Cristiane Agostine – Valor Econômico
BRASÍLIA - Descontentes com a falta de diálogo com o governo Dilma Rousseff, deputados e senadores do PT pediram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que assuma a articulação política do segundo mandato da presidente.
Em reunião de quase cinco horas na quarta-feira, em Brasília, Lula ouviu queixas de parlamentares petistas sobre a atuação do ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante (PT), que "monopoliza" a presidente e torna o Planalto "autista", segundo relato de um dos presentes no encontro. "As bancadas na Câmara e no Senado estão desarticuladas, sem orientação e falta um gabinete de crise para responder aos problemas envolvendo a Petrobras ", comentou esse parlamentar.
Deputados e senadores criticaram a demora da presidente Dilma para definir o núcleo político do governo e pediram encontros com mais frequência com o ex-presidente Lula. "O governo precisa definir logo a coordenação política", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
"Em qualquer reunião do PT o assunto é o mesmo: é preciso melhorar a relação do governo com o Congresso", disse o senador Jorge Viana (AC). "É preciso ter mais gente ajudando na articulação política", disse.
Os parlamentares veem com bons olhos uma possível indicação do ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e do governador da Bahia, Jaques Wagner, para o núcleo duro político do governo. Wagner, no entanto, tem se queixado a petistas da demora da presidente para definir qual será seu papel na gestão.
Diante das reclamações, Dilma e Lula chamaram Wagner para participar de um almoço na quarta-feira, para tratar da articulação política e governabilidade no segundo mandato. Participaram também Mercadante e o presidente do PT, Rui Falcão. Berzoini foi chamado, mas teve de cuidar pessoalmente das últimas articulações para garantir o desfecho da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso e não pode ir.
Depois da reeleição apertada de Dilma, Lula passou a ter uma atuação mais intensa na articulação política do governo federal. O encontro do ex-presidente com a presidente foi o terceiro em Brasília, depois da eleição, para definir a montagem da nova equipe ministerial e governabilidade. Um dia antes, na terça-feira, o ex-presidente reuniu-se com 34 embaixadores de países africanos, para discutir as relações entre Brasil e África.
Em São Paulo, o petista tem se reunido com frequência com petistas e lideranças de partidos aliados e no mês passado chegou a convocar uma reunião da bancada petista do Senado para afinar o discurso contra a oposição.
"A relação que Dilma tem com Lula é única. Eles se reúnem a cada 20 dias e o papel dele é muito importante. Estamos enfrentando um embate com uma temperatura muito alta e Lula é um craque na política", disse Viana.
Na conversa, Lula falou a parlamentares sobre a possibilidade de cristalização da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara se o PT demorar para definir quem apoiará na disputa. Segundo relatos, Lula teria falado dos riscos de o governo se desgastar como foi em 2005, quando a bancada petista estava dividida e perdeu a disputa para Severino Cavalcanti (PP-PE).
Alguns parlamentares defenderam um eventual acordo com Cunha e a aplicação do rodízio entre PT e PMDB na presidência da Casa. O PT ficaria agora com a primeira vice-presidência e daqui a dois anos lançaria candidato.
No encontro com parlamentares, houve muitos elogios à equipe econômica, mas críticas à possível indicação da senadora Katia Abreu (PMDB-TO) ao Ministério da Agricultura. Parlamentares apontaram que a senadora não é consenso nem dentro da bancada ruralista.
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