Cristiane Agostine e Cristian Klein
SÃO PAULO - Sem nenhuma aliança confirmada, sem tempo de televisão do partido no primeiro semestre e com 3% das intenções de voto, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, animou-se com o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua campanha na próxima semana. O pré-candidato conversou duas vezes ontem com Lula e aposta na articulação do ex-presidente para alavancar sua candidatura e atrair partidos da base aliada ao governo federal, como PSB e PCdoB. O petista tem se mostrado à margem das negociações com partidos e irritou-se com rumores de que, em cenário eleitoral desfavorável, desistiria em favor de uma eventual candidatura da senadora e ex-prefeita Marta Suplicy.
Para Haddad, sua pré-campanha está sendo vítima de uma "central de boatos" para desestabilizá-la. "Acho que é uma central que tem interesses inconfessáveis que faz esse tipo de coisa", comentou ontem, ao ser questionado sobre rumores, que começaram há duas semanas, dentro do PT. O petista, no entanto, diz não saber a origem dos boatos. "Se é uma indústria escusa, como é que vou saber de onde é?", esquivou-se.
Os rumores teriam sido discutidos até numa reunião de Haddad com um grupo de cerca de cem intelectuais, no Sindicato dos Engenheiros, no sábado à tarde. Haddad teria sido questionado e confirmado a possibilidade de abdicar da candidatura em favor de Marta, caso fosse melhor para o partido. Uma professora presente à reunião, no entanto, nega que o tema tenha sido alvo de perguntas, ao menos entre as 15h e as 19h, quando o encontro ainda não havia terminado.
Por outro lado, a reunião mencionou as dificuldades da pré-campanha petista. Um dos objetivos da mobilização da comunidade acadêmica é o de compensar, com um plano de ações, a falta de exposição que Haddad terá na pré-campanha.
Os acadêmicos receberam convocação por telefone, e-mail ou pessoalmente para o que se considerou uma "reunião de consulta". Havia médicos, engenheiros, arquitetos, sociólogos, que se dispuseram a ajudar Haddad no que for preciso, "com afinco", sem remuneração, num momento difícil da candidatura.
Antes considerado favorito, quando o PT negociava apoio com o prefeito Gilberto Kassab (PSD), e estava mais próximo de fechar uma coligação com outras siglas da base aliada federal - como PSB, PCdoB, PR e PDT - Haddad passou a enfrentar problemas depois da entrada do ex-governador José Serra (PSDB) no cenário.
Na reunião, os intelectuais discutiram como cada um poderá colaborar em sua área para a campanha de Haddad. Depois do primeiro encontro, serão realizados grupos temáticos, nas diversas áreas, como urbanismo, educação, transporte e pobreza urbana. Segundo a acadêmica, fundadora do PT, os presentes decidiram retomar a tradição de trabalhar "sábados, domingos e madrugadas" pelo partido.
O momento de revés está sendo comparado à eleição de 2010, quando Serra foi ao segundo turno e a campanha foi dominada pela agenda de temas morais, como aborto e união civil gay. "A militância enlouqueceu, naquele momento, e arregaçou as mangas", afirmou a professora, lembrando de reunião com semelhante propósito, à época, realizada no Tuca, teatro da PUC-SP.
Nas ruas, Haddad preferiu intensificar as críticas ao ex-governador José Serra, provável candidato do PSDB, e ao prefeito Kassab, reforçando a estratégia de polarizar a campanha com os tucanos..
Ao visitar o bairro de Perus ontem, na capital paulista, Haddad disse que Serra foi o ministro do Planejamento "mais cruel" e afirmou que o tucano prejudicou as universidades públicas federais com cortes orçamentários quando estava no ministério. Sobre Kassab, o petista disse que ações recentes do prefeito representam um "descaso com a cidade".
Para Haddad, o desempenho de Serra no Ministério do Planejamento, há 17 anos, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), deve dificultar uma aliança do tucano com o PCdoB. "Lembrando que, talvez, o Serra, como ministro do Planejamento, tenha sido o mais cruel do ponto de vista orçamentário com as universidades públicas e conhecendo a história de luta do PCdoB em defesa das universidades públicas federais, cuja expansão nós patrocinamos, eu realmente duvido que essa informação proceda", disse. "O PCdoB sabe disso melhor do que eu", comentou o petista. "O PCdoB tradicionalmente comanda a União Nacional dos Estudantes (UNE).
O petista reclamou de ações recentes do prefeito na tentativa de reforçar uma provável candidatura de Serra. O prefeito colocou à disposição do tucano cinco secretários para ocupar a vaga de vice na chapa de Serra. Para Haddad, isso é um "descaso" com a sociedade e se assemelha a "concurso de vices".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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