Papéis apreendidos indicam doações a políticos
• Listas encontradas pela PF em empreiteiras relacionam candidatos a valores, nem todos registrados no TSE
Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e Francisco Leali – O Globo
BRASÍLIA - Documentos apreendidos nas sedes das construtoras Queiroz Galvão e Engevix, investigadas por suspeita de envolvimento no cartel para fatiar obras da Petrobras e cujos diretores foram presos pela Polícia Federal (PF), revelam registros de repasses que teriam sido feitos a políticos e partidos nas eleições deste ano. Nos documentos não há confirmação de que os pagamentos foram realizados e, em caso afirmativo, se foram legais ou não. Nos registros, constam nomes de candidatos governistas e da oposição. Em pelo menos um dos papéis, apreendido na Engevix, há registros de valores que não aparecem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um manuscrito apreendido na Queiroz Galvão, em São Paulo, lista diferentes candidatos com valores anotados ao lado. São os casos de "Padilha", suposta referência ao candidato derrotado ao governo de São Paulo Alexandre Padilha (PT); "Lindinho", em possível alusão ao senador Lindberg Farias (PT), derrotado na disputa pelo governo do Rio; e "Pé Grande", que pode ter relação com o governador reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ). Também há o registro de "Picciani", possível referência a Jorge Picciani, presidente do PMDB do Rio, ou a seu filho, Leonardo Picciani (PMDB), deputado federal.
Menções a PMDB e PR
Padilha não informou ao TSE recebimento de doações da empreiteira. Lindberg recebeu R$ 1,42 milhão da Queiroz Galvão via direção nacional do PT. Pezão foi financiado com R$ 255 mil por meio do comitê financeiro do PMDB. Jorge Picciani, reeleito deputado estadual, não aparece nos registros do TSE como beneficiário de doação. Mas seu filho recebeu R$ 199 mil via direção estadual.
Há menção ao "PMDB nacional". O partido foi financiado com R$ 15,8 milhões da Queiroz Galvão. O "PR nacional", também no manuscrito, recebeu R$ 2 milhões. Aparece ainda "R. Jucá". O senador Romero Jucá (PMDB-RR) não disputou cargo eletivo. O diretório do PMDB de Roraima, presidido pelo senador, recebeu R$ 2,2 milhões via diretório nacional.
"Rodrigo Garcia", "Milton Leite", "Police Neto", "Bitar", "João Paulo" e "Jilmar Tato" são os outros nomes anotados. Para o deputado federal reeleito Rodrigo Garcia (DEM-SP) só aparece no TSE um repasse de R$ 285,00 da Queiroz Galvão Alimentos. Milton Leite (DEM-SP) é vereador e não disputou cargo neste ano. Candidato a deputado estadual, Police Neto (PSD-SP) não recebeu doação. Jorge Bittar (PT-RJ) registrou o recebimento de R$ 190 mil via diretório nacional do PT. O deputado federal João Paulo (PT-PE), derrotado na disputa ao Senado, recebeu contribuições de R$ 485 mil da empreiteira. Jilmar Tatto não foi candidato.
Repasses ao PSDB
Uma outra planilha, digitada, registra um cronograma de supostos repasses ao PSDB nacional neste ano. A planilha registra R$ 8,6 milhões como "valor total". O TSE registra repasses de R$ 4,4 milhões ao partido e de R$ 2,1 milhões ao comitê da candidatura à Presidência de Aécio Neves. A PF apreendeu ainda recibos de doações eleitorais ao PSDB em 2010, além de uma carta de agradecimento de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente tucano na ocasião.
Na sede da Engevix, em Barueri (SP), foi apreendida uma lista manuscrita com os nomes de políticos do PT e respectivos valores. A lista não tem data, mas consta um político que foi candidato a deputado federal pela primeira vez neste ano. Dos citados, apenas a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) declarou ter recebido recursos da empreiteira em suas prestações de contas ao TSE - R$ 145 mil. Aparecem ainda na lista o deputado federal Vicente Cândido (SP) e candidatos a deputado estadual.
Na sede da Galvão Engenharia, em São Paulo, foi apreendido um cartão de Manoel Araújo, integrante do comitê financeiro da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. A Galvão, segundo registro do TSE, doou R$ 2 milhões para a campanha da petista.
Uma carta de agradecimento da senadora Ana Amélia (PP), que disputou o governo gaúcho, foi encontrada no avião de José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS, preso na última etapa da Operação Lava-Jato. Na prestação de contas do TSE, não consta o recebimento de recursos da empreiteira.
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