Ex-ministro diz que presidente do seu partido, assim como Aécio e Marina, não tem proposta para o país
Letícia Lins
RECIFE e BRASÍLIA - O PSB vive um clima de racha interno desde o último fim de semana, quando o ex-ministro Ciro Gomes criticou as pré-candidaturas ao Palácio do Planalto do presidente do seu partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e da ex-senadora Marina Silva, que está estruturando uma nova sigla, a REDE. Na entrevista, Ciro disse que a presidente Dilma Rousseff é a favorita em 2014. Ontem, em resposta, Campos desautorizou Ciro e afirmou que, no PSB, assuntos como esse devem ser debatidos internamente e nas instâncias adequadas.
- Os pré-candidatos Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva não têm nenhuma proposta, nenhuma visão para o Brasil. Isso é o que preocupa - afirmou Ciro, em entrevista no último domingo à Rádio Verdes Mares, do Ceará. - O meu presidente, Eduardo Campos, não tem estrada ainda. Não conhece o Brasil. Aécio Neves não conhece o Brasil. Marina Silva não representa rigorosamente nada
Ontem, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, emitiu nota rebatendo Ciro. "Eduardo Campos sintetiza o pensamento acumulado pelo PSB, que, desde 1985, data de sua reorganização, vem estudando o país e formulando programas de governo. Pelo menos teoricamente, Ciro Gomes conhece os documentos do seu partido".
Relações azedas
Campos, por sua vez, tentou minimizar as declarações de Ciro. Mas enviou um recado ao companheiro de partido:
- Eu discordo da opinião dele. A opinião é de Ciro, não a do partido. Respeito o direito de ter sua opinião, mas discordo do que diz e não vou polemizar com ele. O partido é democrático, todas as pessoas têm o direito ao debate. Mas, sobre o que o PSB deve fazer ou deixar de fazer, esse debate deve ser travado no tempo certo e nas instâncias que verdadeiramente decidem.
Campos comentou as declarações de Ciro após o final de um evento promovido pela revista "Carta Capital" em Recife. O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, era esperado para o encontro, mas não compareceu. Roberto Amaral, em nota oficial no site do PSB, reagiu às declarações de Ciro. "Se verdadeira a versão, há que aplaudir as opiniões formuladas sobre Aécio e Marina (declarações que subscrevo) e lamentar profundamente a opinião desinformada sobre a visão de Eduardo Campos, seja sobre a crise econômica, que tanto tem denunciado, seja relativamente à sua visão de Brasil, que não é só dele, mas do partido".
Setores do governo e do PT apostam na estratégia de azedar a relação dos irmãos Ciro e Cid Gomes com Eduardo Campos, a ponto de forçar a saída deles do PSB, uma vez que o governador de Pernambuco é majoritário no partido. A presidente Dilma deve receber Cid hoje em audiência, em mais uma tentativa de estreitar a relação com a ala dissidente do PSB. No cálculo governista, a principal região-fonte de votos para Campos ainda é o Nordeste. Sem base no Ceará, avalia o Planalto, Campos ficaria enfraquecido em sua área de influência e poderia cogitar adiar suas pretensões eleitorais.
Fonte: O Globo
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