- O Globo
O futuro pertence unicamente aos brasileiros e não está nas mãos de um salvador da pátria, reforçam os autores no desfecho do livro
E m todas as entrevistas, sabatinas e debates de que têm participado, os candidatos à Presidência da República mais viáveis até o momento apresentam ao eleitor metas sem levar em consideração a realidade das contas públicas. Sempre que confrontados com a dissonância entre suas propostas e a falta de recursos de que se queixam com razão — o Orçamento do primeiro ano do próximo governo já está feito pelo atual Congresso, com medidas aprovadas que provocam mais gastos públicos —, todos, sem exceção, dizem que com ele no Palácio do Planalto tudo será diferente.
Não será, sabemos todos, mas há soluções não populistas que, em boa hora, aponta o livro “Apelo à razão —A reconciliação com a lógica econômica”, a ser lançado nos próximos dias pela editora Record, dos economistas Fabio Giambiagi e Rodrigo Zeidan.
O objetivo do livro é apresentar um roteiro de propostas concretas para que o Brasil deixe de flertar com o populismo, com o atraso. Embora se saiba de antemão que a maioria orgânica do Congresso, que não será renovado a ponto de esquecer velhas práticas fisiológicas, será um obstáculo a qualquer proposta que mexa com seus interesses imediatos.
O livro apresenta propostas de políticas públicas “capazes de levar o país a sair do século XX e ingressar, finalmente, no século XXI”, nas palavras dos autores. A espinha dorsal da obra é que o país tem cedido a forças retrógradas, com viés anticapitalista e determinação em manter a estrutura governamental inchada e perdulária.
Como se vê, Giambiagi e Zeidan ainda têm utopias políticas a realizar, e mergulharam na história econômica recente para demonstrar que o país se tornou refém da renda média. “Logramos, durante um período de aproximadamente 15 anos, um pequeno salto de desenvolvimento, para depois ficarmos novamente atolados, cedendo às pressões que acarretam resultados negativos para o país”, diz Rodrigo Zeidan.
Fabio Giambiagi, dos mais respeitados especialistas em Previdência, chama a atenção para a realidade demográfica e o envelhecimento acelerado da população, que necessariamente impactará negativamente a produtividade dos trabalhadores e empresas brasileiras.
Os números mais recentes indicam que, em 2060, haverá 63 indivíduos com mais de 60 anos, para cada 100 pessoas na faixa de 15 a 59 anos. O caminho é a elevação da exigência de idade para aposentadoria e o desmonte dos privilégios a determinadas categorias. Mas de difícil aceitação, como vimos nas recentes tentativas de aprovar uma reforma da Previdência.
Rodrigo Zeidan, economista brasileiro que se divide entre a China e a Dinamarca, países onde reside e leciona na New York University of Shanghai e na Copenhagen Business School, não deixa passar a oportunidade de fazer comparações entre estes e outros países e o Brasil nos aspectos político, econômico e social.
No quesito educação, o economista desmistifica o conceito de que há poucos recursos para o setor no Brasil e recomenda estratégias modernizadoras, como a criação de uma carreira competitiva para professores, com mecanismos de identificação e remuneração diferenciada aos bons profissionais.
A abertura comercial do Brasil, um dos países mais fechados do mundo, como demonstra a sua pífia participação no comércio internacional, é, segundo os autores, outro caminho necessário, mas não suficiente. É preciso também melhorar o ambiente de negócios e, sobretudo, a qualidade da mão de obra, por meio do treinamento e educação.
O próximo presidente terá questões prementes a resolver: as reformas da Previdência, tributária e política, a crise da segurança pública, desemprego e caos na saúde, com ressurgimento de doenças e aumento da mortalidade infantil, déficit escolar, produtividade da economia, e formação de mão de obra.
Mas o futuro pertence unicamente aos brasileiros e não está nas mãos de um salvador da pátria, reforçam os autores no desfecho do livro. Não à toa a palavra “razão” ganha destaque na capa do livro. As soluções propostas são duras, mas possíveis, avaliam. Falta combinar com os eleitores.
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