Centro-esquerda se fortalece, Monti relança o centro político e Berlusconi renasce. Mas eleições de fevereiro podem reproduzir situação que inviabilizou governo Prodi
As eleições do fim de fevereiro atraem as atenções para a Itália, que passou por maus momentos na crise da zona do euro e não pode respirar aliviada. Despontam três forças políticas principais: a coalizão de centro-esquerda, favorita, liderada pelo Partido Democrático (PD), de Pier Luigi Bersani, com o partido Esquerda, Ecologia e Liberdade; a velha aliança de direita do Povo da Liberdade, do ex-premier Silvio Berlusconi, com sua aliada separatista e xenófoba, a Liga Norte; e uma novidade — a coalizão centrista criada pelo primeiro-ministro em exercício Mario Monti. Integram-na a Escolha Cívica por Monti, o Partido Democrata-Cristão e uma agremiação de centro-direita, Futuro e Liberdade para a Itália.
Se o bom senso prevalecesse, os italianos deveriam dar a vitória a Monti, um ex-comissário europeu, sem experiência política, que liderou o governo de tecnocratas empossado depois da renúncia de Berlusconi, por pressão dos credores, em meio à grave crise de credibilidade pessoal e política do bilionário. Monti adotou medidas de austeridade, para restaurar a credibilidade da terceira economia da zona do euro, e assim evitou que a Itália fosse arrastada para o despenhadeiro em que se encontra, por exemplo, a Grécia. Mas a vitória dele é improvável, tanto pela falta de respaldo político quanto pelo descontentamento dos eleitores com medidas impopulares, mas necessárias, como um plano de ajuste de €30 bilhões, reforma das pensões e do mercado de trabalho e a liberalização de vários setores da economia. Em um ano, sua popularidade caiu de 71% para 36%.
A vitória da centro-esquerda, se confirmada, abre caminho para uma aliança com os centristas, já admitida por Bersani, que anunciou a intenção de manter a política europeísta e de austeridade de Monti. Este seria um cenário para o otimismo não fosse uma exigência de Monti: ele quer ser o premier em detrimento de Bersani, algo altamente improvável, mas compreensível: não há qualquer garantia de que, eleito, o líder do PD vá rezar pelo credo econômico de Monti. Berlusconi, renascido das cinzas, veio para complicar. A fim de obter o apoio da Liga Norte, renunciou à disputa pelo cargo de premier. Seu alvo é Monti: o Cavaliere quer manter seu eleitorado e ataca as medidas adotadas pelo tecnocrata para esconjurar a crise, no velho estilo populista.
Com o provável triunfo da centro-esquerda na Câmara, a luta é pelo controle do Senado. Por peculiaridades da lei eleitoral italiana, se a aliança PL-Liga Norte conseguir forte votação na populosa e rica região norte, poderá impedir que a centro-esquerda faça maioria no Senado. Isto abriria a porta ao impasse político do tipo que inviabilizou o governo Romano Prodi. Talvez por isto, pesquisa da SWG mostre que os italianos estão profundamente pessimistas sobre o futuro: 61% esperam instabilidade política e apenas 14%, o contrário. Se estiverem certos, a Itália poderá voltar à UTI da zona do euro, ruim para todo o continente.
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