- Folha de S. Paulo
O Congresso viveu um dia de despedidas na quarta-feira. O Senado homenageou Pedro Simon, que se aposentou ao completar seis décadas de vida pública. A Câmara se livrou de André Vargas, cassado por quebra de decoro. Um fará falta, o outro já vai tarde.
Eleito pelo PT do Paraná, Vargas era um deputado do tipo que compromete a imagem da política e dos políticos. Afrontou o Judiciário e, segundo investigações da Operação Lava Jato, usou o cargo para fazer negócios com o doleiro que movimentava os recursos desviados da Petrobras.
Sua crença na impunidade ficou clara em fevereiro, quando debochou do Supremo Tribunal Federal. Ao lado do ministro Joaquim Barbosa, Vargas ergueu o punho, imitando gesto de petistas condenados pelo mensalão. A provocação apequenou a Câmara e ofendeu a noção de respeito entre os Poderes da República.
Passaram-se menos de dois meses até que uma reportagem da Folha revelasse que o deputado pode ser o próximo réu em um processo de corrupção. Os policiais encontraram provas de que ele viajou em jatinho emprestado por Alberto Youssef. Como o doleiro não é um filantropo, recorreu ao amigo para fechar negócios com o Ministério da Saúde.
Enquanto a Câmara cassava seu mandato, Vargas disse ser "um cisco" no conjunto da operação Lava Jato. Se estiver certo, é de se temer o que virá contra outros congressistas.
Do outro lado da moeda, a saída de Pedro Simon desfalca Brasília de um dos parlamentares mais respeitados. Conhecido pelos discursos inflamados contra a corrupção, o gaúcho parecia cada vez mais fora do lugar em seu partido, o PMDB.
Aos 84 anos, Simon hesitou em concorrer à reeleição. Acabou derrotado por um repórter de TV sem experiência parlamentar. Quando seu discurso de despedida já passava de três horas, um colega perguntou se ele não gostaria de se sentar para prosseguir. "Agradeço, mas prefiro continuar de pé", respondeu o senador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário