DEU EM O GLOBO
Na euforia que tem marcado suas aparições recentes, mescladas de uma irritação que não seria de se esperar se as coisas estivessem realmente bem, o presidente Lula decretou o fim de uma longa discussão na política econômica brasileira, a do PIB potencial, que, segundo ele, era uma “imbecilidade de economista”.
Disse Lula: “(...) diziam que o país não podia crescer mais de 3%, que a casa caía.
Aprendemos que é gostoso crescer 4%, 5%, 6%. Queremos crescimento sustentável que dure dez, 15 anos”.
Como quase sempre acontece, Lula estava desinformado e puxando a brasa para a sua sardinha. O Brasil, na verdade, muito antes dele, já teve crescimentos sustentados do PIB de níveis de Índia ou China: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.
O maior crescimento do PIB foi de 13,97% em 1973, no auge do “milagre econômico”, mas taxas de dois dígitos só ocorreram em seis anos.
A partir de 2007, o Brasil entrou em um crescimento anual em torno de 5%, mas mesmo o crescimento de 5,4% de 2007 colocava o Brasil em desvantagem diante de outros países do mundo do mesmo porte.
Em 2008, o país cresceu 5,1%, mas, em 2009, o crescimento foi negativo. Se se confirmar a previsão do governo de crescer 7% este ano, é possível que a média final de crescimento do governo Lula fique próxima de 4%.
Um crescimento menor, por volta de 5%, por exemplo, levaria a média do governo Lula para um patamar por volta de 3,5%, sempre abaixo da média do crescimento mundial, com o agravante de que os primeiros anos do governo Lula foram os mais prósperos do mundo nos últimos anos.
O economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, em recente trabalho comparativo entre os governos republicanos, aponta que no período 1890-2009 a taxa média de crescimento real do PIB brasileiro é de 4,5%.
No conjunto de 29 períodos, o governo Lula (2003-09) tem a 9ª mais baixa de crescimento econômico. E, na ordem decrescente, constatase que a taxa de crescimento no governo Lula (3,5%) ocupa a 21ª posição.
Neste governo, segundo seus estudos, o crescimento médio real anual do PIB é significativamente menor do que a taxa secular de crescimento econômico do país em toda a sua História republicana (4,5%) e à mediana das taxas anuais (4,6%).
Um ponto positivo é o de que o “crescimento potencial” do Brasil, que, no início do governo Lula, era de cerca de 3,5% — a partir do que teríamos problemas de inflação e “hiato de produção”, isto é, falta de produtos e até mesmo “apagão” de energia —, hoje já está por volta de 5%, o que mostra a evolução dos investimentos públicos e privados, e a melhoria dos fundamentos econômicos.
A taxa média de crescimento do PIB brasileiro dos últimos 50 anos foi de 5%, mas a história recente reduz essa expectativa: de 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 1980 a 2003, 2%.
A ampliação do “PIB potencial” está relacionada ao aumento da taxa de investimento, que vem subindo cerca de 8% ao ano nos últimos anos, chegando a 17,6% ano passado, e a mais de 18% no primeiro trimestre deste ano, quando o PIB cresceu 2,7%, um índice maior do que nosso crescimento médio anual dos últimos 20 anos até 2003.
Comparado com a China, que investe cerca de 40% do PIB, estamos ainda em patamares muito baixos para querer um crescimento sustentável desse nível.
Na época do “milagre brasileiro”, nos anos 1970, o investimento no país chegou próximo a 30% do PIB, taxa que hoje é investida pela Índia, que cresce a uma média de 6% ao ano nos últimos 15 anos.
Para crescer de maneira sustentada, o mínimo necessário seria um investimento público e privado da ordem de 25% do PIB.
A equipe do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV do Rio, chefiada pelo economista Luiz Guilherme Schymura, fez simulações do PIB potencial futuro que apontam, mesmo no cenário mais conservador, um crescimento potencial até 2015 de aproximadamente 4%.
No cenário otimista, o PIB potencial fica entre 4,5% e 5,5% entre 2008 e 2015.
Essa meta só seria factível, porém, com o crescimento da produtividade a 1,5% ao ano, estimulada principalmente pela importação de máquinas e equipamentos.
Ao mesmo tempo, porém, a poupança brasileira está na faixa de 20% do PIB, enquanto na China ela está entre 45% e 50%, o que explica a diferença dos investimentos nos dois países.
Para aumentar a taxa de investimento, seria preciso controlar as contas públicas e realizar as reformas estruturais de que o país precisa em setores vitais e sensíveis, como a legislação trabalhista ou a Previdência. O que será tarefa difícil para o próximo presidente ou presidenta, pois estará substituindo um presidente popular que distribuiu mais bondades do que rigores.
O senador Pedro Simon, em telefonema e em seu pronunciamento no Senado ontem, tentou desfazer a má impressão que seu projeto sobre a redistribuição dos royalties do petróleo deixou entre os habitantes do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Longe de mim acreditar que o senador gaúcho lançou seu projeto com o intuito de se aproveitar do clima eleitoral para ganhar vantagens com os eleitores gaúchos.
Ele declarou ontem que sua tentativa, ao contrário, foi conseguir que o Rio e o Espírito Santo fossem ressarcidos pela União dos prejuízos que a emenda Ibsen Pinheiro causaria.
A questão é que a boa vontade do senador Simon não encontra respaldo na realidade burocrática e orçamentária do país, e, sem querer, ele acabou parceiro do governo nesta crise federativa que está instalada.
Na euforia que tem marcado suas aparições recentes, mescladas de uma irritação que não seria de se esperar se as coisas estivessem realmente bem, o presidente Lula decretou o fim de uma longa discussão na política econômica brasileira, a do PIB potencial, que, segundo ele, era uma “imbecilidade de economista”.
Disse Lula: “(...) diziam que o país não podia crescer mais de 3%, que a casa caía.
Aprendemos que é gostoso crescer 4%, 5%, 6%. Queremos crescimento sustentável que dure dez, 15 anos”.
Como quase sempre acontece, Lula estava desinformado e puxando a brasa para a sua sardinha. O Brasil, na verdade, muito antes dele, já teve crescimentos sustentados do PIB de níveis de Índia ou China: de 1950 a 1959, média de 7,15%; de 1960 a 1969, média de 6,12%; e de 1970 a 1979, de 8,78%.
O maior crescimento do PIB foi de 13,97% em 1973, no auge do “milagre econômico”, mas taxas de dois dígitos só ocorreram em seis anos.
A partir de 2007, o Brasil entrou em um crescimento anual em torno de 5%, mas mesmo o crescimento de 5,4% de 2007 colocava o Brasil em desvantagem diante de outros países do mundo do mesmo porte.
Em 2008, o país cresceu 5,1%, mas, em 2009, o crescimento foi negativo. Se se confirmar a previsão do governo de crescer 7% este ano, é possível que a média final de crescimento do governo Lula fique próxima de 4%.
Um crescimento menor, por volta de 5%, por exemplo, levaria a média do governo Lula para um patamar por volta de 3,5%, sempre abaixo da média do crescimento mundial, com o agravante de que os primeiros anos do governo Lula foram os mais prósperos do mundo nos últimos anos.
O economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, em recente trabalho comparativo entre os governos republicanos, aponta que no período 1890-2009 a taxa média de crescimento real do PIB brasileiro é de 4,5%.
No conjunto de 29 períodos, o governo Lula (2003-09) tem a 9ª mais baixa de crescimento econômico. E, na ordem decrescente, constatase que a taxa de crescimento no governo Lula (3,5%) ocupa a 21ª posição.
Neste governo, segundo seus estudos, o crescimento médio real anual do PIB é significativamente menor do que a taxa secular de crescimento econômico do país em toda a sua História republicana (4,5%) e à mediana das taxas anuais (4,6%).
Um ponto positivo é o de que o “crescimento potencial” do Brasil, que, no início do governo Lula, era de cerca de 3,5% — a partir do que teríamos problemas de inflação e “hiato de produção”, isto é, falta de produtos e até mesmo “apagão” de energia —, hoje já está por volta de 5%, o que mostra a evolução dos investimentos públicos e privados, e a melhoria dos fundamentos econômicos.
A taxa média de crescimento do PIB brasileiro dos últimos 50 anos foi de 5%, mas a história recente reduz essa expectativa: de 1990 a 2003, o crescimento médio foi de 1,8%; de 1980 a 2003, 2%.
A ampliação do “PIB potencial” está relacionada ao aumento da taxa de investimento, que vem subindo cerca de 8% ao ano nos últimos anos, chegando a 17,6% ano passado, e a mais de 18% no primeiro trimestre deste ano, quando o PIB cresceu 2,7%, um índice maior do que nosso crescimento médio anual dos últimos 20 anos até 2003.
Comparado com a China, que investe cerca de 40% do PIB, estamos ainda em patamares muito baixos para querer um crescimento sustentável desse nível.
Na época do “milagre brasileiro”, nos anos 1970, o investimento no país chegou próximo a 30% do PIB, taxa que hoje é investida pela Índia, que cresce a uma média de 6% ao ano nos últimos 15 anos.
Para crescer de maneira sustentada, o mínimo necessário seria um investimento público e privado da ordem de 25% do PIB.
A equipe do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV do Rio, chefiada pelo economista Luiz Guilherme Schymura, fez simulações do PIB potencial futuro que apontam, mesmo no cenário mais conservador, um crescimento potencial até 2015 de aproximadamente 4%.
No cenário otimista, o PIB potencial fica entre 4,5% e 5,5% entre 2008 e 2015.
Essa meta só seria factível, porém, com o crescimento da produtividade a 1,5% ao ano, estimulada principalmente pela importação de máquinas e equipamentos.
Ao mesmo tempo, porém, a poupança brasileira está na faixa de 20% do PIB, enquanto na China ela está entre 45% e 50%, o que explica a diferença dos investimentos nos dois países.
Para aumentar a taxa de investimento, seria preciso controlar as contas públicas e realizar as reformas estruturais de que o país precisa em setores vitais e sensíveis, como a legislação trabalhista ou a Previdência. O que será tarefa difícil para o próximo presidente ou presidenta, pois estará substituindo um presidente popular que distribuiu mais bondades do que rigores.
O senador Pedro Simon, em telefonema e em seu pronunciamento no Senado ontem, tentou desfazer a má impressão que seu projeto sobre a redistribuição dos royalties do petróleo deixou entre os habitantes do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Longe de mim acreditar que o senador gaúcho lançou seu projeto com o intuito de se aproveitar do clima eleitoral para ganhar vantagens com os eleitores gaúchos.
Ele declarou ontem que sua tentativa, ao contrário, foi conseguir que o Rio e o Espírito Santo fossem ressarcidos pela União dos prejuízos que a emenda Ibsen Pinheiro causaria.
A questão é que a boa vontade do senador Simon não encontra respaldo na realidade burocrática e orçamentária do país, e, sem querer, ele acabou parceiro do governo nesta crise federativa que está instalada.
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