quinta-feira, 9 de maio de 2013

Começo de ano frustrante reduz o favoritismo da reeleição - Jarbas de Holanda

As previsões iniciais dos analistas sobre o PIB deste ano não encampavam o otimismo do Palácio do Planalto de uma taxa entre 4% e 5%, mas o situavam acima dos 3% a serem propiciados sobretudo por uma recuperação do desempenho da indústria. Já a partir da semana passada, porém, tais previsões foram revisadas para baixo, para menos de 3%. Como reflexo de uma queda de 0,5% desse desempenho no acumulado do primeiro trimestre, e de 3,3% na comparação entre março deste ano e o mesmo mês de 2012, segundo dados do IBGE destacados em editorial do Valor, de ontem. E a esse rebaixamento juntando-se vários outros indicadores negativos – da continuidade da pressão inflacionária (malgrado as desonerações fiscais e o represamento da correção de tarifas, como as de transporte coletivo), até a explosão do déficit da balança comercial, passando por sucessivos adiamentos dos processos de concessões a iniciativa privada em áreas da infraestrutura. Tudo isso gerando um clima de incerteza e desconfiança maior nos investidores internos e externos. As quais, ao invés de serem diluídas, reforçam-se com sinais e passos do governo no sentido de “flexibilização” ainda maior da política fiscal e de aumento dos gastos de custeio e assistencialistas.

Crescentemente centrados na agenda eleitoral de 2014, a presidente Dilma e seu estado-maior de conselheiros (entre eles o marqueteiro João Santana) apostam que o aumento de tais gastos e a manutenção da prioridade do consumo, combinados com desoneração e estímulos fiscais seletivos, terão força suficiente para, até o pleito, manter alto o nível de emprego e evitar um salto da inflação, preservando a sensação de bem-estar e a intenção de voto favorável da maioria da população. Deixando para 2015 o enfrentamento dos estragos macro e microeconômicos do populismo eleitoreiro. Estragos que se refletirão em maior descontrole das contas públicas, no agravamento dos problemas estruturais dos altos custos tributários, trabalhistas e logísticos de nossa economia, e em crescente isolamento dela em relação às novas e decisivas cadeias produtivas globais.

Os frustrantes indicadores econômicos do primeiro trimestre, articulados com a persistência de limitações e distorções gerenciais (de que são emblemáticos os atrasos dos projetos de infraestrutura e os enormes prejuízos da Petrobras, resultantes em grande medida do aparelhamento partidário da estatal nos últimos 12 anos), essa soma de fatores negativos tem efeitos também na cena política, nos cálculos das diversas forças partidárias. Efeitos contrapostos aos da ofensiva desencadeada a partir de fevereiro pelo ex-presidente Lula para a rápida montagem de amplíssima aliança para a reeleição de Dilma Rousseff. 

A reforma do Ministério, com a devolução aos comandos das legendas de pastas das quais tinham sido excluídos na “faxina” do ano passado, não implicou a resposta cobrada deles de pronto comprometimento com a candidatura oficial – transferido para bem mais à frente e sujeito à alternativa de desembarque da aliança. 

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, avança em seu próprio projeto presidencial. As ações do PT e do Planalto contra a candidatura de Marina Silva e a fusão PPS-PMN tiveram como maior dividendo inicial um entendimento entre ela, Campos e o oposicionista Aécio Neves que antecipa uma união dos três num segundo turno. E o PMDB, com o comando das duas casas do Congresso, trata de combinar o controle da vice-presidência da chapa oficial, com o bloqueio parlamentar – institucionalmente correto e relevante – aos projetos petistas de “regulação” da mídia e de retaliações ao STF por causa das penas aplicadas aos principais réus do mensalão. Enquanto os peemedebistas do Rio de Janeiro, à frente o governador Sérgio Cabral, condicionam o apoio a Dilma ao cancelamento de candidatura do PT ao governo fluminense. 

E em outros estados – Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pernambuco – a inviabilidade de composições com os petistas pode levar os diretórios locais a distanciar-se da aliança nacional. Aliança cuja amplitude buscada dependerá, sobretudo, de respostas – eficazes e improváveis –, ao longo deste ano, aos problemas econômicos e gerenciais, que se agravam.

Jarbas de Holanda, jornalista

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