quinta-feira, 8 de setembro de 2016

De novo as ruas? - Alberto Aggio

As manifestações que ocorreram no final de semana contra o governo foram mal compreendidas pelo Presidente Temer e até mesmo por políticos experientes, como o ministro José Serra. Ambos deram palpites infelizes e, equivocadamente, mais tarde, se convocou o ministro da Fazenda, Henrique Meireles para amenizar. As manifestações tiveram alguma importância e impacto apenas em São Paulo. Pelo numero de manifestantes, se fizermos um cômputo nacional, sua significado fica bastante comprometido. Houve manifestações muito pequenas no Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador. Não há noticia de manifestações em importantes capitais como Recife, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Goiânia. Se nos referirmos a cidades importantes como Guarulhos, Santos, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, Campinas, Joinville, Ilhéus, Caruaru, para mencionarmos apenas algumas, o fracasso é retumbante.

O que querem os manifestantes? Que Temer saia da Presidência. Pedem a ele que convoque um plebiscito para o dia 2 de outubro, data das eleições municipais. Alguém crê efetivamente que isso vá acontecer? Claro que não. Mesmo com manifestações diárias, trata-se, ao que tudo indica, de uma tarefa impossível. Afirmar que permanecerão nas ruas até Temer sair do governo, parece mais bravata do que algo para ser levado a sério. Por enquanto, o que se vê é apenas uma reação daqueles que foram derrotados no impeachment e não um movimento nacionalmente organizado, com força, vigor e orientação política efetiva, que passe credibilidade ao conjunto da sociedade.

Se as manifestações forem mantidas e se tornarem verdadeiramente contínuas, mas não houver demanda ao Congresso solicitando a antecipação das eleições, é praticamente impossível imaginar que os manifestantes possam obter alguma vitória. Nenhum movimento de rua conseguiu algo no Brasil de costas para o Parlamento; o exemplo das “jornadas de 2013” é eloquente nesse sentido: foi um movimento difuso, sem saldo político organizacional, ainda que simbolicamente tenha evidenciado a apartação entre o nosso sistema político e a sociedade. Por outro lado, na atual conjuntura política pós-impeachment, é bastante improvável também que qualquer demanda de antecipação das eleições presidenciais seja aprovada pelos votos de deputados e senadores. Assim, se ponderarmos bem, não há boas previsões para que os manifestantes consigam aquilo que seus lideres dizem que querem obter. Se os primeiros não têm consciência disso, os segundos sabem dessas circunstâncias perfeitamente.

Claro que existe o processo de cassação da chapa Dilma/Temer em andamento no TSE. Contudo, pelas previsões de quase todos os observadores e mesmo com a pressão ainda frágil das ruas, não há muita probabilidade de que se venha a dar celeridade a esse julgamento, pelo menos até o final do ano, prazo necessário para que ocorram novas eleições diretas para presidente. Passado o final do ano, se a chapa for condenada e Temer afastado definitivamente, haverá a convocação de eleições indiretas, de acordo com a Constituição – evidentemente que se poderá conspurca-la como foi feita na votação desmembrada por Lewandowski, para se alcançar tal objetivo. A cassação da chapa Dilma/Temer conta até com sugestões nonsense nas quais Dilma poderia, com perfeito conhecimento de causa, delatar a corrupção eleitoral da campanha de 2014 e incriminar também a Temer. Ocorre que, por óbvio, nessa situação, ela também seria incriminada, tornando tal encaminhamento bastante improvável.

Mesmo que atual “reação” das ruas se transforme em movimento, ao que parece, há alguns timings a serem cumpridos. Seus dirigentes e organizadores têm plena consciência disso e sabem o que fazem. O objetivo é um só: fazer agitação até as eleições municipais para tentar reverter na sociedade a ofensiva que terminou no impeachment, visando não perder de maneira tão acachapante as eleições municipais. Para seus líderes é preciso conectar a narrativa do golpe à repressão da PM e à condenação sans phrase de qualquer reforma que possa instituir um novo caminho para o país sair do atoleiro em que o PT o meteu.

No corpo da narrativa petista e filopetista, o governo é “ilegítimo” e Temer um presidente “usurpador”. Nessa situação, a radicalidade das palavras poderia sugerir a contestação da legitimidade de eleições municipais realizadas nesse contexto. No entanto, essa radicalidade não faz parte da retórica que predomina nas ruas. Não se pode esquecer que as lideranças dos partidos que estimulam essas manifestações têm interesse no êxito de seus candidatos nas eleições municipais.

É ilusória a expectativa de que possa se dar algo similar a Praça Tahrir ou ao movimento popular ucraniano, que permaneceu acampado por meses para derrubar o governo. Não tenham dúvidas que os organizadores do protesto sabem e lidam com seus limites. Para além das palavras de ordem, o que se vê é que, na verdade, o "Fora Temer" não é para valer. Ele serve apenas ao propósito de manter a narrativa do golpe em cena com o intuito de possibilitar a retomada da ofensiva das forças que foram desalojadas do poder pelo impeachment. 2016 é uma etapa intermediária, visando o longo caminho até 2018.

É em torno das eleições municipais e das expectativas de reorganização da esquerda, em função do enfraquecimento do PT, que se trava a batalha política do dia. O petismo sabe que não pode promover um “assalto aos céus” e o governo também sabe que um acúmulo de erros de decisão pode enfraquecê-lo, dramatizando mais ainda o cenário atual, comprometendo o futuro imediato do país.
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Alberto Aggio é presidente da FAP

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