sexta-feira, 12 de abril de 2019

Ricardo Noblat: Gentili e Bolsonaro no país da piada

- Blog do Noblat / Veja

Comediantes, crianças e índios
Se pouco lhe importa ser alvo de notícias e comentários negativos, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu mais uma vez, e logo no dia em que comemorou com pompa os primeiros cem dias do seu governo.

A dizer qualquer coisa sobre a morte no Rio do músico Edvaldo Costa, 51 anos, fuzilado com 80 tiros disparados por nove militares, Bolsonaro preferiu o silêncio ignominioso que já dura cinco dias.

Entretanto, foi rápido no Twitter ao prestar solidariedade ao apresentador e comediante Danilo Gentili condenado à cadeia por ter ofendido a honra da deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Sim, a deputada é a mesma que Bolsonaro ameaçou bater na Câmara. Ao dizer também que, por ser feia, ela sequer merecia ser estuprada, Bolsonaro foi denunciado e está sendo processado.

Bolsonaro escreveu que Gentili apenas exerceu “seu direito de livre expressão”, e que ele, Bolsonaro, já foi objeto de piadas. Para o garoto Flávio, piadas “fazem parte do jogo democrático”.

Gentili foi condenado porque publicou uma sequência de tweetes em que chamou a deputada de “falsa” e “nojenta”. Maria do Rosário pediu por escrito que ele apagasse as mensagens.

Em resposta, Gentili gravou um vídeo em que aparece rasgando o documento, esfregando o papel nas partes íntimas e dizendo à deputada:

“Sendo assim, Maria do Rosário, chegando a minha cartinha, abre ela, sinta aquele cheirinho do meu saco e abra a bunda e enfie no meio dela tudo isso aí que estou mandando para você. Tchau”.

Ao sentenciar Gentili a seis meses e 28 dias de prisão, a juíza federal Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, justificou:

“A ideia de gravar o deplorável vídeo doméstico teve caráter de resposta em retaliação contra a manifestação da vítima, não devendo jamais ser confundido como uma simples peça humorística espontaneamente criada independente do intuito de injuriar”.

Embora repudiem o que fez Gentili, comediantes o defenderam. Fábio Porchat considerou “autoritário” o fato de ele poder ser preso “só por ter mandado uma pessoa enfiar um papel no cu”.

A liberdade de expressão é direito assegurado na Constituição. Mas ela também sofre as restrições estipuladas em lei. Não fosse assim, os comediantes se juntariam às crianças e aos índios na categoria das pessoas inimputáveis, e tudo viraria uma grande piada.

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