Por Cristian Klein e Robson Sales – Valor Econômico
RIO - Embora à frente nas pesquisas de intenção de voto, o candidato à prefeitura do Rio Marcelo Crivella (PRB) começa a última semana de campanha nas cordas. O senador precisará conter a reação desencadeada por denúncias na imprensa e terá que se defender como puder da sequência de ataques preparados pelo adversário Marcelo Freixo (Psol), que se especializou na campanha negativa para reduzir a vantagem do concorrente.
De acordo com Tarcísio Motta, vereador eleito pelo partido e um dos coordenadores da campanha, uma reunião no sábado à noite delineou a estratégia que será adotada para aproveitar, na propaganda eleitoral, a reportagem divulgada pela revista "Veja" no fim de semana. A ideia é mostrar que a credibilidade de Crivella está sendo construída em cima de mentiras - ou omissão de fatos de sua vida -, mas sem levar o caso para o "punitivismo". "O problema não é ele ter sido fichado pela polícia. Isso não o condena para toda vida. Pode ter se arrependido. O problema é ter escondido isso da população para fabricar um personagem que não existe, com mãos limpas espalmadas. E isso tem sido uma regra", afirma Motta, que cita ainda o livro publicado pelo senador em 2002 e vídeos na internet como peças que o adversário procura esconder, e que revelariam o verdadeiro Crivella.
Na edição deste fim de semana, a revista "Veja" estampou em matéria de capa com circulação para o Estado do Rio duas fotos de Marcelo Crivella fichado pela polícia. As imagens eram desconhecidas e, segundo a publicação, foram escondidas pelo candidato por 26 anos. As fotos, de frente e de perfil, com data de 18 de janeiro de 1990, foram feitas depois que Crivella tentou retomar à força um terreno da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), na zona sul do Rio, que havia sido ocupado por uma família. Segundo a reportagem, o então pastor e engenheiro da Iurd chegou ao local acompanhado de quase dez capangas e o próprio Crivella, munido de um pé-de-cabra, arrombou a porta da casa.
"Ele enfrentou com capangas algo que deveria ter sido resolvido pela Justiça", afirma Motta.
Uma das principais aliadas de Crivella, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR) criticou os meios de comunicação e minimizou o episódio. "Ele não foi preso. A própria Polícia Civil disse que esse procedimento não se adota mais", diz a deputada, ao argumentar que Crivella foi fotografado, mas ficou apenas algumas horas na delegacia. Em sua opinião, o fato mais grave é a revista ter publicado uma capa negativa para Crivella, especialmente para o Rio, enquanto a capa da edição nacional, sobre a prisão de Eduardo Cunha, circulou pelo país, mas não no Estado do ex-presidente da Câmara.
Ontem, reportagem de "O Globo" mostrou que Crivella teria sido citado na delação premiada do ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque. Segundo o depoimento, o senador teria se beneficiado de recursos desviados da estatal. De acordo com a matéria, durante a campanha ao Senado em 2010, Crivella procurou Graça Foster, então diretora de Gás e Energia da Petrobras, e pediu ajuda financeira. Foi encaminhado para Duque e recebeu cerca de R$ 12 milhões em caixa dois. Os recursos teriam servido para o pagamento de 100 mil placas de campanha.
Em nota, a assessoria de imprensa disse que "o senador Marcelo Crivella nunca teve banners pagos pelo esquema que fraudou a Petrobras nem pediu qualquer ajuda para Graça Foster em 2010 e em ano algum". Admite, porém, que "como senador, já esteve com vários diretores da Petrobras tratando dos interesses do Rio de Janeiro".
"O Crivella está sob ataque", afirma o cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) Ricardo Ismael. "Ele entra na última semana da campanha aguardando a repercussão desses episódios. Há uma série de especulações que no final das contas, mesmo que muita gente diga que não há nada de grave, deixa uma suspensão no ar", completou.
"A questão é saber como vão reagir os eleitores de baixa renda e baixa escolaridade. Eles estão expostos a essa capa da "Veja" que foi parar nas bancas de toda cidade", ponderou Ricardo Ismael. Crivella é mais forte justamente nessa faixa de eleitores, principalmente na zona oeste da cidade.
A última pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope na quinta-feira apontou que a diferença entre Crivella e Freixo caiu de 26 para 17 pontos percentuais em relação à pesquisa divulgada dez dias antes. Do total de votos válidos, o candidato do PRB tinha 61% e o do Psol, 39%.
Na semana passada, reportagens já haviam detalhado o tratamento dado por Crivella em livro publicado em 2002 a católicos, fiéis de religiões de matriz africana e homossexuais. Vídeos na internet também lembram discursos do candidato dentro de igrejas indicando aspirações políticas da Universal do Reino de Deus.
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