Por Rafael Moro Martins | Valor Econômico
CURITIBA - Filiado ao MDB de Henrique Meirelles e coligado regionalmente ao PDT de Ciro Gomes, o senador Roberto Requião recebeu ontem, em sua casa em Curitiba, o candidato do PT à Vice-Presidência, Fernando Haddad. Ele tende a substituir na chapa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ser declarado inelegível. O petista, que chegou acompanhado de assessores e do fotógrafo oficial da campanha, foi recebido pouco antes das 14h na churrasqueira da casa de Requião, num bairro de classe média alta de Curitiba.
À espera dele, além do senador, estavam o ex-deputado federal petista Ângelo Vanhoni, auxiliares e uma imensa bandeja com sanduíches de mortadela - uma óbvia ironia com o apelido dado a petistas por adversários do partido durante as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Por cerca de 30 minutos, Requião e Haddad conversaram sobre as eleições presidenciais. Entre mordidas nos sanduíches, piadas sobre a qualidade da mortadela e um breve debate sobre o pensamento econômico da Universidade de São Paulo (USP), o petista ouviu do veterano senador sugestões para a campanha na internet e confessou-se surpreso com o desempenho do Jair Bolsonaro (PSL), que não dá sinais de cair em pesquisas de intenções. Ambos concordaram que a ida do candidato de extrema-direita ao segundo turno é uma hipótese real.
Haddad foi o primeiro presidenciável a ser recebido por Requião após o início da campanha. No sábado, o senador recebe Ciro Gomes, cujo partido está coligado com o MDB no Paraná.
Conhecido pela franqueza que, não raro, exacerba para a truculência, Requião disse que não receberia o candidato de seu partido ao Planalto, Henrique Meirelles. "Ele é o representante do modelo [que temos que derrotar]. Mas abri o partido para ele", falou.
"Haddad é meu amigo e candidato de oposição", falou o senador, justificando a recepção. "Por que não daria um pão com mortadela para ele? [Mas] Sábado viajo com o Ciro", lembrou - o pedetista faz campanha em Curitiba, pela manhã, e viaja a Francisco Beltrão, sudoeste do Estado, e Londrina, na região norte.
Requião também disse ver dificuldades para que Geraldo Alckmin (PSDB) tire votos de Jair Bolsonaro. "O voto nele [Bolsonaro] é também um voto contra o sistema, contra tudo isso que está aí. Haddad pode ganhar a eleição por ser um candidato viável contra um modelo que tem 98% de rejeição", argumentou, referindo-se à baixa aprovação do governo Michel Temer, apoiado pelo tucano. "Como se imagina que o Alckmin vai ganhar o voto com uma proposta a que 98% do Brasil é contra?"
Da casa de Requião, na região oeste de Curitiba, Haddad seguiu para a superintendência da Polícia Federal, no extremo norte da capital. Ali, entrou para visitar Lula por volta das 16h, onde falou sobre a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral decidir hoje se Lula poderá ou não aparecer em programas eleitorais.
"Vim especificamente para colocar para ele os cenários jurídicos possíveis, uma vez que a jurisprudência é firme a nosso favor mas vem sendo reinterpretada", disse Haddad, a jornalistas, após sair da superintendência da PF.
Depois da visita a Lula, Haddad e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, participaram de uma caminhada pelo centro de Curitiba. A data não foi escolhida ao acaso. Ontem, 30 de agosto, completaram-se 30 anos de um protesto de professores reprimido com bombas e cassetetes pela Polícia Militar, em frente à sede do governo do Paraná, comandado, à época, por Alvaro Dias, atualmente candidato à Presidência pelo Podemos e crítico contumaz do PT.
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