O medo está morrendo na Rússia,
como os fantasmas dos anos passados;
de vez em quando, no adro das igrejas,
ainda pede esmola qual mendiga.
Mas eu me lembro quando ele era forte
e sua falsidade triunfava.
Em cada andar dos prédios se esgueirava
sua sombra, em toda parte penetrando.
Tornava a todos nós obedientes;
Nas coisas todas punha o seu selo;
fazia-nos gritar quando era a hora
de calar; e calar na vez do grito.
Isso tudo, hoje em dia, está distante.
Estranho hoje é lembrar como temíamos,
em segredo, que nos denunciassem,
que viessem bater à nossa porta.
E o medo de falar com um estrangeiro?
E o medo de falar com sua mulher?
E o medo ilimitado de ficar
sozinho e em silêncio em meio à praça?
Ninguém temia andar no nevoeiro,
nem enfrentar as balas na batalha.
Mas tínhamos o medo, tão freqüente
e mortal, de falar conosco mesmos.
[...]
Eu queria que o medo que tivéssemos
fosse o de condenar sem julgamento,
de degradar idéias com mentiras
e, com mentiras, exaltar pessoas,
o medo de ficar indiferente
quando alguém sente dor, é perseguido,
o medo de não sermos destemidos
quando pintamos ou quando escrevemos.
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