Por maior que seja a popularidade da atual presidente, especialmente no Nordeste, um eventual confronto com Lula ampliaria muito os riscos para qualquer desafiante
As explicações dadas nos últimos dias pelos aliados do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para seu recente chá de sumiço deixaram a impressão de que faltava uma informação. Segundo esses interlocutores, Campos se retraiu para evitar a eleitoralização de todos os seus atos e a hiperexposição de imagem. E se voltou para as tarefas de governo também porque já começavam a dizer que ele viajava muito. Tudo isso é razoável, mas o ponto que faltava nos foi revelado por eminências do próprio PSB: uma mensagem do ex-presidente Lula ao governador, nas vésperas do 1º de Maio, também contribuiu muito para a desaceleração de seus movimentos.
A fonte não sabe precisar o meio pelo qual a mensagem chegou ao governador, mas conhece perfeitamente o conteúdo. Desde que o governador avançou na disposição de concorrer à Presidência em 2014, rompendo a aliança histórica do PSB com o PT, seus aliados afirmam que só uma situação poderia levá-lo a desistir da candidatura: aquela em que o candidato do PT fosse o ex-presidente Lula, e não a presidente Dilma Rousseff. Campos não seria ingrato com quem lhe deu todo apoio nos anos recentes, fazendo-o ministro, apoiando a candidatura a governador e propiciando-lhe recursos que ajudaram a garantir o êxito de suas duas gestões em Pernambuco. Sem dúvida, o governador é bom gestor, mas os investimentos federais no estado contaram muito. Para além da gratidão, existem também as fortes razões político-eleitorais. Por maior que seja a popularidade da atual presidente, especialmente no Nordeste, um eventual confronto com Lula ampliaria muito os riscos para qualquer desafiante.
A mensagem que Lula enviou, na semana do feriado, diz o informante do PSB, não foi afirmativa nem ameaçadora. Ele apenas pediu que Eduardo refletisse mais. Hoje, Lula teria mandado dizer: ele não é e não deseja ser candidato em 2014. A opção do PT já está feita por Dilma. Mas, e se lá na frente surgirem circunstâncias que o obriguem a concorrer? Iriam se enfrentar?
Depois disso é que Campos teria cancelado a participação na festa do trabalhador promovida pela Força Sindical, depois de ter prometido presença ao deputado Paulo Pereira da Silva, fundador da central. Cancelou também a visita que faria a um órgão de imprensa em São Paulo depois da festa. De lá para cá, tem se dedicado a visitar o interior de Pernambuco. Na semana passada, enquanto uma nuvem de políticos, com Dilma e Aécio Neves no destaque, participava da exposição agropecuária de Uberaba (MG), Campos visitava 16 cidades do agreste. Esta semana, circulará pelo sertão.
Para quem vinha em altíssima velocidade, a freada foi brusca. Pode ter sido determinada pelo repentino cuidado com a saturação da imagem. Entretanto, a incursão de Lula também teve seu peso, garante o socialista que sempre recomendou mais cautela.
O Brasil na OMC
O governo Dilma continuava festejando ontem a eleição de Roberto Azevêdo para diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), sem dúvida um grande feito brasileiro no jogo internacional. Mérito dele, pela competência e preparo, e do governo, pela ousadia de lançá-lo na disputa. A presidente, por exemplo, foi quem determinou, depois de ouvi-lo, que um jatinho oficial fosse colocado à sua disposição. Cabalou votos pessoalmente. Dois ministros, o chanceler Antonio Patriota e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também se fortaleceram pelo papel que jogaram nas articulações. Tem parte na vitória também o ministro da Defesa, Celso Amorim. Foi ele quem enviou Azevêdo para a OMC, anos atrás, e também ajudou na cabala de votos.
Agora, o desafio é grande: eleito pelos emergentes contra os países ricos, Azevêdo terá que se afirmar como líder multilateralista, livrando-se de sequelas da disputa. Terá que tirar a OMC da inércia e destravar as negociações da rodada de Doha.
100 dias
Em discurso na tarde de hoje, o presidente do Senado, Renan Calheiros, fará um balanço de seus primeiros 100 dias no cargo, prestando contas do que fez em relação às três principais promessas como candidato: fortalecimento da transparência, aumento da eficiência e da economia de recursos da Casa, cortando despesas da ordem de R$ 302 milhões no biênio 2013/2014. Na semana que vem, a Lei de Acesso à Informação completará um ano de implantação. Renan anunciará o lançamento de um site disponibilizando um volume enorme de documentos hoje inacessíveis.
Cisão federativa
Definitivamente, algo não vai bem na Federação. A briga entre os estados pela partilha dos royalties do petróleo deu no que deu. Agora, as mudanças tributárias que significariam uma reforma, ainda que micro, caminham para o naufrágio. As bancadas do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado romperam com a proposta de alíquota única de 4%, fixando-a em 7% para os estados dessas regiões, mais o Espírito Santo. O Ministério da Fazenda não gostou e o governo deve desistir da unificação. Ficaremos com a guerra fiscal. De onde vem isso? Dos séculos de desigualdade que as regiões mais pobres agora querem resolver na lei, mas na marra.
Fonte: Estado de Minas
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