Desempenho pior em pesquisas e Lava-Jato desafiam candidatura tucana
Silvia Amorim | O Globo
SÃO PAULO — Saudade é um sentimento que os políticos não podem se dar ao luxo de ter. Mas um olhar para o passado deve fazer o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, desde quarta-feira passada o pré-candidato oficial do PSDB à Presidência, cair na nostalgia e sentir falta de sua primeira campanha presidencial, em 2006. Em março daquele ano, Alckmin tivera de vencer uma disputa interna tensa com o colega José Serra e enfrentaria um presidente Luiz Inácio Lula da Silva difícil de bater. Mas que nada. Comparado com o cenário atual, o de 2006 era menos áspero para Alckmin.
A lista das adversidades do tucano nesta pré-campanha é bem maior do que naquela — e começa em casa. Daqui 12 dias, Alckmin deixará o cargo com a mais baixa popularidade que já experimentou. Sua aprovação está em apenas 28%. Em abril de 2006, esse índice estava em 66%.
A receptividade da candidatura dele pelo eleitorado de São Paulo é vital para a sobrevivência na disputa. Político que mais tempo terá ficado à frente do governo de São Paulo —13 anos —, Alckmin conta com os dividendos dessa hegemonia para abrir uma boa vantagem de votos no estado em relação aos adversários e chegar ao segundo turno. É aí que uma segunda dificuldade, que também não existia em 2006, se apresenta. Alckmin está perdendo a eleição em seu próprio estado.
Quatro anos atrás, ele foi reeleito no primeiro turno vencendo em 644 dos 645 municípios paulistas, mas hoje perde para o deputado Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas. Em 2006, nesse período, Alckmin ocupava disparado o topo das sondagens, com 41% das intenções de voto.
Ameaçadora, a situação é monitorada por prefeitos aliados do pré-candidato com pesquisas feitas nas regiões metropolitanas do estado.
— Eleitores que votaram no PSDB nas últimas eleições estão declarando voto no Bolsonaro. Isso está acontecendo no nosso círculo de amigos, pessoas que sempre votaram no PSDB e agora estão dizendo que vão de Bolsonaro. Acredito que esse é um quadro facilmente reversível quando a campanha começar e ficarem evidente as fragilidades da candidatura do adversário — diz o prefeito de Ribeirão Preto, o tucano Duarte Nogueira.
O cenário se repete em nível nacional. Doze anos atrás, Alckmin tinha cerca de 20% das intenções de voto em abril e aparecia em segundo lugar, atrás do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje ele patina entre 6% e 11%, a depender do cenário pesquisado.
A culpa, apontam aliados do governador, é da pulverização de pré-candidatos no mesmo campo político, outra novidade. O fenômeno tirou do tucano uma aliança com o DEM, seu parceiro no passado.
Ainda como PFL, em 2006 a sigla não era uma ameaça. Pelo contrário. Foi o único partido a apoiar oficialmente Alckmin na eleição presidencial. Houve até um debate sobre a conveniência do lançamento de um candidato próprio ao Planalto pelo PFL, mas o contexto era o oposto de hoje. Seria uma forma de pulverizar votos e forçar um segundo turno, pois havia preocupação de que Lula liquidasse a disputa no primeiro turno. O plano, entretanto, não se viabilizou.
Hoje, o DEM tem um pré-candidato próprio, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
— A relação com o DEM é completamente diferente hoje. O partido está mais independente e isso é algo com que ele (Alckmin) não precisou lidar lá atrás. É uma dificuldade nova — afirma um dos articuladores da campanha de 2006.
DISCURSO DE CORRUPÇÃO
O rótulo de investigado na Lava-Jato engrossa a lista de adversidades inimagináveis por Alckmin em 2006. Naquela eleição, pós-escândalo do mensalão, o discurso ético de combate à corrupção foi um dos pilares de sua campanha para tirar votos de Lula. Hoje, é um recurso esquecido, pois Alckmin é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal aberto após acusações de delatores da Odebrecht.
Em seu lugar, ganhará força o debate sobre a Segurança, assunto que não interessava a Alckmin em 2006. São Paulo havia sofrido naquele ano uma onda de ataques do Primeiro Comando da Capital , o PCC, deixando a gestão tucana na berlinda. Agora o tema é usado por Alckmin como cartão de visita da sua candidatura diante da queda da taxa de homicídios no estado.
Em menor grau do que em 2006, a imagem exageradamente paulista de Alckmin é um dos problemas que resistem ao tempo. Por esse e outros motivos, ele busca um vice de outra região, preferencialmente do Nordeste. Também não muda a pressão para crescer nas pesquisas, um problema que dura 12 anos.
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