domingo, 1 de abril de 2018

Pauta conservadora impede deslocamento de DEM ao centro

Debate sobre costumes ainda pauta legenda de Rodrigo Maia, pré-candidato ao Planalto

Daniel Carvalho, Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Contra o aborto, o casamento gay e a descriminalização das drogas. Apesar de propagandear um discurso de renovação e um deslocamento em direção ao centro, a cúpula do DEM persiste em posições conservadoras no debate sobre costumes.

O partido, que há 11 anos resolveu se despir do nome PFL, agora percebeu que pode abocanhar uma parcela do eleitorado de centro —principalmente diante da crise do PSDB, antes o grande receptor desse tipo de voto.

A estratégia é atenuar o verniz tradicionalista que carimba a sigla desde o fim da ditadura e duelar com a pré-candidatura do tucano Geraldo Alckmin na tentativa de ganhar musculatura política na eleição presidencial.

Dirigentes da sigla, no entanto, admitem que o discurso sobre costumes pouco mudará e que o foco da sigla deve se centrar na implementação de políticas públicas consideradas progressistas.

Os exemplos que serão mais citados são as cotas para o concurso público em Salvador, do prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto, e a resolução que permite transexuais e travestis usarem o nome social nas escolas, chancelada pelo ministro Mendonça Filho (Educação).

Pré-candidato à Presidência pela legenda, Rodrigo Maia fala em “fim de um ciclo da velha política” e se diz contrário a três principais temas quando se fala de costumes.

À Folha Maia afirmou que a legislação sobre aborto é satisfatória e se posicionou contra a descriminalização das drogas e o casamento gay. Para ele, a expressão casamento cria um “conflito desnecessário com os cristãos”.“A união civil resolve o problema.”

A ala mais conservadora do DEM no Congresso, formada por integrantes da bancada evangélica, diz que não está disposta a ceder nesses temas e verbaliza, inclusive, que o discurso de movimento ao centro é apenas pró-forma.

“É só um discurso político para pegar voto de centro. O Brasil é cada vez mais à direita por causa dos escândalos da esquerda. Fui contra a ida para o centro”, diz o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ).

No dia em que o partido realizou convenção para oficializar o deslocamento ao centro, no início de março, Cavalcante apresentou um projeto na Câmara que pune com até um ano de prisão homens transexuais que, sem terem feito cirurgia de redesignação sexual, utilizem banheiros femininos —e vice-versa.

Integrantes da cúpula do DEM avaliam que essa parcela declaradamente mais conservadora representa boa parte da sociedade e, por isso, afirmam, é importante manter seu espaço na sigla.

EQUILÍBRIO
Os principais dirigentes do DEM, que hoje têm entre 40 e 50 anos, tentam adotar um discurso mais moderado e argumentam que as cabeças do partido hoje são “mais contemporâneas” que as dos caciques da época do PFL.

Segundo eles, o centro não é um ponto entre a esquerda e a direita, mas um lugar em que se tem a capacidade de construir o diálogo.

“Posso ser convencido ou convencer os outros. O campo do centro não é aquele em que você abre mão do que acredita, é onde a pessoa tem equilíbrio e capacidade de diálogo”, afirma Maia.

ACM Neto vai na mesma linha. “Há opiniões que variam internamente no partido, mas isso não quer dizer que você vai rotular o partido de direita ou de esquerda por conta dessas questões de divisão de opiniões internas.”

Mentor da agenda social do DEM, Marcelo Garcia nega que o partido esteja em cima do muro.“Da mesma forma que a candidatura do Rodrigo terá um plano de desenvolvimento humano e combate à pobreza, terá um plano de direitos humanos e defesa da vida. Quem tem que descer do muro é quem não aceita debater”, explica.

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