Aécio Neves com FHC em seminário; ex-presidente disse que, na economia, Dilma "cospe no prato em que comeu".
FHC afirma que presidente é "ingrata"
Marcelo Portela, Ricardo Brito
BELO HORIZONTE, BRASÍLIA - Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em entrevista antes do seminário tucano realizado em Belo Horizonte, que a presidente Dilma Rousseff "é ingrata e cospe no prato em que comeu". O ex-presidente deu a declaração ao lado do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à disputa do Palácio do Planalto em 2014.
O ataque de FHC é uma resposta ao discurso de Dilma feito na semana passada, no evento de comemoração, em São Paulo, dos dez anos de governo petista no País. Na ocasião, além de ter sua reeleição lançada pelo antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente afirmou que os petistas não receberam herança alguma das gestões tucanas. "Nós construímos", disse Dilma à militância.
A condução da economia do País vem ditando o debate entre os pré-candidatos à Presidência. No mesmo dia da festa petista em São Paulo, Aécio discursou na tribuna do Senado e exaltou a gestão econômica do correligionário FHC, cujo governo foi de 1995 a 2002. Enquanto tucanos dizem ser os responsáveis pelas bases macroeconômicas ainda em vigor, petistas afirmam ter mudado os rumos do desenvolvimento do País, chamado os adversários de neoliberais.
Na entrevista de ontem, FHC afirmou que o PT fez "uma usurpação" do projeto tucano. Aécio também falou antes do seminário, criado pelo PSDB para discutir justamente a conjuntura econômica. Não quis comentar as declarações do ex-ministro Ciro Gomes, segundo quem os possíveis adversários de Dilma em 2014, incluindo ele, Marina Silva e Eduardo Campos, "não têm visão" nem "projeto" para o País.
No Congresso. Ainda ontem, o vice-líder tucano no Senado, Álvaro Dias (PR), apresentou requerimento de convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explique apolítica econômica adotada pelo governo.
A intenção dos tucanos é usar a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) como palanque para, ao provocar o ministro, mirar no Planalto. Dias criticou as constantes previsões frustradas de Mantega em relação aos rumos da economia que, na opinião dele, têm levado o País à perda de credibilidade. Os tucanos querem ainda explicações sobre a "mágica contábil" feita no final do ano passado pelo governo para fechar as contas da área fiscal.
"Por seu otimismo delirante e muitas vezes irresponsável, o ministro da Fazenda já virou motivo de pilhéria em salões internacionais. A imprensa estrangeira especializada já lhe tachou a pecha de rei do "jeitinho", em alusão a manobras contábeis de que o governo petista lançou mão para fechar as contas públicas."
O tucano disse que as "declarações erráticas" de Mantega tem mostrado um "governo desnorteado" na condução da economia. Ele disse que há um "problema sério à vista", a inflação.
Os indicadores da economia têm lastreado o discurso do PSDB. No mês passado, o IPCA, um dos principais indicadores da inflação, fechou em alta de 0,86%, maior índice em dez anos. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 6,15%, próximo do teto da meta de inflação, de 6,5%. Por outro lado, a prévia do Produto Interno Bruto de 2012, divulgada semana passada pelo Banco Central, apontou uma expansão de 1,64% da economia em 2012. O dado oficial deve sair nos próximos dias.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), afirmou que a base aliada não deve criar qualquer empecilho para a aprovação vinda de Mantega. "O convite, eu acho absolutamente pertinente e não há nenhuma conotação de que o governo não queira atender as demandas do Senado para debater algo importante: a situação econômica", disse.
"Teremos tempo para debater a matéria com essa tranquilidade, de quem quer debater com absoluta transparência essa questão."
Para Braga, contudo, é necessário antes conversar com o próprio ministro para saber se aceita o convite. Mesmo que o requerimento seja aprovado pela comissão, o convidado pode recusar a ida ao Congresso. Apenas no caso de convocação é que o comparecimento se torna obrigatório. O líder do governo admite que o assunto só deve ser apreciado pela comissão daqui a duas semanas, uma vez que o colegiado deve eleger seu presidente e demais integrantes hoje. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) será o futuro presidente da comissão.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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