Isabel Versiani e Cristiano Zaia | Valor Econômico
BRASÍLIA - Depois de compartilhar, sexta-feira, um texto que apontava resistências de corporações ao seu governo, o presidente Jair Bolsonaro renovou os apelos diretos à militância por apoio, ao longo de todo o fim de semana, ao mesmo tempo em que desferiu novos ataques à imprensa e a opositores e voltou a marcar posição contra movimentos de partidos do Centrão.
O comportamento do presidente nos últimos quatro dias tem explicações múltiplas reveladas por amigos próximos e auxiliares. Informam que Bolsonaro está acuado pelo avanço das investigações do Ministério Público do Rio sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), seu filho mais velho, e agastado com a falta de resultados concretos do governo a oferecer. Por isso, culpa o Congresso e resolveu intensificar sua política de comunicação pessoal com o eleitorado, meio no qual já estão desacreditados os poderes Legislativo e Judiciário.
Ontem, o presidente publicou no Facebook uma mensagem de um pastor, que, em francês, afirmou que Bolsonaro foi escolhido por Deus para um novo tempo no Brasil. "Não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política. Quem deve ditar os rumos do país é o povo! assim são as democracias", comentou o presidente.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho mais novo do presidente, compartilhou mensagem conclamando participação em manifestação pró-Bolsonaro marcada para o próximo dia 26. É uma convocatória que divide seus correligionários. A manifestação tem o apoio dos senadores Major Olímpio (SP) e Soraya Thronicke (MS), e das deputadas Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF), mas foi condenada pelo deputado Alexandre Frota (SP) e pela deputada estadual Janaina Paschoal (SP).
Interlocutores do presidente afirmaram ao Valor, sobre a pressão do Centrão, que parlamentares pedem cargos em estatais e órgãos de segundo escalão do governo como condição para votarem a favor da reforma da Previdência e da medida provisória da reforma administrativa.
Segundo fontes, o movimento de Bolsonaro de replicar conteúdo que aponta as dificuldades para a governabilidade do país pode ser visto como uma tentativa de mobilizar apoiadores a protestarem contra o Congresso.
Um deputado próximo ao presidente afirmou que os pedidos "espúrios" nos últimos meses, incluem postos em órgãos como Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
Declarações feitas ontem pelo ex-presidente José Sarney (MDB) em entrevista ao jornal "Correio Braziliense" aumentaram a tensão no meio político, em Brasília. Sarney afirmou que Bolsonaro "está colocando todas as cartas na ameaça do caos" o que contribui para aumentar os problemas que o país vive. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) recomendou a leitura da entrevista em postagem no Twitter e acrescentou que "o atual presidente deve aprender que o país precisa de coesão e rumos".
No sábado, Bolsonaro foi à porta do Alvorada por duas vezes para confraternizar com grupos de estudantes -pela manhã, alunos de uma escola pública do Distrito Federal e, no início da noite, com estudantes de uma escola particular de São Paulo. Vestido com uma camisa da Seleção Brasileira, ele pegou crianças no colo, fez perguntas aos alunos e, na segunda saída, conversou longamente com os presentes, respondendo inclusive a perguntas dos jornalistas. Sobre o artigo compartilhado na sexta, ele afirmou que frequentemente redistribui em grupos do qual faz parte no WhatsApp textos com quais não concorda. Mas ressaltou: "Esse pessoal que divulga isso [esses textos] faz parte do povo e nós temos que ser fiéis a eles. Quem tem que ser forte, dar o norte, é o povo."
O presidente voltou a afirmar que os manifestantes que protestaram contra os cortes orçamentários para educação, na semana passada, são "idiotas úteis". Também fez críticas à imprensa: "A imprensa está aqui, não vão botar uma linha do que eu falar. Sei que vocês são funcionários, não têm poder sobre seus editores". No domingo, o presidente passou a manhã reunido com o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO). À tarde, o parlamentar fez postagens no Twitter destacando que a liderança do governo confia que o texto da reforma será aprimorado no Congresso.
"Temos certeza de que, diante da competência do relator deputado Samuel Moreira e das dezenas de emendas apresentadas pelos deputados, além das discussões amplas conduzidas pelos trabalhos do Presidente deputado Marcelo Ramos, o texto final da Comissão Especial será tão bom ou melhor que o apresentado pelo governo", escreveu Vitor Hugo.
Ele acrescentou que a liderança do governo na Câmara não terá dificuldade em encampar um texto aperfeiçoado, particularmente se ele trouxer uma economia em dez anos próxima a R$ 1 trilhão. Esse é o valor da economia embutido na proposta do governo. (Colaboraram Carla Araújo e Marcelo Ribeiro)
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