- Folha de S. Paulo
A condenação em primeira instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 71, por mais previsível que fosse, interrompe uma sequência de boas notícias para o líder petista. Acuado pela Justiça, Lula tende a ir ao ataque, apostando na imagem de que é um perseguido político pelas instituições brasileiras e fazendo disso plataforma para sua tentativa de voltar ao Planalto.
Lula já fez um ensaio geral desse discurso no caudaloso depoimento que deu a Sergio Moro há dois meses. Tal estratégia funciona muito bem para os convertidos, ou seja, os cerca de 30% do eleitorado fiéis ao petista, mas a eficácia fora desse nicho que recuperou de 2016 para cá é duvidosa.
Concorre em favor do petista, no momento encarnado como o único nome capaz de manter o PT vivo como partido político, o alto desemprego e os indicadores de desagregação social na praça —basta ver a quantidade de pessoas "atemorizadas", segundo a mais recente pesquisa do Datafolha.
A ideia lulista de associar-se a um período de bonança para os mais pobres, independentemente dos méritos do processo, promete alguma eficácia. Mas será suficiente para diminuir a rejeição na casa dos 45% amealhada por Lula? Uma condenação judicial, por mais disputada que seja, cola de vez em Lula a imagem de corrupto já apontada em levantamentos. A combinação é fatal para um segundo turno, considerando o cenário de hoje.
Além disso, é importante destacar que uma campanha agressiva contra o Judiciário pode estimular ainda mais o rigor com que as sentenças costumam ser revisadas no Tribunal Regional Federal em Porto Alegre. A que foi mais celeremente apreciada tomou dez meses dos magistrados —num exercício, se Lula tiver a condenação confirmada nesse prazo, estaria fora da disputa eleitoral de 2018.
O cálculo do PT inclui, como se sabe, essa possibilidade e a escalação de um preposto. Pode ser um petista avulso, como Fernando Haddad, ou um aliado inconfiável como Ciro Gomes (PDT). Mesmo condenado e, neste caso, talvez preso, Lula será eleitor importante.
De todo modo, está interrompida a maré de más notícias apenas para o Planalto de Michel Temer, o PMDB e o PSDB, além de outros aliados governistas. Até pelo ineditismo da sentença e da estatura pública do condenado, Lula voltará a estrelar o noticiário político-policialesco, deixando as agruras do governo em segundo plano por algum tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário