quarta-feira, 31 de maio de 2017

Mercado aposta em reformas

Apesar da gravidade da crise política e da dificuldade do governo para aprovar as reformas, o mercado financeiro ainda aposta no avanço da agenda econômica, o que explica a estabilidade na Bolsa e no dólar.

Mercado vê reformas apesar da crise

Cresce a percepção, entre analistas, de que agenda econômica avançará em qualquer desfecho político

Ana Paula Ribeiro, Luiza Souto | O Globo

-SÃO PAULO- Apesar da incerteza política, o mercado financeiro trabalha com a perspectiva de que é possível aprovar as reformas trabalhista e previdenciária, consideradas fundamentais para a retomada da economia. Essa seria a razão para a relativa calma dos mercados nos últimos dias, após passado o choque com a revelação da delação da JBS, no dia 17. No início, os analistas avaliavam que a permanência de Michel Temer na Presidência deixaria a aprovação das reformas em suspenso. 

Agora, com o avanço, ainda que gradual, das negociações para a votação das mudanças, a avaliação é que, independentemente de quem ocupar o Palácio do Planalto, há chances reais de as reformas serem aprovadas, mesmo que desidratadas em relação à proposta original.

Esse cenário reduziu a volatilidade nos negócios. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve leve alta de 0,31% ontem, e o dólar caiu 0,18%, a R$ 3,264. Os papéis da Vale avançaram 1,53% (preferenciais, sem direito a voto) e 1,92% (ordinários, com voto).

— O mercado financeiro é pragmático. Não tem candidato. Ele observa aquele que traz os benefícios econômicos — disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse que a previsão é que a reforma da Previdência seja votada em algumas semanas em plenário. Por ser uma emenda constitucional, é necessária a aprovação em dois turnos, por ao menos 308 deputados. Quanto à reforma trabalhista, a comissão especial do Senado adiou a votação do texto aprovado na Câmara para a semana que vem.

— O comportamento do mercado mostra que o investidor acredita que a agenda de reformas vai adiante, independentemente do desfecho da crise política — afirmou o presidente-executivo do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2017.

‘AGENDA DE REFORMAS É DO PAÍS’
Também no evento, o presidente-executivo do JPMorgan no Brasil, José Berenguer, disse que “a percepção do mercado é de que a agenda de reformas é do país, não de um presidente”. Autoridades do governo presentes ao evento asseguraram aos investidores que as reformas trabalhista e previdenciária serão aprovadas em breve.

Temer é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de corrupção passiva. Para muitos analistas de mercado, mesmo que ele não termine seu mandato, quem o substituir dará continuidade à agenda de reformas.

— O pior cenário é o presidente ficar sangrando no cargo — disse o analista da gestora Rio Gestão Bernard Gonin.

Em uma tentativa de mostrar que as reformas vão sair, independentemente da situação no Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou que, apesar da turbulência política, a economia continua a mostrar sinais de reação.

— A economia brasileira voltou a crescer por causa da maior segurança da política fiscal aos agentes econômicos — afirmou Meirelles no Fórum de Investimentos. — Não estamos discutindo se está ou não retomando o crescimento. Já cresceu, e isso é resultado de maior confiança e maior previsibilidade na economia.

Ele evitou, no entanto, fazer qualquer projeção em relação a um cenário de saída de Temer:

— É cada vez mais clara a resistência da economia brasileira. Minha hipótese de trabalho é a de que não vai haver mudanças. O presidente deve concluir seu mandato até 2018.

No mesmo evento, Christopher Garman, diretor da consultoria Eurasia Group, disse que a calma dos mercados pode facilitar a permanência de Temer, mas pode atrapalhar a reforma da Previdência — que, para Garman, ficará “refém da crise”.

— Estamos com a visão de que existe caminho para o governo permanecer e sobreviver à crise, mas não é o cenário mais provável — disse Garman à agência Bloomberg, acrescentando que, independentemente do desfecho da crise e da sobrevivência de Temer, boa parte da agenda tende a andar.

A Eurasia estima em 70% a probabilidade de que Temer não termine seu mandato. Com agências internacionais ‘A estratégia da indústria é sobreviver à crise,’ na página 22

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