quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Em entrevista, FHC compara governo Temer a pinguela

• Ex-presidente da República e presidente do PSDB, tucano disse ainda, ao blogueiro Josias de Souza, do UOL que seu partido faz parte da 'velharia' política que dificulta a modernização do País

Karla Spotorno - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente e tucano Fernando Henrique Cardoso afirmou que o seu partido, o PSDB, faz parte da "velharia" política que dificulta a modernização do País, em entrevista publicada nesta quarta-feira, 7, no blog do jornalista Josias de Souza, do UOL. Para ele, o PSDB e o PT perderam o "frescor" que tinham na década de 1990. O problema da classe política no Brasil, diz o tucano, não é uma dicotomia entre direita e esquerda. É, isso sim, um problema cultural. "São pessoas que querem tirar proveito do Estado", argumentou.

Ao blogueiro, FHC comparou a gestão do presidente Michel Temer (PMDB) a uma pinguela - "Se quebrar, cai no rio". "O que nós temos que ver é se ele (Temer)tem capacidade de, tendo as características que tem, de se transformar em alguém que, mais do que tudo isso, é líder (...) e força o avanço", disse o tucano, que considerou "um erro" o apoio de Temer ao reajustes salariais para 14 corporações de servidores públicos.

"Ironicamente", escreve o jornalista, o mesmo FHC que batalhou pela aprovação da reeleição aconselha Temer a fugir dessa alternativa. "A entourage sempre quer que o presidente se reeleja. Acho que o Michel tem maturidade suficiente para escapar dessa armadilha", diz Fernando Henrique.

Sobre o impeachment da petista Dilma Rousseff, o ex-presidente argumentou que a queda da petista teve motivações que vão além das pedaladas fiscais e dos gastos sem amparo legislativo: "A Dilma é uma pessoa que não tem o treino para falar ao País, ela não tem essa vocação. E muito menos para ouvir o Congresso", afirmou.

FHC afirmou ser contra a manutenção da habilitação a cargos públicos da presidente afastada. E criticou a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, de deferir a fragmentação da votação do impeachment e também o apoio dado pelo presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. "Foi um absurdo", disse o tucano.

Sobre o também ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), FHC afirmou que "hoje a confiança no presidente Lula é relativa". O tucano descrê, por exemplo, das alegações feitas pela defesa de Lula nos casos do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá, imóveis sob investigação pela força-tarefa da Operação Lava Jato. Ele acredita que o petista pode vir a ser preso, o que considera "uma questão delicada do ponto de vista político".

Sobre as próximas eleições presidenciais, FHC não descarta a possibilidade de surgir uma versão nacional de Donald Trump, candidato à presidência dos EUA. "Eventualmente, pode um demagogo aparecer aí e levar a melhor. Eu espero que não. Mas pode. Nós vivemos um momento de interrogação."

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