- Folha de S. Paulo
Acordo do Mercosul com UE é a última herança relevante de governos anteriores
Em seis meses de governo, Jair Bolsonaro só colheu bons frutos quando sentou no banco do carona. Pilotando o país, com projetos próprios, foi barrado pelo Congresso, pelo Supremo Tribunal Federal e viu sua popularidade cair.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul é o exemplo mais recente. Sua equipe amarrou as pontas das negociações conduzidas pelo ex-presidente Michel Temer e venceu uma corrida que durou 20 anos.
O presidente também encampou o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), responsável pelas concessões. Os leilões bilionários só ocorreram porque os projetos estavam previamente estruturados.
Na economia, o Congresso aprovou o projeto de lei que criou o cadastro positivo, outra medida de Temer. E o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, abraçou e ampliou a agenda pró-competição de Ilan Goldfajn.
Houve balbúrdia na educação e na saúde, áreas em que preceitos ideológicos causaram prejuízos. Não há um plano concreto para melhorar o ensino e faltam médicos para atender áreas carentes antes cobertas por estrangeiros, especialmente cubanos.
Até pouco tempo atrás, Bolsonaro endossava a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Mercosul não merecia atenção.
Pelo acordo, o bloco virou a menina dos olhos, deixando de ter viés esquerdista de repente, e Bolsonaro chegou a afirmar ter passado de “estatizante” a “liberal”. Também teria engolido a seco o compromisso com cláusulas ambientais que pouco antes condenou.
Esses sinais truncados geram desconfiança no Congresso, no Supremo, e em boa parte da sociedade.
Segundo o Ibope, mais da metade dos entrevistados não confia em Bolsonaro e 48% desaprovam seu jeito de governar.
Assumir bons projetos de governos anteriores deveria ser o esperado. Mas a herança está praticamente consumida, o país precisa de propostas estruturantes que, ao que parece, Bolsonaro não possui.
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