• Ex-presidente se emocionou em discurso durante o velório da ex-primeira-dama
Ana Paula Ribeiro, Gustavo Schmitt | O Globo
SÃO PAULO — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sua mulher, Marisa Letícia, morreu triste e foi vítima de atos de "canalhice" e "imbecilidade". Em discurso feito no final do velório da ex-primeira-dama, ele afirmou estar com a consciência tranquila e que não precisa provar que é inocente.
— Marisa morreu triste pela canalhice que fizeram com ela e a imbecilidade e a maldade que fizeram com ela...Tenho 71 anos. Eu vou viver muito porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandades contra a Marisa tenham um dia a humildade de pedir desculpas a ela — disse, durante velório realizado no salão principal do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
Em um tom sereno e se emocionando por diversas vezes, Lula fez um discurso que durou cerca de 20 minutos e reafirmou que não tem medo de ser preso e quem o acusa é que precisa juntar provas contra ele.
— Se alguém tem medo de ser preso, quero dizer que esse que está enterrando a sua mulher não tem. Tenho consciência tranquila. Tenho certeza da consciência e do trabalho da minha mulher. Não sou eu que tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam provar que as mentiras que eles estão contando são verdade.
Querida companheira Marisa, descanse em paz, porque o seu "Lulinha Paz e Amor" vai continuar brigando muito — afirmou, ao se despedir da mulher.
Ao fundo do salão do sindicato foi colocada uma foto de Lula e Marisa juntos. Com a imagem ao fundo e ao lado do caixão da mulher, Lula contou que foi ele quem escolheu o vestido que a estava sendo enterrada.
— Eu vou continuar agradecendo a Marisa até o dia que eu não puder mais. Até o dia que eu morrer e espero encontrar com ela com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo e não vai ter morto. Ela está com uma estrelinha do PT no seu vestido e eu tenho orgulho desta mulher — disse o ex-presidente.
O ex-presidente lembrou que dona Marisa ajudou a angariar fundos para partido na época de sua fundação vendendo camisetas e outros itens nas ruas de São Bernardo, berço político do partido.
— Ela ficava na praça Matriz com outras companheiras vendendo bandeiras, camiseta para a gente construir o partido que a direita quer destruir — disse.
No início da cerimônia ecumênica, que reuniu representantes da Igreja Católica, protestante e umbandistas, foi exibido um vídeo que mostrava declarações de Lula e Marisa sobre o início do relacionamento dos dois. Eles eram casados há 43 anos.
Na primeira parte de seu discurso, Lula lembrou por diversas vezes momentos que passou junto a Marisa, tanto da época que era sindicalista como já no período em que era presidente da República. Em uma das falas, lembrou de sua mãe, dona Lindu.
— Eu e Marisa nunca brigamos. Já brigava muito no partido. Eu aprendi com minha mãe, uma analfabeta, a nunca levantar a voz para uma mulher. Ela dizia: sua mulher é sua parceira e nunca levante a mão. Ela estava ensinando o filho como se tratava a parceira da gente — disse.
Por diversas vezes, destacou a importância de ter a mulher ao seu lado, como conselheira e como a responsável pela criação dos filhos do casal, e lembrou de momentos que passaram juntos no Palácio do Alvorada, na época em que era presidente.
— A obra mais importante que a mulher de um presidente pode fazer é dar segurança ao Presidente da República para ele não fazer bobagem. No fundo, ela era mais que ministra. Em casa, a gente sentava, jantava, conversava e ela tinha muito mais importância que os ministros. Ela falava: você não esqueça nunca de onde você veio e para onde você vai.
Ao fim do discurso, Lula recebeu aplausos e ouviu palavras de ordem como "Marisa guerreira da pátria brasileira" e "Lula guerreiro do povo brasileiro". O ex-presidente chorou muito e foi interrompido por um bispo que participou do culto ecumênico, que pediu que ele descanse a partir de amanhã.
— O Brasil precisa muito de você.
Uma outra cerimônia reservada à família ocorreu no Cemitério Jardim das Colinas, também em São Bernardo, local da cremação.
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