Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - A possibilidade de uma eleição indireta para a Presidência após eventual renúncia ou afastamento de Michel Temer pode levar o PT ao mesmo dilema vivido no segundo turno do pleito para o comando da Câmara após a queda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em julho de 2016.
Na época, as opções eram Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF). O primeiro havia sido um dos articuladores da deposição de Dilma Rousseff. O segundo era ligado a Cunha. A questão que dividiu os petistas podia ser resumida assim: apoiar um arquirrival DEM que fora um dos principais defensores do impeachment, sabotando o próprio discurso do golpe, ou não votar em ninguém, aumentando o risco de ver um aliado de Cunha vencer? Dos 58 nomes da sigla, cerca de 30 foram de Maia, que acabou vencendo. O resto não apoiou ninguém.
Para a sucessão de Temer, os petistas defendem eleição direta antecipada. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderando as pesquisas, enxergam duas vantagens nisso. A primeira é a chance real de voltar logo ao poder. A segunda é driblar uma eventual condenação de seu principal líder no Tribunal Regional Federal, o que, conforme a Lei da Ficha Limpa, poderá tirá-lo disputa de 2018. Para o caso ser levado à corte, Lula precisaria primeiro ser condenado por Sergio Moro, mas ninguém trabalha com a hipótese de absolvição.
Apesar disso, petistas avaliam que a chance de eleição direta é remota. Dependeria da improvável aprovação de uma emenda constitucional - três quintos da Câmara e no Senado - ou de uma condenação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral seguida da interpretação segundo a qual a norma mais adequada a ser aplicada na sequência é um dispositivo do Código Eleitoral que, para alguns, conflita com a Constituição. Realisticamente, avalia um petista, só haverá eleição direta se surgir uma comoção popular tão grande capaz de apavorar as cúpulas dos Poderes. O clima é mobilização, mas não a esse ponto.
Com eleição indireta, o PT sabe que não tem chance de colocar um candidato próprio ou próximo para vencer. Apoiar alguém muito comprometido com a agenda liberal de Temer, como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), está fora de cogitação. Mas o ex-ministro de Lula Nelson Jobim, segundo as palavras de um experiente petista, seria "mais palatável".
Não significaria abandonar a bandeira das diretas. Mas colocar menos embaraços, não hostilizar, preservar espaço para pacificação. Uma situação assim voltaria a dividir a bancada. A diferença, afirma esse petista, é que agora Lula tende a acompanhar o processo mais de perto. "Não seria algo tão frouxo como foi na eleição de Maia."
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