido uma sombra, sem força, pusilânime, sem ideias.

Como o estudante despreparado, que não estudou, precisa de cola. A ditadura que o candidato defende sujou as mãos de sangue com torturas e execuções. Bolsonaro apenas suja as mãos com tinta de caneta. Por enquanto. Se eleito, combaterá "violência com mais violência". Fará uma cruzada pela liberação de armas. Implantará escolas militares.

O candidato do PSL ganhou um eleitorado que parece imune ao exame de consciência ou ao politicamente correto. Está pouco se importando tanto para as causas e problemas de minorias quanto os de maiorias (mulheres, negros, índios, quilombolas, LGBTs, empregados com carteira assinada, trabalhadores sem-terra, crianças que sofrem "bullying" etc). São tantos os alvos, que surpreende a capacidade que Bolsonaro teve, até agora, de reter e ampliar o apoio, mesmo sem moderar o discurso, algo esperado para qualquer campanha majoritária.

Bruno Boghossian: Batalha de propaganda

- Folha de S. Paulo

Ameaça de veto a Lula na TV pode forçar aceleração de troca por Haddad

O movimento da Justiça Eleitoral para acelerar a definição de limites à candidatura de Lula aproxima o PT de um beco sem saída. A ameaça de veto à participação do petista na propaganda de TV pode obrigar o partido a encarar a campanha de frente e antecipar o lançamento de Fernando Haddad.

O TSE quer julgar nesta sexta (31) se Lula tem direito a aparecer no horário eleitoral. A procuradora Raquel Dodge argumenta que o ex-presidente está inelegível e, portanto, deve ser impedido de usar um espaço financiado com dinheiro público. Para decidir a questão, a corte pode ser forçada a se debruçar sobre a validade da candidatura em si.

O PT sempre previu que o ex-presidente seria barrado. O partido arquitetou um encadeamento de recursos jurídicos para garantir ao menos sobrevida a esse projeto. Os atos finais seriam a estreia de Lula na televisão como candidato e a cena em que ele passaria o bastão a Haddad.

O risco de interdição do palanque eletrônico afeta os planos de transição. Se o TSE decidir que Lula não pode aparecer como candidato na TV, os caminhos do PT se estreitam: ou o partido boicota a propaganda, ou admite a candidatura de Haddad.

Daniela Lima: A soma de todos os fatores

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro cresceu em cenário de terra arrasada e a reboque do caos

Dirigentes petistas costumam dizer que Jair Bolsonaro (PSL) é produto do “ódio plantado pelo PSDB” na eleição de 2014, e é mesmo provável que a ferrenha disputa política desencadeada pela reeleição de Dilma Rousseff ajude a explicar a ascensão do “mito”. Mas certamente ela não é o único fator a ser considerado.

Algumas das ondas nas quais o capitão reformado do Exército hoje surfa com muita tranquilidade ressoam discurso divisivo martelado pelo próprio PT há anos —mas, novamente, não é só isso.

Bolsonaro amealhou eleitores no cenário de terra arrasada da política; embate entre Congresso, Planalto e Judiciário; bate-boca no Supremo; dúvidas sobre a atuação de juízes, promotores, procuradores e ministros; ataques à imprensa.

Ele é um produto do nosso tempo.

A aversão do partido do ex-presidente Lula à mídia, comumente chamada de parcial e golpista nos palanques do PT, fertilizou o solo no qual o presidenciável do PSL, hoje, transforma toda crítica ou questionamento legítimo em “fake news” ou “mimimi” de uma imprensa preconceituosa que não o quer no poder.

Matias Spektor: Planeta Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Candidato do PSL à Presidência produziu uma plataforma diferente de tudo o que já se viu

Jair Bolsonaro apresenta ideias sobre relações internacionais que põem em xeque os conceitos de política externa concebidos nos últimos anos pelo condomínio tucano-petista.

O projeto do deputado para a diplomacia brasileira é produto de sua intuição pessoal e de um condicionante estrutural —a ausência de militância, máquina, fundo partidário, tempo de televisão e apoio de grandes conglomerados empresariais.

Tentando energizar a sua base, Bolsonaro produziu uma plataforma de política externa diferente de tudo o que já se viu.

Ele promete aproximar-se para valer do governo de Trump. Ao contrário de Sarney, FHC, Lula e Dilma, que optaram por manter os EUA a distância, Bolsonaro quer alinhamento. Isso significa redobrar a aposta em cooperação com os americanos em temas como narcotráfico e crime organizado.

Bolsonaro também pretende sacudir a relação com a China. Para ele, a ascensão acelerada do gigante asiático é uma ameaça. O fluxo de comércio permanecerá intocado, mas ele promete condicionar o crescimento dos investimentos chineses no Brasil. Nessa visão, nossa dependência de Pequim não é inexorável e tem de ser manipulada em benefício próprio.

Ricardo Noblat: PT quer Lula preso

- Blog do Noblat | Veja

O partido tenta fugir de uma derrota humilhante

É questão de vida ou morte para o PT sem voto, que precisa em desespero eleger e reeleger deputados, senadores e governadores, que Lula continue preso. E que fique preso pelo menos até depois do segundo turno da eleição.

O ideal seria que ele fosse solto e pudesse ser candidato a presidente. Aí o PT iria para o céu. Mas soltá-lo agora, sem que possa concorrer, seria um desastre para o partido. Reduziria suas chances de se dar bem nas urnas.

Lula está cansado de saber disso. Mas como imagina que poderá – quem sabe? – eleger Fernando Haddad presidente, topou jogar o jogo. Por falta de escapatória, também. A eleição de Haddad seria o único passaporte de Lula para a liberdade a prazo curto.

Mais do que somente para a liberdade. Para ser beneficiado por um indulto presidencial. E para compartilhar o governo com Haddad. No limite, para que Haddad e a vice Manuela d’Ávilla renunciassem, forçando a convocação de nova eleição.

Quem seria então o candidato do PT a presidente? Adivinhe! Delírio tudo isso? Outro dia, o ex-ministro Gilberto Carvalho, o alter ego de Lula, disse ao jornal Gazeta do Povo, do Paraná:

“Na campanha, vamos deixar claro para o povo o seguinte: votar no Haddad é votar no Lula. É o Lula quem vai governar. Vamos tirar o Lula da cadeia em algum momento. E vai sair direto para o Palácio do Planalto para governar junto com Haddad.”

Empenhada em proteger Lula do juiz Sérgio Moro que ameaçava prendê-lo à época, Dilma presidente nomeou-o chefe da Casa Civil, o segundo cargo mais importante do governo. A nomeação acabou abortada por ato do ministro Gilmar Mendes.

Haddad está conformado em servir a Lula na campanha como boca de aluguel. Quanto mais demorar para que o substitua como candidato, melhor para Haddad nos seus cálculos, mas muito melhor para o PT sem votos e “luladependente”.

– Estou aqui pra representar Lula e fazer chegar ao povo mineiro as propostas do Lula e reinstalar a República no país – afirmou, ontem, Haddad em uma entrevista à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte.

Na vida real, o candidato será Haddad. Mas no mundo da fantasia do PT, os eleitores enxergarão Lula em Haddad. Enganá-los – esse é o objetivo. Para evitar que o PT colha uma nova derrota humilhante como a das eleições municipais de há dois anos.

Lula ficará de fora da TV
Sessão histórica da Justiça Eleitoral

Zeina Latif: Fala bonita, mas vazia

- O Estado de S.Paulo

Talvez mais importante será discutir sobre o peso das bancadas no Congresso

“A reforma política é a mãe de todas as reformas.” Com esse mantra, muitos defendem que o grande problema do Brasil é o sistema político, caracterizado por elevado número de partidos e fraco vínculo dos parlamentares com o eleitor.

Os muitos partidos sem afinidade de crenças e ideologias entre seus afiliados reduziriam o compromisso dos políticos com os princípios partidários. Diminuiria, assim, o apoio a políticas públicas para o bem comum, em favor de interesses paroquiais. Esse quadro dificultaria a construção de consensos para a aprovação de reformas e enfraqueceria a democracia.

Os números são convincentes. Há atualmente 25 partidos com cadeira no Congresso brasileiro; 37 na confusa Argentina; e 9 no Chile reformista.

Há ampla discussão sobre a necessidade de adotar um outro sistema para eleição de deputados e vereadores. Alguns defendem migrar do atual sistema proporcional para o voto distrital ou o híbrido voto distrital misto, como forma de melhorar a representatividade da sociedade no Congresso e também reduzir o custo das campanhas.

Luiz Carlos Azedo: O xis do problema

- Correio Braziliense

“A radicalização e o ódio na campanha eleitoral contrariam a cultura de conciliação da política brasileira. O medo dessa confrontação pode ter um peso decisivo nas eleições”

Para a maioria dos analistas, o principal problema do Brasil hoje é a crise fiscal, que desorganiza as contas públicas. A solução desse problema deveria ser o centro do debate entre os candidatos a presidente da República, mas não é isso o que acontece, porque não há uma percepção popular acerca do seu significado para a vida das pessoas. Não existe uma associação clara entre o fato de o governo gastar mais do que arrecada, em particular a Previdência, e a resposta aos problemas do dia a dia da população. Por essa razão, os candidatos que focam as campanhas nessa discussão não sensibilizam a grande massa do eleitorado, apenas os agentes econômicos e setores mais esclarecidos da população.

As prioridades do eleitorado estão em outra agenda, que podemos identificar num tripé. A primeira é o desemprego, que desestrutura as famílias, pois atingiu uma escala crônica, chegando a 13 milhões de vítimas no país. Na região metropolitana de São Paulo, atingiu 17% no mês de julho, mesmo percentual do mês anterior, segundo a Fundação Seade e o Dieese. Em julho de 2017, a taxa foi de 18,3%. O contingente de paulistas desempregados é estimado em 1,8 milhão de pessoas. Estamos falando de São Paulo, a cidade que historicamente representou uma espécie de “sonho americano” no Brasil. Talvez, isso explique as dificuldades que o candidato tucano Geraldo Alckmin esteja enfrentando no próprio terreno.

A taxa de desemprego pouco variou no município de São Paulo (de 16,3% para 16,2%), diminuiu na região leste, que inclui Guarulhos e Mogi das Cruzes (de 19,7% para 19,0%), e subiu na região sudeste e cidades do Grande ABC (de 17% para 18,2%). Além disso, o rendimento médio real dos ocupados caiu em 1,6%, e o dos assalariados, em 1,4%, passando a equivaler a R$ 2.089 e R$ 2.157, respectivamente. É óbvio que esses números são consequência da forte recessão ocorrida no governo Dilma Rousseff e das dificuldades de retomada do crescimento num ambiente de desajuste fiscal, mas essa percepção é obscurecida pelo desgaste sofrido pelo governo Michel Temer em razão da Operação Lava-Jato.

Vem daí a segunda prioridade: o combate à corrupção. A Lava-Jato, como já se sabia, se tornou um vetor importante da campanha eleitoral, com forte influência no posicionamento dos eleitores. Mesmo considerando a campanha feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a operação, para caracterizá-la como um instrumento de perseguição política, essa variável continua fortíssima. De certa forma, o ex-presidente conseguiu romper essa barreira em termos eleitorais, mas ela é intransponível juridicamente, pois Lula estará preso e terá sua candidatura impugnada.

A terceira prioridade é violência, que está relacionada ao desemprego, à desestruturação das famílias e à corrupção. É aí que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) nada de braçada, com seu discurso a favor do endurecimento da repressão policial, em defesa da família unicelular patriarcal e de soluções mágicas para a crise econômica. Seu principal assessor econômico, Paulo Guedes, se propõe zerar o deficit público em um ano, com um programa de reforma administrativa e privatização radical dos ativos públicos, que seriam transferidos para um fundo de resgate da dívida pública.

Carlos Alberto Sardenberg: Dinheiro, tem. Mas acaba

- O Globo

O próximo presidente vai mesmo gastar aquele trilhão e tanto da LDO, mas não vai decidir onde e como

O próximo presidente vai gastar muito dinheiro — algo em torno de R$ 1,4 trilhão. Essa espantosa despesa consta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), já aprovada pelo Congresso, e que será a base do projeto de Orçamento federal para 2019 — o qual, aliás, será encaminhado amanhã ao Legislativo.

Olhando o dinheiro, muitos candidatos se encantam. E os candidatos liberais se encantam mais ainda quando verificam que a União dispõe de estatais e imóveis. Já pensaram? Vendem-se ativos, paga-se dívida e tome gastos sociais e investimentos.

Pura ilusão. O presidente vai mesmo gastar aquele trilhão e tanto, mas não vai decidir onde e como.

Começando pelo Orçamento, conforme os parâmetros da LDO. A maior parcela vai obrigatoriamente para benefícios do INSS, nada menos que R$ 635 bilhões. Depois, vem a folha de salários e encargos do funcionalismo, com R$ 322 bilhões. Em seguida, a conta de despesas sociais, como o benefício de prestação continuada. Mais R$ 225 bilhões. Somando essas três rubricas, já se foi a parcela de 83,5% do gasto total.

Há ainda despesas que podem ser remanejadas aqui e ali, mas têm que ser feitas, por determinação constitucional, em educação e saúde. Isso leva mais R$ 135 bilhões.

Tudo somado e subtraído, daquela espantosa cifra inicial sobra para o próximo presidente decidir onde gastar a mixaria de R$ 98 bilhões, algo como 7% da despesa total. E para todo o funcionamento da máquina e investimentos.

É verdade, que na parte das receitas, tem um dinheiro bom — R$ 303 bilhões — que são renúncias fiscais, ou dispensa do pagamento de impostos para diversos setores e empresas. É tentador: cancelem-se algumas isenções e aparecem mais alguns bilhões.

Míriam Leitão: Ao fechar o Orçamento

- O Globo

O Orçamento de 2019 terá um pouco mais de espaço para o gasto livre, chamado de discricionário. Deve passar de R$ 100 bilhões

A dúvida com a qual o governo se batia ontem, de incluir ou não, no Orçamento de 2019, o reajuste do salário do funcionalismo federal foi criada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Quando eles aumentaram seus próprios salários, ficou mais difícil o caminho de tentar negar o mesmo para os servidores civis do Executivo. O Orçamento deve ter um pouco mais do que se esperava para gastos discricionários, mas menos do que em 2018.

As contas estão sendo finalizadas, e o Orçamento deve ser enviado ao Congresso na sexta-feira, mas a ideia é que se consiga deixar acima de R$ 100 bilhões o valor que o próximo governo terá para movimentar, com mais liberdade, no seu primeiro ano. Parece muito, e é na verdade em torno de 9% do Orçamento. E aí estão incluídos todos os gastos de custeio e todos os investimentos. A ideia inicial é que ficaria em torno de R$ 90 bilhões, mas as contas estão um pouco melhores. De qualquer maneira, confirma-se a tendência de queda anual do valor que fica para o gasto não engessado.

Não há a menor possibilidade de governar o Brasil daqui para diante se este problema do excesso de vinculações não for enfrentado. O gasto da previdência e de pessoal tem aumentado todos os anos, comendo exatamente a margem para o gasto do governo com seus projetos, investimentos e custeio da máquina.

Ribamar Oliveira: Tirar as despesas previdenciárias do teto

- Valor Econômico

Criado para durar 10 anos, antes de revisto, talvez não passe de 3

Cresce a percepção de que o chamado teto de gastos da União, instituído pela emenda constitucional 95/2016, será alterado pelo próximo governo. Ainda não é possível saber o teor da alteração. A atual equipe econômica, por exemplo, simpatiza com a ideia de retirar do teto as despesas da Previdência, mas apenas após a reforma dos atuais regimes previdenciários.

Alguns candidatos à Presidência da República, bem colocados nas pesquisas eleitorais, querem simplesmente acabar com o teto. Outros anunciam que vão mudá-lo, mas não dizem exatamente o que pretendem fazer. Uns acham que ele é inexequível, outros, que impede o aumento dos gastos na área social. Em síntese, o teto, que deveria durar dez anos antes de ser alterado, talvez não passe de três.

O teto de gastos foi criado com o objetivo de frear o crescimento contínuo das despesas da União, que não param de aumentar. Em 1991, o gasto primário da União (não considera o pagamento dos juros das dívidas) correspondia a 10,8% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Ministério da Fazenda. Em 2016, o gasto atingiu 20% do PIB. No ano passado, caiu um pouco, para 19,5% do PIB.

Alguns consideram que o teto foi um instrumento inadequado para enfrentar o problema, pois ele não corta despesas. De acordo com esse raciocínio, o governo Michel Temer deveria ter concentrado esforços para aprovar a reforma da Previdência Social, que efetivamente reduziria o ritmo de crescimento dos gastos. Agora, essas questões são águas passadas.

Em carta, Lula critica Alckmin e Ana Amélia

Ex-presidente lista ações de seu governo no Rio Grande do Sul e lembra sua visita ao estado

Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, em carta endereçada a uma rádio gaúcha, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e a vice do tucano, senadora Ana Amélia (PP).

Na mensagem enviada à rádio Guaíba, Lula lista ações de seu governo no Rio Grande do Sul e lembra sua visita ao estado.

O ex-presidente diz que ele e sua caravana foram tratados com muito carinho pelo povo trabalhador gaúcho. Mas também recebidos a pedradas e chicotadas por alguns representantes da elite, “que durante 500 anos se julgou dona deste país e que, não por coincidência, tratou o povo brasileiro a chicotadas”.

“Importante lembrar que tal ato de violência foi elogiado por uma senadora gaúcha, hoje candidata a vice-presidente na chapa tucana. Aliás, quando logo depois do ônibus em que eu viajava ser atingido a tiros no Paraná, o candidato do PSDB a presidente da República justificou o ato terrorista dizendo: “O PT colhe o que planta”. Esse é o retrato fiel da elite brasileira”, diz a carta.

Na mensagem, lida nesta quarta-feira (29), Lula menciona o destino de Getúlio Vargas e João Goulart. Ao citar Leonel Brizola, diz que o ex-governador do Rio “sofreu uma perseguição implacável da Globo".

"Perseguição que só seria superada pela sórdida campanha que essa empresa moveu e move contra mim, a presidenta Dilma e o Partidos dos Trabalhadores”, escreveu.

“A Globo chegou ao cúmulo de censurar a minha campanha a presidente, achando que, com isso, ela vai fazer o povo se esquecer de mim. A verdade é que o povo tem memória e não se esquece de quem mais lutou pelos seus direitos e pela sua dignidade”, diz

Dirceu diz que, se eleito, PT vai pressionar para implementar 'programa radical'

Ex-ministro afirma que haverá tempo para transferir votos de Lula para Haddad se ex-presidente ficar inelegível

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-ministro José Dirceu afirmou nesta quarta-feira (29) que, se voltar ao Planalto, o PT vai patrocinar um movimento de pressão popular sobre o Congresso e o Judiciário para implementar um programa de governo radical.

Dirceu disse que esse tipo de política, que poderia contar, inclusive, com o cerco da militância à Câmara e ao Senado, é legítimo para impulsionar as mudanças que o plano de seu partido propõe para o país.

Entre as propostas apresentadas com aval do ex-presidente Lula à Justiça Eleitoral, estão as reformas tributária e do sistema bancário, com mais impostos sobre os bancos que cobrarem mais juros pelos empréstimos.

"Temos um programa radical e a maioria no Parlamento precisa ser combinada com uma grande pressão popular", afirmou o ex-ministro em Brasília. "Que não nos critiquem por pressão popular, por cercar o Congresso Nacional com manifestações, porque foi isso que fizeram conosco no governo de Dilma [Rousseff]", completou em referência aos protestos que levaram ao impeachment da petista.

Em sua primeira coletiva de imprensa desde 2007, Dirceu disse que o PT prega a defesa de interesses sociais ao limite e que a sigla fará política como foi feita pelos adversários e opositores.

"Eu não diria que é um programa 'com a faca no dente', porque essa expressão é praticamente de confronto aberto, ou seja, continuidade da política por outros meios. Nós vamos fazer política como foi feita pelos nossos adversários e opositores. É assim que vamos fazer, pelo menos se perguntarem minha opinião e eu tiver influência nas decisões", declarou.

Registro de Lula pode ser julgado amanhã

Por Isadora Peron e Luísa Martins | Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, convocou uma sessão extraordinária da corte para amanhã, a partir das 14h30. Ainda não há pauta definida, mas a expectativa é que o pedido de registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja analisado.

Mesmo que não haja uma definição sobre a inelegibilidade de Lula, os ministros da corte poderiam discutir a participação de Lula no horário eleitoral no rádio e na TV, que para os presidenciáveis estreia no sábado. O PT tem 2min22s em cada bloco de propaganda.

O prazo para a defesa de Lula apresentar as suas manifestações finais termina hoje. Depois, pelo regimento, ainda há a previsão de abrir um período para o envio das alegações finais.

Para o advogado de Lula, Luiz Fernando Casagrande Pereira, o processo do petista ainda não está pronto para ir a julgamento. "O TSE nunca deu uma liminar em registro. Pelo contrário. Sempre cassou liminares similares. Sempre garantiu o procedimento. Não acredito em rompimento do padrão no caso Lula", afirmou.

Bolsonaro mobiliza base, mas não a amplia

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - A entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional promoveu o presidenciável ao posto de campeão isolado de engajamentos nas redes sociais (compartilhamentos, comentários e curtidas), mostram levantamentos das agências.MAP e Atlas Político. As medições constataram, porém, que isso não serviu para ampliar expressivamente a base de seguidores do candidato.

O Atlas detectou 345 mil engajamentos no Facebook (Lula, o segundo, conseguiu 260 mil) e 628 mil no Twitter (ante 93 mil do petista). No mesmo período, ele conseguiu 8.869 novas adesões no FB, quase o mesmo que Guilherme Boulos (Psol), 6.060. Ciro Gomes (PDT) atraiu 7.327. E João Amoêdo (Novo), que ganha destaque na rede, 48,5 mil. Ou seja, houve grande intensidade na atuação de seus adeptos, mas a base não ampliou.

"Quem gosta do Bolsonaro continua muito engajado. Mas esse público não cresce como antes", avaliou Andrei Roman, diretor da empresa. "Está estagnado". Gestos de Bolsonaro talvez ajudem a explicar esses dados. Depois do JN, ele foi recebido na GloboNews. O jornalista Merval Pereira perguntou sobre os escritos em sua mão, uma colinha claramente feita para ser notada. " Deus, família, Brasil", respondeu. "Tô fazendo uma propaganda. Você mordeu a isca, Merval. Obrigado aí".

O episódio que ilustra bem um padrão que tem sido repetido. Na internet, adeptos do deputado já vibravam desde a primeira aparição da colinha, durante o debate presidencial na Rede TV!.. "Gênio", "mito", "rei do marketing", "kkkkkkk" foram algumas das manifestações.

Confrontar a imprensa pareceu mais importante em sua estratégia do que chegar ao eleitorado que não está na mesma frequência. Ao optar por esse caminho, Bolsonaro deixou claro que sua orientação é jogar para a própria plateia, disse um analista. "Se o objetivo era esse, seu desempenho no JN foi magistral."

Alckmin: ‘Propor mudança sem maioria é conversa fiada’

- O Globo

Alckmin defende centrão: ‘Precisamos de maioria’

Em entrevista ao Jornal Nacional, candidato do PSDB a presidente diz que promessas de mudança sem construção de alianças são ‘conversa fiada’; para tucano, sua legenda, mesmo com investigados, ‘não transforma réu em vítima’

Ao ressaltar que todos os partidos têm bons quadros, o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, defendeu ontem, em entrevista ao Jornal Nacional, sua aliança com os partidos do centrão, que abriga investigados na Operação Lava-Jato.

—Precisamos ter maioria para fazer as mudanças de que o Brasil precisa. Quem prometer mudança sem construir maioria é conversa fiada — disse o ex-governador de São Paulo.

Apesar do envolvimento de integrantes do PSDB, do qual é presidente, em escândalos de corrupção, Alckmin insistiu no discurso de defesa da ética e tentou diferenciar o partido do PT:

— Não vamos para a porta de penitenciária contestar a Justiça, não transformamos réu em vítima, não desmoralizamos as instituições.

Cobrado sobre a permanência do senador Aécio Neves e do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo nos quadros do PSDB, Alckmin disse que o primeiro está sendo investigado e não foi condenado, e que o segundo “está afastado da política há muito tempo”.

“Defendo a Lava Jato e as investigações”, diz Geraldo Alckmin ao JN

Reportagem Shirley Loiola

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, reafirmou nesta quarta-feira (29) sua defesa à Lava Jato e às investigações contra a corrupção.

“Defendo a Lava Jato e as investigações. Nós não passamos a mão na cabeça de ninguém. Quem errou paga por isso.”, disse ele em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta quarta-feira (29).

Sobre a segurança pública no Brasil, o ex-governador expôs as suas propostas e disse que fará no Brasil, o que fez em São Paulo.

“A política de segurança de São Paulo é um exemplo. Temos os melhores policiais e a melhor polícia do Brasil. Em 2013 tínhamos 13 mil assassinatos por ano e reduzimos até 3.503. Em São Paulo tem cana dura para criminoso”, destacou citando números de sua gestão como governador. Parte disso em razão de uma estratégia que pretende implementar nacionalmente: “Vou liderar a segurança pública no Brasil com tecnologia e inteligência. Vou mudar a lei de Execuções Penais. Acabar com saidinhas, endurecer pena. O problema do Brasil é tráfico de drogas e armas. Isso é tarefa federal”.

Geraldo Alckmin ressaltou que São Paulo é o único estado que investe o ICMS em moradia para a população. Ele afirmou que pretende estender ações para melhorar a infraestrutura em todo o Brasil e gerar empregos.

“São Paulo é o único estado que investe 1% do ICMS em moradia. Fizemos a primeira PPP de habitação para revitalizar o centro de São Paulo. Complementamos recursos do minha Casa Minha Vida. Vou fazer um grande canteiro de obras. Estradas, ferrovias, rodovias, portos, habitação e isso é emprego na veia.”, afirmou.

Como médico, reiterou seu compromisso com a melhoria da saúde pública. Um caminho, na sua avaliação, seria com as OSs, que são entidades filantrópicas que gerenciam hospitais públicos em São Paulo e que vêm colhendo bons resultados no estado.

Alckmin promete reformas no início do mandato e critica política de combustíveis

Tucano participa em Brasília de sabatina da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, entidade que representa o agronegócio

Camila Turtelli e Renan Truffi |O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, voltou a falar sobre zerar o déficit primário do País em até dois anos e aprovar reformas já no seu primeiro ano de governo, caso seja eleito. Alckmin criticou a política de preço de combustível, que resultou na greve dos caminhoneiros deste ano, e o tabelamento do frete rodoviário - demanda da categoria acordada com o governo que enfrenta resistência dos produtores. O tucano participou em Brasília de sabatina realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

"Estou trabalhando com Ana Amélia (vice na sua chapa) para, em janeiro, apresentar e aprovar reformas", disse. "Meta é zerar déficit primário em até dois anos; permitir mais queda dos juros."
"A meta é reunirmos os melhores economistas ligadas ao setor", disse o tucano, citando nomes como Alexandre Mendonça de Barros e Pérsio Arida. Com acenos às demandas do setor, o candidato afirmou que não há hipóteses de voltar imposto sobre exportação e que isso significaria tirar competitividade de produtos. O tucano teceu elogios ao agronegócio: é um "grande polo dinâmico da economia", "campeão de emprego" e que "melhora a qualidade de vida da população".

Alckmin voltou a defender a criação de um tributo para amenizar a variação de preços dos combustíveis conforme o mercado internacional. "A Petrobrás não pode fazer ajustes diários. Faz uma média a cada 30 dias, se subir muito o barril do petróleo, faz um imposto regulatório, para se ter um colchão de natureza tributária. Se subir muito (o preço do) barril, você baixa o imposto regulatório", afirmou. "O resultado (da greve) foi subsídio para combustível fóssil e esse retrocesso do tabelamento de frete. Não tem o menor cabimento", disse.

Ele ainda voltou a alfinetar concorrentes sobre o tema. "Ainda teve candidato incentivando greve de caminhoneiro", disse, sem citar diretamente o nome de Jair Bolsonaro (PSL) que, na época da greve, chegou a apoiar a categoria. "Petrobrás não tem dinheiro para tudo; defendo trazer empresas privadas para o pós-sal e para o refino no Brasil".

Alckmin vai ao interior de SP contra Bolsonaro

Candidato tucano investe para tentar conter avanço do adversário, que lidera no Estado

Adriana Ferraz / Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

Geraldo Alckmin (PSDB) fará ofensiva no interior de SP para tentar conter o avanço de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 22% das intenções de voto na região.

Em uma tentativa de conter o avanço do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) em meio ao eleitorado paulista, a campanha do candidato Geraldo Alckmin (PSDB) apelou a militantes e dirigentes de partidos aliados no Estado para promover o nome do ex-governador e desconstruir o adversário. Bolsonaro hoje lidera, com 22%, as intenções de voto (no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) em São Paulo, maior colégio eleitoral do País e “reduto” dos tucanos.

Após ter governado São Paulo por quatro mandatos, Alckmin tem 16% das intenções de voto no Estado. Tucanos e aliados cobram uma atuação mais intensa do ex-governador em sua base eleitoral e temem que se repita no Estado o mesmo fenômeno que levou Aécio Neves a perder as eleições presidenciais de 2014.

Naquele ano, o senador perdeu para Dilma Rousseff em Minas Gerais por uma diferença de 550 mil votos (52,4% a 47,6%). Se tivesse conquistado uma vitória folgada em sua terra natal, Aécio teria sido eleito.

Alckmin participa hoje em Mogi das Cruzes do primeiro ato político suprapartidário no Estado após o início oficial da campanha. O ex-prefeito João Doria (PSDB), que disputa o governo do Estado, não estará presente.

Antes disso, Alckmin só dedicou dois dias de sua agenda para fazer campanha no Estado após o início da corrida presidencial – visitou a cidade de Ribeirão Preto no último sábado e a comunidade de Paraisópolis, na capital, no domingo. Também nesses casos, sem a presença de Doria.

Já Bolsonaro fez uma espécie de caravana paulista na semana passada, passando por Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Araçatuba, José Bonifácio, Glicério e Barretos.

Panaceia militar: Editorial | Folha de S. Paulo

Uso do Exército em crises se mostra um recurso desgastado, pouco eficaz e imprudente

Sempre que o governo Michel Temer (MDB) não sabe como resolver um problema referente à segurança pública, chama as Forças Armadas. Acaba de fazê-lo mais uma vez, agora pela incapacidade de lidar com o afluxo de imigrantes venezuelanos em Roraima.

O Executivo lança mão de operações conhecidas no jargão militar como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que têm previsão constitucional e já foram deflagradas para enfrentar crises em outros quatro estados na breve gestão emedebista —Rio, Espírito Santo, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Até faz sentido utilizar o Exército, de forma pontual, para ajudar em situações críticas, como no caso do motim de policiais capixabas em fevereiro do ano passado ou, mais recentemente, da paralisação dos caminhoneiros.

Ainda assim, o adequado seria dispor, para tais ocasiões, de um efetivo maior da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), hoje formada por policiais cedidos pelas unidades da Federação.

Mais fora de propósito é o emprego de militares contra problemas crônicos, cuja solução envolve decisões políticas, como o da segurança pública fluminense.

Um recuo desastroso: Editorial | O Estado de S. Paulo

É desastrosa para as finanças públicas a decisão do presidente Michel Temer de não mais adiar para 2020 o reajuste dos vencimentos dos funcionários do Executivo inicialmente programado para o próximo ano. A desistência do presidente de editar medida provisória suspendendo os aumentos em 2019 é também péssima para os contribuintes, para o necessário ajuste das contas públicas que o próximo presidente da República terá de conduzir e, consequentemente, para o desempenho da economia.

Apesar da grave crise fiscal que ameaça paralisar atividades de importantes órgãos federais, e por isso exige medidas drásticas de contenção de despesas, o presidente Michel Temer parece ter se rendido a pressões corporativas. A mais notória delas foi feita pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que aprovaram uma proposta orçamentária para 2019 com aumento de 16,38% nos próprios vencimentos, com impacto em cascata sobre outros salários do Poder Judiciário. Além de confirmar que manterá o reajuste dos servidores em geral, Temer informou que estão em fase adiantada os estudos para a concessão do aumento pedido pelos ministros do STF.

Agindo desse modo, o presidente da República tenta, segundo se informa, reduzir seu desgaste político. Que desgaste, no entanto, poderá ser mais corrosivo para um governante em fim de mandato, com baixíssimo prestígio popular, do que o causado por uma decisão que denota tibieza na gestão de recursos do contribuinte?

Estradas do país estão cada vez mais precárias: Editorial | O Globo

Falta de investimentos, má gestão, fiscalização deficiente e corrupção contribuem para agravar o quadro

No fim de maio, a greve dos caminhoneiros, que por mais de dez dias paralisou o Brasil, expôs a dependência do país ao transporte rodoviário. Afinal, pelas estradas federais, estaduais e municipais, passam 66% de todas as cargas. Mas essa hegemonia não se traduz numa atenção maior à malha. Ao contrário. Como mostrou o primeiro episódio da série “Descaminhos do Brasil”, exibido pelo Fantástico, da Rede Globo, no último domingo, as rodovias vão de mala pior. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela que o número de pontos críticos (buracos, erosão na pista etc.) aumentou 25% este ano em relação a 2017.

O abandono é tamanho que, num dos casos abordados na reportagem, cidadãos são obrigados a pagar pedágio numa estrada de terra. Na precária rodovia que liga os estados de Tocantins e Maranhão, uma corrente atravessada na pista impede que motoristas prossigam a viagem sem passar antes por uma cabine improvisada, onde é feita a cobrança. Um caminhoneiro pagou R$ 30 na ida e R $90 na volta. Os funcionários alegaram que não se tratava de pedágio, mas de uma taxa para “manutenção” da estrada. A prefeitura do município de Carolina (MA) informou que ninguém tem autorização para cobrar pedágio no local. Mas o fato é que a “praça” estava lá.

Peso desaba e Macri pede ao FMI que antecipe recursos: Editorial | Valor Econômico

A Argentina voltou a bater às portas do Fundo Monetário Internacional antes de completar três meses do acordo stand by que lhe garantiu um crédito de US$ 50 bilhões nos três anos de duração do programa. O peso voltou a mergulhar, acompanhando os movimentos da lira turca, uma ligação por tabela feita pelos investidores diante da similaridade do estrangulamento externo de ambos os países. Em agosto, o peso se depreciou em mais de 10% e, no ano, perto de 45%. Ontem, tanto o peso como a lira lideraram os movimentos de desvalorização das moedas emergentes.

No acordo firmado, o governo argentino obteve a liberação imediata de US$ 15 bilhões, o que seria, na projeção do FMI, suficiente para suprir as necessidades de financiamento do ano. Em princípio, o governo declarou que as próximas parcelas do cronograma de desembolso seriam preventivas, isto é, só seriam sacadas se algo desse errado. E deu. O presidente Mauricio Macri anunciou ontem aos argentinos que pedira ao FMI o adiantamento de "todos os fundos necessários para garantir o cumprimento do programa financeiro no próximo ano".

O Fundo fez um cenário básico ao lado de outro, adverso. Ao liberar US$ 15 bilhões, concluiu que novos desembolsos não seriam necessários, mas parece ter antevisto os riscos: "Caso os mercados vejam o programa com o Fundo como uma oportunidade para se livrar dos ativos da Argentina, isso inevitavelmente trará uma significativa depreciação real, taxas de juros mais altas e menor crescimento. Esse cenário aumenta o risco para a sustentabilidade da dívida". O FMI apontava também a influência de condições externas desfavoráveis e as duas coisas parecem estar acontecendo.

Cristina Buarque e Henrique Cazes: Sem tostão / Onde está a honestidade ( Noel Rosa)?

Vinícius de Moraes: Máscara mortuária de Graciliano Ramos

Feito só, sua máscara paterna
Sua máscara tosca de acridoce
Feição, sua máscara austerizou-se
Numa preclara decisão eterna.

Feito só, feito pó, desencantou-se
Nele o íntimo arcanjo, a chama interna
Da paixão em que sempre se queimou
Seu duro corpo que ora longe inverna.

Feito pó, feito pólen, feito fibra
Feito pedra, feito o que é morto e vibra
Sua máscara enxuta de homem forte.

Isto revela em seu silêncio à escuta:
Numa severa afirmação da luta
Uma impassível negação da morte.