- Folha de S. Paulo
Parte dos que se opõem à realização de uma eleição diretapara definir quem será o presidente da República na hipótese de queda de Michel Temer o faz por recear a volta de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente, afinal, aparece como favorito nas últimas sondagens, ainda que tenha contra si uma formidável rejeição.
Embora responda a vários processos, Lula está com seus direitos políticos intactos. Se houver eleição nos próximos meses, ele poderá concorrer. Mas, se o pleito só tiver lugar em 2018, a situação poderá ser outra, já que existe uma chance realista de que ele já tenha sido condenado em segunda instância, caso em que a lei da Ficha Limpa o tiraria do páreo.
Até vejo bons argumentos para deixar a eleição direta para 2018, mas o fator Lula não é um deles. Não gosto tanto da ideia de recorrer a tapetões. Penso que o melhor para a democracia é que o principal dirigente de um partido que fracassou tanto no campo ético como no administrativo seja derrotado pelo voto, não pelas regras de alistamento. Num país normal, o PT pós-impeachment passaria por uma fase de autocrítica e depuração antes de retornar como uma legenda competitiva. Mas o Brasil não parece ser um país normal.
E por que é melhor que Lula seja derrotado nas urnas e não nas cortes? Embora eu defenda com unhas e dentes a democracia, não estou entre os que por ela nutrem devoção religiosa. Não creio que o povo seja sábio e faça sempre as melhores escolhas. Ao contrário, ele é imediatista e se deixa manipular pelo populismo. A democracia funciona muito mais por disciplinar o conflito e mantê-lo dentro da institucionalidade do que pelas políticas que promove. Ainda assim, penso que, por vezes, o eleitor é capaz de aprender, mesmo que momentaneamente. Essas situações ocorrem em geral quando os cidadãos descobrem que foram enganados e rechaçam, pelo voto, grupos e ideias que não deram certo.
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