• Temer quebra o protocolo ao não usar faixa presidencial; houve protestos em 25 estados e no DF
- O Globo
-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Em seu primeiro evento a céu aberto desde que tomou posse como presidente da República, Michel Temer foi recebido com vaias e aplausos ao chegar ontem à tribuna de autoridades para acompanhar o desfile de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios. Quebrando o protocolo, ele não usou a faixa presidencial. Um grupo de manifestantes numa arquibancada, a cerca de cem metros da tribuna de autoridades, gritou “Fora, Temer!” e “golpista”, quando ele e sua mulher, Marcela, saíram do carro oficial e foram para a área reservada.
Protestos contra o novo governo foram registrados ontem em 25 estados e no Distrito Federal. Políticos como Gilberto Carvalho, ex-ministro do governo Dilma Rousseff, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), participaram de manifestações.
Em Brasília, as vaias e os gritos contra o presidente partiram de uma área reservada a convidados de funcionários do Palácio do Planalto. Em meio a populares vestidos de verde e amarelo e com bandeiras do Brasil, o grupo se levantou e começou a gritar e cantar palavras de ordem contra Temer. Outro grupo, também na mesma arquibancada, aplaudiu a chegada do presidente e, momentos depois, passou a gritar “Nossa bandeira jamais será vermelha”, um dos bordões que marcaram os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma. No final do desfile, o grupo anti-Temer voltou a gritar “fascistas, golpistas, não passarão” e “fascistas, golpistas, não governarão”.
Após o desfile militar, o tradicional ato de protesto “Grito dos Excluídos” se transformou em passeata contra o governo. Segundo a Polícia Militar, havia 2,7 mil manifestantes. Entre eles estava Gilberto Carvalho: — Sou cidadão e não posso ficar de fora. Diversos movimentos se uniram ao protesto, como MST, sindicatos, entidades estudantis e coletivos de feministas. Um grupo de manifestantes agrediu profissionais da imprensa e uma pessoa foi detida pela polícia.
Em São Paulo, houve três protestos contra Temer e, ao contrário do que ocorreu nas manifestações dos dias anteriores, sem registro de violência. De manhã, enquanto 30 mil pessoas acompanhavam o desfile de 7 de Setembro no Anhembi, o “Grito dos Excluídos” se dividiu entre a Praça da Sé e a Avenida Paulista.
O protesto da Paulista, convocado por líderes sindicais, foi o mais cheio, com cerca de 15 mil pessoas, segundo a organização do ato. A Polícia Militar não divulgou estimativa de público. Participaram lideranças do PT como o ex-senador Eduardo Suplicy e o prefeito Haddad. À tarde, houve uma manifestação “Fora, Temer” na Sé. Segundo os organizadores, três mil pessoas se reuniram. A PM não estimou o público.
No Rio, pouco depois de 11h, após encerrada a parada militar na Avenida Presidente Vargas, a PM liberou parte da via para uma manifestação contra o governo Temer e as reformas tributária e trabalhista. Participaram militantes de centrais sindicais, como a CUT e a CTB, movimentos sociais, como a Fist (Frente Internacionalista dos Sem Teto), e partidos políticos de esquerda, como PT, PSOL, PCdoB, PCO e PCB
Pouco após das 13h, o protesto chegou à Praça Mauá, onde se dispersou. O ato ocupou alguns quarteirões do trecho final da Avenida Rio Branco, entre a Avenida Marechal Floriano e a Praça Mauá. A PM não deu estimativa de presentes.
Ministros do governo Temer minimizaram os protestos. Para o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, trata-se de um “resquício de inconformismo” com o impeachment, algo já esperado.
— Existe ainda um resquício de inconformismo, mas sob o ponto de vista legal e político, não se discute mais a legitimidade do governo. É uma demonstração muito tênue do que foi uma esperança antes de todo o processo de impeachment, que para nós é uma fase superada. Não se olha para trás — disse Padilha.
Para o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o fato de manifestantes em Brasília estarem no palanque de convidados do Palácio do Planalto para o evento mostra o caráter democrático do governo.
— Faz parte da democracia.
(Jailton de Carvalho, Eduardo Barretto, Júnia Gama, André de Souza, Renata Mariz, Danilo Fariello, Stella Borges, Luiza Souto e Miguel Caballero)
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