- Folha de S. Paulo
Um grampo incendiou o país e teve papel determinante na deposição de seu mandatário. A frase poderá valer para a gravação feita por Joesley Batista, caso o presidente Michel Temer, já debilitado, seja cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou forçado a renunciar com a perda de apoio político no Congresso.
A mesma sentença, porém, já faz parte de capítulo da história recente. Em março de 2016, o país conheceu o conteúdo de conversas entre a então presidente Dilma Rousseff e seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Elas foram divulgadas pelo juiz Sergio Moro às vésperas da nomeação de Lula para a Casa Civil.
Meia hora após a liberação das gravações, as cercanias do Palácio do Planalto foram tomadas por manifestantes. Cerca de 15 mil se aglomeraram.
A Polícia do Exército se posicionou dentro e fora do Planalto, com escudos e cães. Dilma foi retirada pela porta dos fundos. O que se seguiu a esse evento todos sabem.
O país também ficou em estado de torpor com os grampos de Joesley. Divulgados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo, lançaram sobre Michel Temer veneno semelhante ao que selou o destino de Dilma. Não houve, contudo, a mesma mobilização popular.
Àquela altura, a petista havia perdido parte substancial do apoio no Congresso e os principais agentes econômicos não apostavam nenhuma ficha em seu mandato. A esse caldeirão somou-se a permanente pressão das ruas pelo impeachment. Ela caiu.
A corda em que Michel Temer se equilibra é bamba, mas o peemedebista ainda não chegou ao grau de debilidade que tornou a queda de Dilma inevitável. Temer ainda tem apoio de parte do empresariado —precário e firmado em torno das reformas— e não há, hoje, uma aliança estruturada em nome de sua substituição.
O PSDB se moveu cedo demais, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que desponta como opção, não quer passar para a história como traidor. Enquanto esses atores não se organizam, Temer sobrevive —agonizante, é fato, mas sobrevive.
Que força poderia acelerar o pacto por sua queda? As ruas. Mas nem fora do Congresso parece haver acordo em torno da agenda que poderá dar cabo do mandato de Temer.
A esquerda está empenhada nas Diretas-Já e a direita tenta traçar o caminho para que o Congresso escolha seu sucessor. Para não sujarem as mãos, aliados do peemedebista pressionam por uma solução capitaneada pelo TSE.
Querem que o tribunal casse seu mandato no esteio da ação contra a chapa pela qual ele se elegeu. O julgamento começa neste 6 de junho. Sem nenhuma alteração no quadro de hoje, é provável que Temer consiga ganhar tempo. Ministros da corte enviam sinais de que não vão entregar um prato feito ao Parlamento.
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