quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Míni, míni... míni? – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Na primeira entrevista como presidente efetivo, no lobby de um hotel de Hangzhou, Michel Temer foi questionado sobre as manifestações que começavam a pipocar contra seu governo. "As 40 pessoas que quebram carro?", ele desdenhou.

Refestelado numa confortável poltrona de couro, o presidente classificou os protestos como "inexpressivos". "Foram grupos pequenos e depredadores, né? Não foi uma manifestação democrática", menosprezou. "São 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso. No conjunto de 204 milhões de brasileiros, acho que isso é inexpressivo", disse.

Os repórteres enviados à China repetiram a pergunta a José Serra. "Manifestações aonde?", debochou o ministro. Ao ser lembrado de que o governo começava a ser alvo de protestos em várias cidades brasileiras, ele voltou a esnobar os atos. "Míni, míni, míni, míni, míni, míni", disse.

Ao jornal "El País", Serra arriscou uma conta parecida com a do chefe. "São muito pequenas, quase nada. Cinquenta, cem pessoas".

No dia seguinte às declarações, cerca de 100 mil pessoas marcharam em São Paulo contra o governo. Assessores de Temer reconheceram que ele errou ao depreciar os protestos. Para eles, o presidente passou imagem de soberba e ajudou a inflamar quem estava insatisfeito.

Subestimar a rua não é uma boa tática para governantes impopulares. Em 1992, Fernando Collor chamou a oposição de "minoria que atrapalha" e instou o povo a se vestir de verde e amarelo para defendê-lo. Uma multidão preferiu sair de preto, com os resultados conhecidos.

Nesta quarta (7), Temer foi alvo de vaias e gritos de "Fora" no desfile militar em Brasília. Protegidos por um forte esquema de segurança, seus ministros voltaram a zombar dos manifestantes. "Que protesto? Quinze pessoas?", perguntou Geddel Vieira Lima. "Não havia mais de 18", provocou Eliseu Padilha. À noite, o presidente ouviria outra vaia no Maracanã. E não foi míni.

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