O desfecho da eleição na Câmara dos Deputados prenuncia certa tranquilidade para o governo de Michel Temer (PMDB) e escancara o contraste com o início do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).
Verdade que já se notavam as diferenças na disputa dentro do Senado, na quarta-feira (1º). Há dois anos, Renan Calheiros (PMDB-AL) reelegeu-se presidente da Casa com o apoio do Planalto e apenas 49 dos 81 votos possíveis. Agora o comando passou às mãos do governista Eunício Oliveira (PMDB-CE) com o endosso de 61 parlamentares.
A comparação, entretanto, mostra-se ainda mais favorável à gestão Temer quando se avalia o comportamento dos deputados. Em 2015, a então presidente Dilma apostou suas fichas em Arlindo Chinaglia (PT-SP) e perdeu para ninguém menos que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que obteve 267 votos.
Na última quinta (2), Rodrigo Maia (DEM-RJ) despontou como candidato de Temer e foi sufragado por 293 de seus colegas.
A simples presença de dois aliados à frente do Legislativo já deve bastar para eliminar arestas como as enfrentadas pela petista. Que Eunício e Maia tenham alcançado votações tão expressivas apenas realça o sossego do Executivo.
Talvez ainda mais importante seja a mudança de perfil. Enquanto Dilma esteve às voltas com a prepotência e os métodos intimidatórios de Cunha, o presidente Temer conviverá com um deputado que, em artigo publicado nesta Folha, asseverou: "Não podemos agir no sentido de acirrar conflitos ou de estimular discórdias".
Não à toa, Maia aproveitou seu primeiro evento após ser reconduzido à presidência da Câmara para reforçar o compromisso de seu partido e do PSDB com a necessária agenda de reformas apregoada por Temer —entre as quais estão a da Previdência e a trabalhista.
Se o governo parece ter conquistado paz no campo político, o mesmo não se pode dizer da seara judicial. Em tempos de Operação Lava Jato, o risco de turbulências sempre existe —especialmente porque tanto Eunício Oliveira como Rodrigo Maia tiveram seus nomes mencionados por ex-executivos da construtora Odebrecht.
Com o esperado avanço das investigações e a presumível instauração de ações penais contra diversos parlamentares, é de imaginar que deputados e senadores darão atenção especial a projetos que procurem esterilizar a Lava Jato.
Uma coisa é o governo aproveitar-se do clima de harmonia para dar impulso à pauta legislativa que interessa ao crescimento do país. Outra, bem diferente e inaceitável, é valer-se da situação favorável para enterrar o combate à corrupção. A sociedade estará atenta.
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