É impressionante e sério o que ocorre com a presidente Dilma Rousseff e os congressistas de um modo geral. Em especial, os deputados. Passados dois anos e quatro meses de governo, é cristalino que os parlamentares não aprenderam a lidar com o estilo de Dilma e nem ela aprendeu a ler atentamente as manhas de sua base política.
Nesse jogo de cão e gato constante, a vida do governo no Parlamento segue como um casamento em que marido e mulher não se suportam e pouco dialogam. Os projetos em comum são praticamente nulos. Mas, sabe como é, dez anos não são dez dias e, enquanto o público externo estiver achando que está tudo bem, o casal vai levando a vida, apesar das incompatibilidades.
No geral, salvo pouquíssimos líderes, ou um ou outro levado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, a agenda política de Dilma é nula. Temer, aliás, aprece ter sido um que aprendeu a lidar com o jeitão da presidente, mas não detém o poder de melhorar de vez o péssimo clima entre os parlamentares e Dilma. A sensação é a de que, a cada minuto, os políticos querem dar o troco em Dilma por tratá-los de um modo geral como meninos mimados. E a recíproca é verdadeira. Ela, por sua vez, é vista como autoritária e irascível pela base.
Ontem, por exemplo, foi um desses dias. No mérito da Medida Provisória 595, o governo parece ter perdido ontem o controle do processo. O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) levantava a hipótese de uma greve nos portos hoje cedo, caso o governo insistisse em retomar a MP original, que restringia a atuação dos Órgãos Gestores de Mão de obra (Ogmos). Os empresários, divididos entre aqueles que se beneficiam com o texto do governo, em especial, os que têm portos privados; e aqueles que se consideram prejudicados, os atuais concessionários de postos públicos, cabalavam votos no plenário, tornando impossível uma avaliação sobre que tipo de projeto sairá dali.
Sem comando sobre a base, no meio da noite de ontem, o governo olhava para a MP com ares de “deixa cair tudo no dia 16 de maio”, prazo fatal da 595. Isso porque, a medida, ainda que aprovada ontem, se fosse modificada no Senado — e tudo leva a crer que modificações virão —, volta para a Câmara. Mais uma vez, a história dos royalties do petróleo e do Código Florestal se repete. Se ninguém sentar para fazer uma terapia e aprender a lidar um com o outro, ou seja, dialogar. Essa cantilena não terá fim.
Enquanto isso, no Mané Garrincha...
Diante de uma base cada vez mais fraturada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trata de cuidar dos seus. Ontem, por exemplo, participou de uma série de encontros em Brasília, a começar por uma conversa reservada com o governador Agnelo Queiroz por meia hora no aeroporto.
Da conversa no aeroporto, participou também o presidente do PT, Rui Falcão. É a direção nacional do partido e seu maior líder, Lula, abraçando a campanha reeleitoral do governador. Lula afirmou ainda que virá mais a Brasília para acompanhar Agnelo em eventos nas cidades do DF e não apenas em Brasília. Hoje, as conversas de Agnelo com Falcão prosseguem com um café da manhã na residência oficial de Águas Claras. Aliás, toda essa investida de Lula e do PT pró-Agnelo tem um alvo: tirar fôlego dos aliados que planejam pré-candidaturas contra o petista, leiam-se Antonio Reguffe, do PDT, e Rodrigo Rollemberg, do PSB. Pelo visto, o ex-presidente não passa um dia sem tirar um pouco de oxigênio do PSB de Eduardo Campos.
O raciocínio do PT é o de que se não houver Eduardo em 2014 — hoje um lusco-fusco entre governo e oposição — será mais fácil manter os partidos da base na sua órbita. E, ainda assim, se o casamento com Dilma naufragar, eles sempre terão Lula. O ex-presidente está na área, no estádio e nas ruas para assegurar que a maioria da base não se arrisque a apoiar o senador Aécio Neves (MG). Esse jogo eleitoral está apenas começando e os planos do PT, ao que tudo indica, passam pelo DF. Pode apostar.falsefalsetrueNas entrelinhasO governo parece ter perdido ontem o controle do processo da MP 595. Ela se transformou em uma guerra entre empresários, divididos entre aqueles que se beneficiam com o texto do governo e os que se consideram prejudicados
Fonte: Correio Braziliense
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