Havia uma quase unanimidade entre os economistas a favor da redução da taxa básica de juros (a Selic) pelo Banco Central. Formou-se, antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada, uma verdadeira torcida favorável à medida e, desta vez, é bom que se diga, não apenas da parte dos políticos. A decisão do BC, portanto, não pode ser considerada extemporânea ou contrária à tendência majoritária do mercado.
Uma análise cuidadosa do comunicado emitido pelo Copom, após a reunião, mostra que uma leve queda na projeção de inflação para 2017 e a melhora no balanço de riscos fiscais depois da aprovação em primeiro turno da PEC do Teto do Gasto na Câmara dos Deputados deram o conforto que os diretores do BC precisavam para promover o primeiro alívio monetário depois de quatro anos. A inflação projetada para 2017 no cenário de referência caiu de 4,4% para 4,3% desde fins de setembro.
Com esse apertado espaço e o ajuste fiscal ainda em estágio inicial, o BC decidiu reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual. Os juros estavam no patamar de 14,25% ao ano desde julho de 2015. Antes, a Selic tinha subido sete pontos percentuais a partir de abril de 2013 - o mais longo ciclo de alta desde o início da política de metas para a inflação.
A sociedade respira aliviada com a decisão do Banco Central, principalmente porque a economia brasileira está mergulhada na maior recessão de sua história, com uma contração de quase 7%. O desemprego atinge níveis alarmantes, com mais de 12 milhões de brasileiros sem ocupação, e a renda dos trabalhadores despenca. Há indicações de que a atividade econômica está um pouco abaixo do esperado, ou seja, a recuperação não aconteceu no ritmo inicialmente previsto.
Há muitas interrogações sobre a trajetória futura da taxa de juros. O próprio Copom cita, em seu comunicado, dois fatores que poderão definir a magnitude da flexibilização monetária e o seu ritmo. Ele considera necessário, em primeiro lugar, que "os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada". Uma tradução dessa frase parece ser de que a autoridade monetária espera que a inflação dos serviços ceda.
Os diretores do BC esperaram ainda que o ritmo de aprovação e implementação das medidas de ajuste da economia possam contribuir para a dinâmica inflacionária compatível com a convergência para a meta. Eles admitem, no entanto, que esse processo "envolve incertezas".
O comunicado do Copom, portanto, não reforça o otimismo exagerado que tomou conta de setores do mercado. Alguns analistas projetam cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do colegiado, baseados apenas na esperança de que a queda recente do IPCA se mantenha nos próximos trimestres. Por enquanto, os dados não permitem essa conclusão.
A prévia do IPCA de outubro, conhecida como IPCA 15, ficou em 0,19%, a menor para este mês desde 2009. Mas boa parte desse arrefecimento se deve à devolução dos aumentos excepcionalmente elevados nos preços dos alimentos ocorridos em meados deste ano. O que não está claro até agora é se haverá uma desinflação consistente em itens do IPCA mais ligados à atividade econômica, como os preços de serviços. O BC sugeriu que o mercado acompanhasse a evolução de uma espécie de núcleo de preços de serviços e, por esse indicador, a inflação mostra surpreendente resistência.
A leitura mais adequada do comunicado do Copom parece ser a de que a autoridade monetária vai conduzir uma distensão monetária cautelosa, mais segura. E reavaliar a sua estratégia à luz de novas informações sobre a inflação de serviços e, sobretudo, encaminhamento e aprovação das reformas fiscais.
Neste sentido, o governo Michel Temer tem um papel fundamental para que o ciclo de afrouxamento monetário se sustente nos próximos meses e, mais do que isso, seja feito com o vigor necessário para retirar a economia da recessão. Se houver essa determinação do governo Temer e o apoio do Congresso, a sociedade terá confiança de que, mesmo com a queda dos juros, prevalecerá a estabilidade monetária que permita o planejamento, os investimentos e o consumo das empresas e famílias.
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