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Eleição direta já é ficção; o momento requer atenção aos fatos
Há ocasiões em que não cabe resistir nem insistir; a única solução é não desistir e prosseguir. Nesse ponto está o Brasil. Recém-saído de um impeachment presidencial, o segundo no espaço de 24 anos, e já ás voltas com impedimento funcional do sucessor de Dilma Rousseff. De uma decisão dele, unilateral e intransferível, o país depende para conseguir (ou não) atravessar tempos tão infernais.
De constitucional solução quando vice-presidente, Michel Temer na Presidência tornou-se agora um obstáculo à única opção razoável para a administração da crise instalada desde a revelação daquela conversa flagrantemente delituosa com um corruptor confesso: o afastamento do presidente e a realização de eleição indireta pelo Congresso no prazo de trinta dias, nos termos da Constituição. Não tem jeito. Qualquer outro caminho é enganoso ou doloroso.
A oposição formal que há pouco deixou o poder enxovalhado de alto a baixo por evidências de corrupção, improbidade, irresponsabilidade e inépcia na administração do país, resolveu apostar no quanto pior melhor: no Congresso, aos gritos e safanões, e nas ruas mediante o patrocínio da barbárie. Condenar tais atos é preciso, mas na pratica inútil, pois esse pessoal não tem nada a perder. Involuntariamente o presidente acabou dando substância ao até então inconsistente “fora Temer”. Segurar, quem há de?
As forças de situação só podem ser assim qualificadas por forma do formalismo, uma vez que já adotam o clássico comportamento de governo em extinção, movimentando-se abertamente na busca de nomes de possíveis candidatos ao colégio eleitoral. Não se trata de uma conspiração, pois nada está sendo feito às escondidas. Trata-se de uma articulação política na acepção da expressão e em curso no entorno do presidente, que por isso se exauriu em sua autoridade. Se insistir, estará fadado ao permanente risco de ser confrontado pelo registro daquela gravação: o Temer cerimonioso quando convém não faz tanta cerimônia assim.
Alegou ter sido ingênuo no episódio, o que traduz ao mesmo tempo uma impossibilidade, dada a argúcia exibida particularmente no processo que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, e uma confissão, pois reconhece o desvio de conduta. Ainda assim, recusa a hipótese de renúncia, justificando que equivaleria a admissão de culpa. Responsabilidade essa já atestada pela existência da gravação, cuja perícia não terá o condão de apagar as falas. Houvesse essa possibilidade, seus aliados não estariam apostando fichas numa pretensa “saída honrosa” que seria a cassação no Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político e econômico. Onde a honra?
Ademais, os conteúdos de um e outro caso não se comunicam entre si. O TSE inocentá-lo para não prejudicar a economia é tão insensato quanto culpá-lo a fim de o liberar da prerrogativa de abrir caminho para a retomada da estabilidade pela via constitucional.
O caro leitor e a prezada leitora sentiram a falta do tema diretas já? O momento requer dedicação aos fatos. Não é hora de se distrair com ficções.
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